Flávio César Montebello Fabri
Bacharel em Direito, Mestre em Ciências de
Segurança e Ordem Pública, Policial Militar/SP e Escotista
Em caráter recente tive a oportunidade de presenciar um pequeno ato que me motivou a redigir este (singelo) texto. Durante um acampamento escoteiro, em um local de descarte, um velho e sujo fio elétrico foi encontrado e utilizado para uma atividade de radioamadorismo. Há uma máxima escoteira, utilizada à exaustão, mencionando “que um escoteiro, ao partir, sempre deixa o local melhor do que o encontrou”.
Pois bem, o diretor presidente (do Grupo Escoteiro Primeiro de Brownsea – 360º GE/SP), desconhecendo a origem do fio, deixou-o limpo, devidamente enrolado e depois partiu para perguntar aos demais onde havia sido encontrado ou quem o havia cedido.
Esse gesto foi feito justamente no momento em que todo o local estava sendo limpo e, por ser final de um acampamento que foi “brindado” com bastante chuva, era fácil constatar o cansaço entre os adultos.
Como dizia Thomas Brooks, já que “a mais forte das retóricas é o exemplo”, o normal nesse tipo de atividade é que os adultos forneçam exemplo aos jovens de atos de condizem com o de um cidadão responsável e útil aos demais. O resultado: robustecimento de caráter, respeito, tolerância e ações úteis.
A Teoria das Janelas Quebradas (Fixing Broken Windows) nasceu de um experimento feito nos Estados Unidos da América. Tentado resumir a teoria (havendo extensa literatura e artigos na internet a respeito), um veículo foi deixado em um local, à época, com reputação não invejável. Tal veículo que dava ensejo de ter sido abandonado, rapidamente teve peças furtadas e, depois que nada de aproveitável pudesse ser retirado, foi depredado. Um veículo similar foi deixado em uma região nobre.
O veículo se manteve intacto por dias. Os pesquisadores, então, quebraram a janela do veículo. Pouco tempo depois, ocorreu o mesmo comportamento: partes foram retiradas e o veículo foi depredado. Desse experimento (levado a cabo por Philip Zimbardo) e outros similares, James Wilson e George Kelling, publicaram na década de 1980 um artigo a respeito da “Teoria das Janelas Quebradas”.
Assim, expondo de forma breve, a Teoria indica que a ordem, limpeza, manutenção, repressão de pequenos delitos, entre outros, impediriam a degradação, vandalismo, comportamento antissocial, surgimento de crimes mais graves etc. Há posicionamentos não necessariamente idênticos sobre a forma com que foi conduzida a pesquisa ou mesmo sobre suas conclusões, mas é fato que a teoria, quando aplicada no metrô de Nova Iorque, funcionou.
Quando o diretor presidente do grupo escoteiro passou perguntando a respeito para onde ou para quem o fio deveria ser restituído, comentei com outro chefe escoteiro a respeito da Teoria das Janelas Quebradas. Disse que se ocorresse dano a um dos vidros de um veículo no acampamento, muito provavelmente seria consertado antes que o evento terminasse.
Além do Movimento Escoteiro (abordado em: Escotismo e Prevenção Primária – http://www.defesanet.com.br/pensamento/noticia/17246/Escotismo-e-prevencao-primaria/) existem vários outros que surpreendem positivamente quando o resultado esperado é que jovens assumam a iniciativa de produzir ações úteis. Entre deles (dos vários que podem ser citados), a Ordem DeMolay. Um de seus “Capítulos”, o “Sagrada Aliança” (de São Paulo /SP), apesar do relativo pouco tempo de sua fundação, já causa admiração quando se testemunham adolescentes, fora do seu horário de reunião, que se tornam proativos visitando asilos, fazendo campanhas de arrecadação para abrigos de crianças (e interagindo com estas), entre tantas outras ações nobres. Foco, incentivo e boa liderança. Palavras que fazem toda a diferença.
Como no artigo mencionado a respeito do Movimento Escoteiro, onde de uma forma simplista, explana-se sobre prevenção primária, movimentos de cunho educacional ou filosófico que propiciem o desenvolvimento dos jovens em diversas áreas, que cultuem a tolerância, respeito à individualidade e às convicções pessoais (incluindo nestas, as de credo), celebre-se o trabalho em equipe, entre outras virtudes, devem ser incentivados.
Em comum, propiciam de forma serena que jovens procurem pesquisar e interagir. Quer seja para um acampamento, quer seja para uma atividade em específico. Dessa forma, se também existe a máxima que a “ignorância é a mãe da intolerância e, como tal, deve ser erradicada”, ter jovens que considerem normal a perspectiva de se tornarem cidadãos úteis, que trabalho em equipe e respeito às diferenças são condições normais para uma atividade (e vida harmônica), que é divertido aprender algo, compartilhando e praticando com os demais, teremos no futuro, quem sabe, ao invés de pessoas que depredem um veículo, conforme o experimento citado na Teoria, uma geração que considere normal celebrar a ordem, ações positivas e pratiquem normalmente atos como recolher um objeto, como o fio elétrico, a exemplo do diretor do grupo escoteiro, o acondicione melhor do que o achou e se preocupe em achar o proprietário.
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