André Luís Woloszyn
Analista de inteligência, Mestre em Direito, Especialista em Ciências Penais e diplomado em Inteligência Estratégica pela Escola Superior de Guerra
Um fenômeno que tem sido observado por especialistas e evidenciado em relatórios de agências de inteligência, é o êxodo de terroristas ligados a grupos como o ISIS, em operação na África, Ásia e Oriente Médio, para outros países considerados instáveis, em crise e com sérias deficiências no controle de fronteiras. Tal contexto, é condicionado pelo nível reforçado da segurança interna em seus países de origem, possibilitado pelo intercâmbio entre forças de combate ao terrorismo e compartilhamento de inteligência.
Impedidos de retornar, por estarem devidamente identificados com determinado grupo terrorista, mas comprometidos ideologicamente com a doutrina extremista, com as lideranças organizacionais e como forma de manter suas rendas, buscam novas zonas de atuação em outros países para o estabelecimento de bases de apoio e recrutamento, expandindo assim a organização.
Vale destacar, que significativa parcela de integrantes desses grupos, que lutam em áreas conflagradas pelo terrorismo como mercenários, condenados a execução por abandonarem a zona de combate, tem se deslocado à regiões da América Latina, no intuito de fornecer consultoria as organizações criminosas transnacionais em técnicas militares e no uso de diferentes armas e explosivos, baseados na experiência em guerras irregulares, especialmente, na Síria e no Afeganistão.
Neste ponto, não se ignora que a origem remonta a guerra fria, com o treinamento de grupos guerrilheiros por experts mercenários, patrocinados por países ideologicamente alinhados. Contudo, a conjuntura atual mostra-se de maior complexidade e abrangência, tendo predominantemente o ambiente urbano como palco das ações, fator de aumento do grau de risco às populações das cidades.
O problema se intensifica quando nem todos os Estados-membros da ONU adotam ações de segurança interna com a mesma intensidade e com a mesma capacidade técnica e de recursos tecnológicos, fator que acarreta grandes desafios às forças de segurança e defesa, uma vez que se torna difícil a detecção e neutralização da ameaça, pela diversidade de raças e etnias, quebrando definitivamente o paradigma do estereótipo.
Em alguns casos, apresentam-se como refugiados ou imigrantes, com falsa documentação, em outros, adentram aos países como turistas transformando-se, posteriormente, na condição de imigrantes ilegais, homiziados nas grandes metrópoles.
Em países como o Brasil, por exemplo, de dimensões continentais, com deficiente controle de fronteiras e uma legislação condolente a esse respeito, (a lei de refugiados foi promulgada em 1940), a possibilidade de atuação desses terroristas poderá acarretar em graves efeitos para a segurança pública, com o agravamento da violência e da criminalidade em níveis ainda maiores.
Se considerarmos que a maior organização criminosa da América Latina, o Primeiro Comando da Capital (PCC), e diversas facções rivais ligadas ao narcotráfico, operam no país com características de conflito assimétrico, o mercado para tais consultorias mostra-se aberto e de certa forma promissor.
Esta realidade, não se mostra diferente em outros países da América Latina, principalmente, naqueles considerados grandes produtores de drogas ilegais, circunstância que faz do continente um ambiente propício para o estabelecimento de futuras bases extremistas, com o consequente recrudescimento da criminalidade e o surgimento de novos cenários de confrontos urbanos.
Nota DefesaNet
Mais um impacto na análise de André Luís Woloszyn foi a aprovação pelo Senado da nova Lei de imigração. Seguindo um espírito liberal, fora de época e contexto criará enormes dificuldades às áreas de inteligência, defesa e segurança do Brasil.
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