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O monitoramento global: abuso ou garantia de direitos

 

André Luís Woloszyn
Analista de Inteligência Estratégica


George Orwell era um escritor visionário, especialmente quando lançou sua obra de ficção “1984” elaborada na década de 40, onde  previa uma sociedade monitorada constantemente  em estado um estado policial permanente. Meio século se passou e hoje, sua ficção tornou-se parcialmente realidade, não nos padrões descritos no livro, mas bem próximos. 

Mas, é importante salientar, que há um grande equívoco por parte da maioria das pessoas quando o assunto é monitoramento de linhas telefônicas e interceptação de dados armazenados em provedores da internet, questão polêmica levantada recentemente pelo Presidente dos EUA, Barack Obama, como ferramenta de combate ao terrorismo.

Geralmente, acreditamos que alguém está ouvindo nossos diálogos a cada vez que falamos ao telefone celular ou que todos os nossos e-mails e bate papos na web são bisbilhotados por alguém em uma estrutura impossível de funcionar tal a complexidade e pessoas necessárias. Porém, esta percepção distorcida acaba gerando um sentimento de vulnerabilidade maior e permanente nos cidadãos.

O fato é que as comunicações via cabo e sinal óptico a muito tempo já são monitoradas a nível mundial pelo sistema Echelon, um projeto criado por britânicos, norte americanos e Canadenses ainda na Guerra Fria. Potentes antenas, localizadas em diversos países, tem o objetivo de captar sinais de ondas eletromagnéticas e decodifica-las, armazenando-as em um banco de dados centralizado. Computadores realizam este trabalho recebendo e decodificando milhões de sinais por hora, por meio de palavras-chave, identificando números e login e descartando aquelas que não apresentam o padrão pesquisado. Em caso de suspeitas, estes dados armazenados são então disponibilizados as agências de inteligência governamentais para a análise e elaboração de perfis. O sistema, como acreditam alguns, não identifica pessoas, apenas números e códigos.

E, esta prática, não é realizada apenas por governos que utilizam poucos estes recursos se comparados a empresas privadas que já fazem este controle a mais de uma década e  cada vez são aperfeiçoadas novas ferramentas no sentido de  elaborar um perfil sócio-econômico completo de seus clientes. O Google, por exemplo, sabe muito mais sobre a vida das pessoas do que elas próprias. Gostos musicais, literários, gastronômicos, de vestuário, gastos com cartão de crédito, preferencias religiosas, sexuais, conexões com pessoas e lugares, tendências políticas e ideológicas, tudo está armazenado em códigos para fins comerciais.

Você se recorda dos sites que acessou na semana passada ou mesmo no ano passado, que produto lhe interessou mais e você pesquisou? Com quem você se comunicou por e-mail? Os provedores de internet sabem e muitas vezes direcionam suas preferências a outras empresas de vendas de produtos.

Da mesma forma, ao caminharmos nas ruas ou adentramos em algum estabelecimento estamos sendo vigiados por câmeras, se conversamos por celulares podemos ser localizados pela região das antenas e em uma infinidade de outras situações do cotidiano em que geralmente somos  atores coadjuvantes de uma vigilância.

Esta questão, embora polêmica, tornou-se uma tendência irreversível num mundo globalizado e com diferentes novidades tecnológicas acrescido por novas dinâmicas criminais, ciberguerra e ataques virtuais.

Sem entrar no mérito sobre os aspectos relacionados aos direitos da pessoa humana nas sociedades democráticas como a liberdade  das  comunicações e  da correspondência e, relativizando, é um alto preço que paga a  sociedade por seu próprio desenvolvimento.

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