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ISRAEL – Mossad e ISA crescem em importância no momento atual

 

 
Por Amir Rapaport – Texto do Israel Defense
Tradução, adaptação e edição – Nicholle Murmel

 
Com o colapso do Exército do Iraque em junho deste ano, o modelo americano pós-ocupação para treinar forças policiais locais moderadas também ruiu.
 
Em entrevista exclusiva concedida ao Israel Defense em junho, o ministro de Inteligência,Assuntos Estratégicos e Relações Internacionais  israelense Yuval Steinitz afirmou:
 
“dissemos aos americanos, que não só o Exército iraquiano que eles construíram entrou em colapso. Em todos os locais onde os EUA tentaram essa abordagem, eles falharam”. A declaração foi feita logo antes da operação “Protective Edge” começar, e o ISIS ainda não havia se tornado um termo familiar no vocabulário ocidental.
 
O ministro continua: “por exemplo, na Faixa de Gaza, as forças policiais palestinas foram derrotadas pelo HAMAS, em 2007, e agora o mesmo acontece no Iraque. O contingente substancial que Washington estabeleceu lá está sendo solapado pelas forças islâmicas,que usam exatamente os mesmos métodos do Hamas – incluindo execuções em massa.
 
É igualmente claro que nenhuma força policial palestina operando na região da Judeia e Samaria será confiável, mesmo que seja equipada e treinada pelos EUA. Se Israel não tiver o controle da área, as forças islâmicas dominarão o território lá também”.
 
Steinitz discursa a partir de uma posição específica – nos últimos dez anos ele ocupou  várias posições-chave no governo e no Parlamento israelense, desde chefe do Comitê de Assuntos Estrangeiros e Defesa, passando por Ministro das Finanças, até seu atual cargo, onde está atualmente incumbido, em nome do Primeiro Ministro, de gerenciar três agências de inteligência principais: o MOSSAD, a Academia Intede Segurança (ISA) e a Comissão Israelense de Energia Atômica. O ministro também comparece regularmente às reuniões de gabinete sobre políticas de defesa, e aos fóruns de acesso restrito com outros chefes dos serviços secretos israelenses.
 
Um dos principais papeis de Steinitz é concentrar esforços de todos os órgãos do governo na tentativa de combater o programa nuclear do Irã. O ministro mantém canais de comunicação constantes com representantes de grandes potências ocidentais que negociaram com Teerã acerca da extensão de um acordo interino, segundo o qual as sanções econômicas impostas ao país já foram suspensas em parte, enquanto o Irã suspendeu suas atividades nucleares. O documento expirou em 20 de julho deste ano.
 
Vamos falar do estado atual da estratégia israelense, começando pelo Egito. O senhor considera que a vitória do ex-líder militar Abel Fattah el-Sisi nas eleições gerais como um acontecimento estrategicamente importante para Israel?
 
Defato, é do nosso interesse que a estabilidade política e econômica do Egito seja restaurada. Queremos eliminar a anarquia na região do Sinai, e também devemos lembrar que o Egito é a nação mais importante no mundo árabe. É crucial que o país permaneça como uma âncora central e estável. Eu desejo que el-Sisi e o povo egípcio tenham sucesso. Finalmente os egípcios estão trabalhando contra o tráfico de armas a partir do Sinai e dentro da região também. Isso nunca havia sido feito – nem mesmo durante o governo de Hosni Mubarak, e isso é um desdobramento positivo.
 
Considerando os acontecimentos recentes no Egito, Iraque e Síria, o senhor pode dizer que Israel não tem mais nenhuma ameaça militar significativa?
 
Ao olharmos para a ameaça geral ao Estado de Israel, nota-se uma mudança considerável na região. A gravidade das ameaças perpetradas por outros governos diminuiu substancialmente. No passado, todo o mundo árabe era contra Israel, mas os perigos militares mais relevantes vinham de três países – Egito, Síria e Iraque. Foi desses locais que partiram mais tropas e ataques nos anos de 1948, 1967 e 1973, e as forças acumuladas tinham como finalidade lidar com o desafio que Israel representava. Esse perigo desapareceu em boa parte.
 
