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Guerra Híbrida – É a guerra de Putin. Seria a guerra do Maduro? Seria a guerra do Evo Morales?


A Guerra Híbrida. É a guerra de Putin.
Seria a guerra do Maduro? Seria aguerra do Evo Morales?


 

Carlos Alberto Pinto Silva
General-de-exército da reserva, ex-comandante de
Operações Terrestres (COTer), do Comando Militar do Sul (CMS) e do Comando Militar do Oeste (CMO), Membro da Academia Brasileira de Defesa e do CEBRES
.

 

1. Os possíveis conflitos entre os países da América do Sul podem estar controlados e adormecidos pela busca da integração econômica, comercial e de infraestrutura, juntamente com outras ações que aumentam a confiança mútua entre os Estados.  Mas isso não significa que tenha desaparecido a relação de conflitualidade, a hostilidade não se manifesta apenas pela violência física do emprego do meio militar, ela continua a existir por problemas econômicos, diplomáticos, psicológicos, ideológicos, populistas;pela debilidade dos Estados; e,também, por rompantes nacionalistas e de valores étnico-culturais.

A Guerra Híbrida é para alguns, o termo cunhado em 2009 pelo jornalista norte-americano Frank Hoffman e antecipado por George Kennan em 1948 e é tão antigo como a própria guerra. Trata-se de uma fusão de soldados com e sem uniforme, paramilitares, táticas terroristas, ciberdefesa, conexões com traficantes de drogas, insurgência urbana e fuzis AK-47”. “É uma combinação de meios e instrumentos, do previsível e do imprevisível. Não há fronteiras entre o legal e o ilegal, entre a violência e a não violência. Não há uma distinção real entre guerra e paz.”[2]

Os atores da Guerra Híbrida são caracterizados por grupos armados de insurgentes, terroristas, milícias e organizações criminosas. Estes grupos veemo conflito como uma continuação da políticae utilizamviolentas operações irregulares que perduram por um longo período, buscando atingir um controle coercitivo sobre as populações locais. (CLÉMENT-NOGUIER, 2003).[3]

A Guerra Híbrida, portanto, implica um mínimo objetivo político, no que se diferencia do banditismo e do gangsterismo  ligados ao crime organizado.

2. É a guerra de Putin.

 A que o presidente russo leva a cabo na Ucrânia, um conflito que os analistas qualificam de “híbrido” porque une forças regulares e não regulares, desinformação e uma pomposa presença militar em uma ofensiva limitada.[4]

3. Seria a guerra do Maduro?

A que o presidente venezuelano ameaça a levar a cabo no Brasil, em defesa do governo Dilma, que só seria possível com o desencadeamento de um conflito híbrido.

A Venezuela, num sentido ofensivo, busca expandir ideais revolucionários e fomentar o estabelecimento de regimes de relações socialistas, se armou como uma ferramenta-chave para explorar as vulnerabilidades políticas e econômicas de oponentes e para modificar a situação em benefício próprio[5]. Maduro aplicaria as técnicas de um conflito híbrido, patrocinando grupos não governamentais (Fornecendo armamento pesado e leve, munição e recursos financeiros), numa ação dita em defesa do governo Dilma, mais com intuito verdadeiro de fomentar a expansão do bolivarismo, com o estabelecimento de regime similar no Brasil.

4. Seria a guerra do Evo Morales?

“É chamado de “Estado Débil” aquele em que o governo central tem pouco controle prático sobre o seu território. E de “Estado Falido”, o “Estado Débil” que não exerce um governo efetivo dentro de suas fronteiras, em função de altas taxas de criminalidade, corrupção extrema, um extenso mercado informal, judiciário ineficaz, interferência militar na política e presença de grupos armados paramilitares ou organizações terroristas controlando de fato parte ou todo o território, ou, ainda, os Estados são débeis ou falidos, quando perdem o controle exclusivo sobre os meios de coação.”

Potencialmente, um “Estado Falido” ou “Débil” é capaz de desestabilizar uma região inteira.Nele florescem fanatismos religiosos, tribais ou étnicos e ele serve de refúgio a organizações terroristas e criminosas. A multiplicação de forças não estatais, à margem da lei; os diferentes interesses enfrentados; a ingerência de outros Estados, tratando de ampliar sua área de influência; e o colapso dos serviços de Estado degenera, sem lugar a dúvidas, em um conflito ‘’empregando a guerra híbrida.

A Bolívia não possui capacidade militar convencional para vigiar suas fronteiras, portanto, a ameaça de Evo Morales, presidente de um Estado Débil, tendendo para um Estado Falido, é pouco crível.

A Bolívia poderia desencadear ações de guerra irregular na fronteira comum com o Brasil e em regiões de grande concentração de bolivianos, como São Paulo, e poderia aplicar as técnicas de um conflito híbrido, patrocinando grupos não governamentais (Fornecendo armamento pesado e leve, munição e recursos financeiros).

5. Conclusão.

Na América do Sul, se deve ser sensível à preocupação com os regimes populistas de propensão autoritária; com países que possuem milícias organizadas pelo governo em seu território; com países que adotaram um estranho armamentismo; bem como com países onde convivem produtores de droga, traficantes, guerrilheiros e o crime organizado (Estado Débil).

A ameaça venezuelana encontra respaldo em uma sólida base militar que, de forma significativa e pragmática, vai se construindo e consolidando a fim de apoiar as suas pretensões expansionistas, com o objetivo definido de, em médio prazo, transformar a Venezuela no maior poder militar da América do Sul.[6]

A Força Terrestre brasileira necessita ter a capacidade de conciliar o emprego de forças militares nas áreas estratégicas da Amazônia Ocidental, Centro Oeste, Leste e Sul, de forma simultânea, em caso de crise com países vizinhos, e, principalmente, no contexto das atuais ameaças.

O Comando Militar da Amazônia, o Comando Militar do Oeste e o Comando Militar do Leste necessitam dispor, de imediato, de recursos militares em quantidades que possibilitem seu emprego no contexto das ameaças Maduro e Evo Morales. Ter uma Força Militar pronta oferece vantagens estratégicas e psicológicas.
 



[1]
General-de-exército da reserva, ex-comandante de Operações Terrestres (COTer), do Comando Militar do Sul (CMS) e do Comando Militar do Oeste (CMO), Membro da Academia Brasileira de Defesa e do CEBRES.
[2] Diz Félix Arteaga, pesquisador de Segurança e Defesa do Real Instituto Elcano.
[3] Artigo –  Intervenções para a paz em conflitos assimétricos: desafios na formulação de estratégias de estabilização no século XXI em relação a novos atores beligerantes – Rafael Assumpção Rocha.
[4] A guerra híbrida do século XXI: métodos legais e ilegais se fundem – 06/12/2014 – Cecilia Ballesteros

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