Fábio Leite
O empresário Joesley Batista, acionista da JBS, disse em conversa gravada com o deputado federal afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) que recebeu uma ligação recente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedindo ajuda sua ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), grupo aliado do petista. “Ele (Lula) me ligou esses dias, pediu pra mim atender os sem-terra.
Eu digo: ‘ô presidente’ (risos)… ‘Joesley, eu tô aqui com o (João Pedro) Stédile, não sei o que ele precisa falar com você’… ‘Tá bom presidente, manda ele vir aqui. Eu atendo ele, tá bom?’”, relatou Joesley. Economista, Stédile é líder do MST. O empresário não disse, contudo, se houve o encontro.
A conversa com Loures ocorreu no dia 13 de março deste ano na casa de Joesley, em São Paulo, e foi gravada pelo próprio empresário, já no curso da delação premiada que ele fechou com a Procuradoria-Geral da República (PGR). O áudio de uma hora e 14 minutos foi anexado aos autos da Operação Patmos, que mira no presidente Michel Temer, no senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) e no próprio Loures.
Embora tenha relatado uma conversa recente com Lula, o acionista da JBS afirmou que o último encontro pessoal que teve com o ex-presidente foi no fim de 2016 e que não é tão próximo do petista como as pessoas comentam. “Sobre o Lula, eu acho assim, primeiro, que eu não tenho amizade com ele igual o povo acha que eu tenho.
Eu conheci o Lula tem dois anos atrás, fim de 2013”, disse Joesley a Loures, ex-assessor especial de Temer que foi indicado pelo presidente ao empresário como uma pessoa de sua “estrita confiança” para ajudá-lo em seus negócios junto a órgãos do governo federal.
Loures foi filmado pela Polícia Federal pegando uma mochila com R$ 500 mil em dinheiro em espécie, em São Paulo, e acabou sendo afastado do mandato parlamentar por ordem do ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele ainda não se manifestou sobre as acusações.
Em um de seus depoimentos de delação premiada à PGR, Joesley disse que abriu duas “contas-correntes” de propina no exterior que seriam vinculadas a Lula e à presidente cassada Dilma Rousseff, para pagamento de campanhas eleitorais. O saldo, afirmou, chegou a US$ 150 milhões em 2014. Esses recursos, segundo ele, foram operados pelo ex-ministro da Fazenda (governos Lula e Dilma) Guido Mantega.
DEFESA
Em nota, a defesa de Lula disse que as quebras dos sigilos bancário, fiscal e contábil dele comprovam a sua inocência. Já a defesa de Dilma afirmou que ela não tem contas no exterior e que jamais tratou de pagamentos com empresários. O MST não se manifestou.