O Exército egípcio ainda existe e está operacional. Se não fosse pela crise dos últimos três anos no país, e que teve um componente econômico muito forte, certamente o fortalecimento militar do Cairo teria sido mais expressivo e mais rápido. Na situação atual do Egito, esse processo logicamente desacelera, enquanto que em Israel o reforço das capacidades militares vem acontecimento em ritmo intenso e constante.
 
Já os exércitos da Síria e do Iraque não existem mais. O Exército sírio tem dificuldade em lidar com as forças rebeldes, inferiores tecnologicamente e em todos os outros aspectos.
 
Precisam de ajuda do Hezbollah, perderam mais da metade de seu pessoal, poder de fogo e artilharia. Há buracos em toda a defesa do território sírio. Caso a situação esquente outra vez, o Exército não terá condição atuar com as Forças de Defesa Israelenses em nenhum aspecto relevante. No que se refere ao arsenal químico de Damasco, por incrível que pareça, essa ameaça foi eliminada pela colaboração incomum entre Estados Unidos e Rússia. Foi um acontecimento importante que diminuiu substancialmente o perigo representado pela Síria.
 
O mesmo vale para o Iraque. As novas Forças Armadas foram estabelecidas, desde o começo, sem uma Fora Aérea e com pouca artilharia e blindados, e atualmente essas estruturas estão se desintegrando.
 
A ameaça patrocinada por governos está sendo substituída pelas instabilidades causadas por organizações como o Hezbollah, o HAMAS e a Jihad Islâmica – instituições não-estatais, que assumiram esse vácuo de poder e se fortaleceram. Essa é uma mudança significativa para Israel.
 
As ameaças convencionais diminuíram bastante, mas o terrorismo é uma preocupação, associada à instabilidade gerada pelo Irã. Os perigos não-convencionais cresceram, e ainda não os aceitamos, não estamos totalmente preparados para lidar com eles.
 
Sobre a questão nuclear iraniana, Israel está tendo sucesso em influenciar as negociações entre as superpotências e Teerã? Temos realmente a habilidade de influenciar esses acordos?
 
Não somos uma superpotência global. Entre os países que conduzem as negociações com o Irã, o grupo P5+1, não temos posição formal. Mesmo assim, tivemos sucesso em estabelecer influência e algum status nessas conversações. Estamos presentes, mesmo que ausentes sob o ponto de vista formal.
 
Esse processo começou antes mesmo do acordo interino vencido em julho. Em conversas pessoais com os franceses, conseguimos convencê-los a vetar a versão inicial do documento e incluir duas exigências – suspender a construção do reator nuclear com água pesada em Arak, e neutralizar todo o urânio com mais de 20% de enriquecimento.
 
Essa neutralização do programa nuclear do Irã está quase completa. Acerca desses dois pontos, tivemos influência direta no acordo provisório. Desde então mantemos diálogo, pelo qual eu sou responsável, com todos os órgãos a cargo dessa tarefa – a Comissão Israelense de Energia Atômica, o Conselho Nacional de Segurança e assim por diante, em nível de ministério e em instâncias menores, junto com os serviços de inteligência das cinco potências envolvidas com a questão nuclear do Irã.
 
Se não fosse por Israel, esses países poderiam ter assinado um acordo desfavorável com Teerã. Dois meses e meio atrás, eu consegui, junto com o Primeiro Ministro Netanyahu, introduzir um novo argumento no discurso internacional – de que o Irã é um país catalisador do perigo de proliferação nuclear no Oriente Médio, constituindo uma ameaça ainda maior.
 
O Irã, enquanto Estado catalisador, se aproveitaria da legitimidade que vem de um acordo e encorajaria nações como Egito, Argélia, os Emirados Árabes e a Arábia Saudita a demandar as mesmas tecnologias e equipamentos – centrífugas operando sob supervisão.
 
