Vera Rosa e Leonencio Nossa,
O Estado de S.Paulo
Após o caso da droga encontrada em avião da FAB, os filhos de Jair Bolsonaro querem que a escolta oficial passe do Exército para a Polícia Federal. O general Augusto Heleno, do GSI, disse que proposta “não tem fundamento”.
A família de Jair Bolsonaro e também o chamado núcleo ideológico do Palácio do Planalto cobram mudanças no esquema de segurança do presidente e a transferência da escolta oficial do Exército para a Polícia Federal. A pressão aumentou desde que um militar da equipe de apoio à comitiva presidencial foi preso na Espanha, há dez dias, com 39 quilos de cocaína. O caso, ocorrido às vésperas do encontro do G-20, no Japão, provocou constrangimento internacional e expôs a disputa, até então velada, pelo controle da área de segurança e inteligência do Executivo.
A proposta de recorrer à Polícia Federal provoca mal-estar entre generais do primeiro escalão e alimenta o confronto dos núcleos civil e militar do governo. O Estado apurou que os filhos de Bolsonaro querem, no futuro, criar uma agência inspirada no Serviço Secreto dos Estados Unidos, que é formado por civis e atua dentro do Departamento de Segurança Interna, desvinculado do Exército americano. A ideia também enfrenta resistência das Forças Armadas.
O general Augusto Heleno Ribeiro, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), disse que não existem mudanças à vista. “Isso não tem fundamento”, afirmou ele ao Estado. “A escolta do presidente é sempre adaptada às características do evento.”
Visto como conselheiro de Bolsonaro, Heleno tem o respeito da família, mas as críticas do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) ao general, nas redes sociais, incomodaram a caserna. Ainda ontem, ao comentar o suicídio de um empresário em Aracaju, diante do governador de Sergipe, Belivaldo Chagas, e do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, o filho “02” de Bolsonaro mandou novo recado a Heleno pelo Twitter. “Mais uma falha de segurança. Seria bom a segurança do presidente ficar mais atenta”, escreveu Carlos.
A proteção do presidente é feita, por lei, pelo GSI, gabinete que reúne integrantes das Forças Armadas e oficiais da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), mas o contingente empregado nas tarefas é sempre mantido em sigilo. Em 2002 havia 649 agentes do GSI, número que subiu para 907 em 2012. Hoje, estima-se que esse exército ultrapasse a casa dos 1.000. Atualmente, dos cerca de 3 mil funcionários que trabalham no Palácio do Planalto, um terço é composto por militares.
Na avaliação da ala não fardada do governo, porém, a segurança de Bolsonaro é falha e não há monitoramento adequado de informações. Não é raro ouvir de aliados civis que a Abin faz pesquisa “pelo Google”, antes da nomeação de algum servidor ou ministro, para saber se o indicado tem algum “empecilho” de natureza ética ou jurídica. Circula também comentário, em tom jocoso, segundo o qual a equipe é informada antes pelo WhatsApp e só depois pela Abin. ‘Tiros’.
O apreço do núcleo ideológico do Planalto pela Polícia Federal também causa desconforto entre os militares porque a mudança no modelo de segurança presidencial é defendida com vigor pelo escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo e inimigo das Forças Armadas. Para os generais, os “tiros” de Olavo ajudaram a derrubar o então ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz.
Aos poucos, a Polícia Federal vai ganhando mais poder no governo Bolsonaro. Na semana passada, por exemplo, o delegado da PF Alexandre Ramagem Rodrigues, um dos responsáveis pela escolta do presidente na campanha eleitoral do ano passado, foi confirmado pelo Senado como diretor-geral da Abin no lugar de um servidor de carreira. O anúncio da troca, feito em maio, foi mal recebido internamente.
“Nós vemos uma troca sem traumas (porque) não há nada contra o atual diretor da Abin. Troca feita por orientação do presidente, buscando uma nova situação para a inteligência”, afirmou Heleno, à época. Nos bastidores, representantes do Exército costumam lembrar, com frequência, que Bolsonaro sofreu uma facada na campanha, ao participar de um ato em Juiz de Fora, Minas Gerais, quando era escoltado pela PF.
Sargento. Bolsonaro vê com bons olhos a participação da PF no esquema de segurança, mas não quer melindrar Heleno. “Você não tem medo deste avião explodir?”, perguntou o presidente, na semana passada, a um ministro que viajava com ele em uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB). A pergunta foi em tom de brincadeira, mas a obsessão pela vigilância voltou em grau máximo após a prisão do sargento da Aeronáutica Manoel Silva Rodrigues, detido no aeroporto de Sevilha, na Espanha, com grande quantidade de cocaína. “O GSI não tem nada a ver com isso. Zero”, disse o general Heleno.
Carlos, porém, levantou suspeitas sobre o GSI pelo Twitter, criando nova crise no governo. Em resposta a um vídeo postado na segunda-feira passada, nas redes sociais, por uma excandidata do PSL, o vereador provocou: “Por que acha que não ando com seguranças? Principalmente aqueles oferecidos pelo GSI?” Embora Carlos não tenha citado o nome de Heleno, o ataque foi recebido por militares como uma afronta.
Para o líder do PSL na Câmara, deputado Delegado Waldir (GO), a escolta presidencial deve passar com urgência para a Polícia Federal. “Seria dar atribuição para quem tem aptidão para isso. No mínimo, deveria ser em conjunto”, argumentou o parlamentar.
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