 
Esses países alegariam que se o mundo pode conviver com o Irã dessa forma, eles também podem querer o mesmo. Um acordo mal formulado manteria o Irã como uma fonte de resistência e essa resistência se espalharia a pelo menos outros cinco ou seis países ao longo do mundo árabe-muçulmano, onde não se pode confiar na estabilidade dos governos.
 
Israel tem alguma influência. Sem nós, mesmo o acordo provisório com Teerã teria uma configuração diferente, e o tratado permanente teria sido menos favorável. Foi uma surpresa conseguirmos estabelecer esse status, fruto da qualidade das nossas redes de inteligência e nosso entendimento do Irã e dos iranianos. Ao mesmo tempo, não estou totalmente confiante de que vamos alcançar o objetivo principal – que o Irã permaneça anos de ter armas atômicas.
 
As agências de inteligência pelas quais o senhor é responsável – Mossad, Academia Internacional de Segurança e a Comissão de Energia Atômica, operam efetivamente?
 
Essas instituições são na verdade, clandestinas. Jamais fotografias de reatores nucleares israelenses ou de dentro da sede do Mossad, ou mesmo da conclusão de algum curso de formação de agentes foram veiculadas na mídia. Não há imagens de exercícios feitos por esses órgãos, como se vê das manobras feitas pelas Forças de Defesa Israelenses. São organizações altamente sofisticadas e sua contribuição para a segurança nacional é cada vez maior, sem perder de vista a importância dos aparatos de defesa tradicionais, dadas as mudanças no nosso teatro de operações.
 
Nessa era de ameaças sub-nacionais e com o perigo de um Irã nuclear, a importância do Mossad e da ISA aumentou muito. No ano passado, por conta da questão iraniana,conheci pessoas como o general James R. Clapper, responsável por todas as agências de inteligência dos Estados Unidos, além do chefes de órgãos do Reino Unido e outras nações da Europa. Todos reconhecem muito a capacidade e o profissionalismo do serviço secreto israelense.
 
Foi um prazer saber disso. Quase todas essas autoridades têm interesse em trabalhar conosco. Nossa cooperação com os EUA na área de inteligência ao longo do último ano foi excelente. Também trabalhamos junto com outras nações do Ocidente – Alemanha, França, Canadá e Reino Unido – em missões estratégicas e de contraterrorismo. Mas apesar de todo esse reconhecimento, não podemos nos animar demais. No ramo de inteligência sempre há um problema – você esquece de se perguntar se todas essas  capacidades e façanhas servem mesmo ao objetivo final. Se é o suficiente. Sempre há esse elemento que escapa, mesmo que se conte com inteligência excelente. Sempre há espaço para melhorar, mesmo em sistemas bem sucedidos como o Mossad, a ISA e a Diretoria de Inteligência das Forças de Defesa de Israel.
 
 
Nota DefesaNet
 
A área de inteligência, em muitos países, incluindo o Brasil, caiu na primeira a armadilha. Muito ativa nos anos 90, com a chamada “Open Source”. O conceito era de que 99% das informações necessárias estariam disponíveis e de forma aberta na sociedade: imprensa, publicações especializadas, etc. O tradicional trabalho de campo estava obsoleto.
 
O problema é, que as informações das atividades de Bin Laden estavam no 0,00001% do espectro da inteligência.
 
A segunda armadilha foi a magia da vigilância e monitoramento cibernético, ativo desde os anos 2000, vide o caso NSA.
 
Esta vigilância para ter resultado tem um pequeno porém: o que é importante nos bilhões de Terabytes capturados, em vídeos, mensagens e monitoramento persistente em redes de comunição globais.
 
Assim, nos anos 2000 os serviços de inteligência da Suécia reativaram os tradicionais espiões (não mero analistas). O objetivo identificar as áreas prioritárias para a ação da inteligência eletrônica.
 
Muito das ações empreendidas pela CIA após o 11 Setembro mostram que o abandono a clássicos princípios de inteligência custam caro. O Próprio Israel pagou caro em 1973 ao adotar uma postura arrogante na área de inteligência.

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