Discurso do Ministro Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República na Cerimônia Alusiva aos 80 Anos do Gabinete de Segurança Institucional – GSI
Palácio do Planalto
03 Dezembro 2018
É justo que eu inicie estas minhas palavras com um agradecimento especial ao Presidente Temer.
A despeito de sua agenda tão intensa, ele não hesitou em encontrar o tempo de honrar nos com sua presença tão prestigiosa.
Estamos profundamente tocados, portanto, que Sua Excelência comemore hoje, conosco, estes 80 anos de h istória do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
E é em reconhecimento ao Presidente Temer que chamo a atenção dos presentes para um trecho em especial do vídeo a que acabamos de assistir.
Refiro-me à passagem que destaca a visão de Estado de nosso Presidente , e a sua correta percepção da estatura político-estratégica de nosso país – atributos que o levaram a recriar o GSI em maio de 2016.
Ao recriá— lo, o Presidente Temer garantiu ao GSI a organização e as competências necessárias para que o pudéssemos assessorar adequadamente nos temas afetos à segurança institucional e ao desenvolvimento da Nação.
E é graças a essa sua visão de Estado, Senhor Presidente, que hoje podemos prestar o tributo devido a todos aqueles que contribuíram nessa trajetória de 80 anos de dedicação à Pátria.
Nesse sentido, quero destacar o apoio que nos brindaram, nessas oito décadas, todos os órgãos que hoje, por suas mais altas autoridades, também nos honram com sua presença.
Mas, acima de tudo, cumpre-me enaltecer e agradecer aos servidores de todos os tenpos desta casa que hoje chamamos GSI.
Servidores que produziram um legado dos mais respeitáveis em sua dedicação, em sua competência profissional, em seu elevado senso de dever e em seu amor ao Brasil.
E é em reverência a eles e a seu legado que agora os convido a um brevíssimo recorrido por estes 80 anos de História.
Começamos com o Decreto-Lei nº 920, de 1938, que em pleno Estado Novo reorganiza a Presidência da República, criando a Casa Civil e a Casa Militar. Éramos então 42 milhões de almas. Naquele mesmo ano transmitiu-se pela primeira vez a Voz do Brasil; chegou ao fim a saga de Virgulino Ferreira da Silva — o famoso e temido Lampião — e a marchinha Caramuru fazia sucesso no carnaval, pela voz de Aracy de Almeida.
Em 1942, Carlos Drummond de Andrade começa a consolidar-se como o grande poeta da segunda geração modernista, com versos que hoje compartilhamos no depositário de nossos símbolos mais caros:
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
Nesse mesmo ano, o Clube de Regatas do Flamengo, com Domingos da Guia, Zizinho e Pirillo, conquista o primeiro de uma série de três campeonatos cariocas consecutivos.
Dois anos depois, seu inside forward Perácio será um dos heróis da Força Expedicionária Brasileira.
Em 1945, festejamos o retorno vitorioso dos nossos heroicos pracinhas; celebramos a volta à democracia e a eleição do Presidente Eurico Gaspar Dutra; e o gênio de Nelson Rodrigues produz a polêmica peça Álbum de Família.
Chegamos a 1951, com um Brasil ainda essencialmente rural: 64% dos 52 milhões de brasileiros ainda viviam no campo.
Pois em junho daquele ano faltaram apenas duas polegadas para que a nossa primeira Miss Brasil, a belíssima baiana Marta Rocha, vencesse o certame mundial.
E m 54, a 19 de setembro , o Grêmio inaugurava o majestoso Estádio Olímpico, em Porto Alegre, vencendo o Nacional de Montevidéu por 2 x 0 numa partida magnífica do ponta direita Tesourinha
Em 1956, Juscelino Kubitschek inaugura os seus ambiciosos, 50 anos em 5. Inicia a construção de Brasília e avança a passos largos na industrialização do Brasil.
Naqueles anos, o mundo se encanta com o menino Pelé e o Brasil conquista pela primeira vez a taça Jules Rimet, ao passo que aqui produzíamos o nosso primeiro Fusca.
Em 1962, o talento divino de Manuel Francisco dos Santos, o Mané Garrincha, o Anjo das Pernas Tortas, nos traz do Chile o bicampeonato mundial.
Em 1964, quando já alcançávamos 71 milhões de habitantes, José Cândido de Carvalho lança O Coronel e o Lobisomem e Roberto Carlos explode com o sucesso de O Calhambeque.
O tricampeonato mundial , e a conquista definitiva da taça Jules Rimet, virão em 1970, uma vez mais graças aos pés do eterno e inigualável Rei do Futebol.
Naquela década, o Brasil experimenta um ciclo virtuoso de crescimento, jamais repetido, e alcança a posição de 8 ª economia do planeta.
A 1º de janeiro de 1979, na marcha irreversível para a normalização democrática, entra em vigor a emenda constitucional que revoga os Atos Institucionais.
Em 28 de agosto do mesmo ano, o Presidente João Batista Figueiredo dá o passo decisivo na pacificação e reconciliação de todos os brasileiros. Nessa data, ele promulga a Lei da Anistia, que abrange “todos quantos, no período compreendido entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexos”
No seu estilo direto e simples, Figueiredo, ele mesmo que fora filho de exilado durante a ditadura Vargas, dá a senha da Anistia com a sua inesquecível afirmação: “lugar de brasileiro é no Brasil”.
Como trilha sonora de tempo tão auspicioso, Elis Regina torna célebre a canção O Bêbado e o Equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc.
Em 1985, 121 milhões de brasileiros reinauguram a democracia em sua plenitude. O Rio de Janeiro recebe a primeira edição do Rock in Rio e o Fluminense — permitam-me aqui uma homenagem a meu pai — sagra-se tricampeão carioca com craques como Branco, Ricardo Gomes, Romerito, Washington e Assis. Nos anos seguintes, debateremos e promulgaremos a Constituição Cidadã.
Em 1992, entre 3 e 13 de junho, o Rio de Janeiro sedia a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Rio-92.
A 9 de agosto, a seleção masculina de vôlei conquista pela primeira vez o ouro olímpico, em Barcelona.
Em 1994, a geração de craques de Bebeto e Romário arrebata pela quarta vez o campeonato mundial de futebol.
Em 1º de janeiro de 1995, o Mercosul começa a funcionar como união aduaneira. No mês de agosto, o Grêmio, sob o comando de Luís Felipe Scolari, conquista pela segunda vez a Taça Libertadores da América.
Ainda naquele ano, Darcy Ribeiro publica a primeira edição de O Povo Brasileiro, e Olavo de Carvalho lança O Jardim das Aflições.
1999 traz a criação do Ministério da Defesa e a consequente transformação da Casa Militar em Gabinete de Segurança Institucional. Inaugura-o o General Cardoso, que nos honra com sua presença.
Em 2002, mesmo ano em que Luiz Inácio Lula da Silva é eleito para presidir 170 milhões de brasileiros, levantamos pela quinta vez o campeonato mundial de futebol.
Nos próximos 14 anos, sediaríamos com absoluto sucesso uma sequência impressionante de grandes eventos internacionais:
– Rio + 20
– Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro
– Jogos Mundiais Militares
– Copa das Confederações
– Copa do Mundo
– Jornada da Juventude
– Jogos Olímpicos e Paralímpicos
Em 2016, mesmo ano em que é recriado o GSI, começa um período de profundas mudanças estruturais em nosso país.
A competência política, a coragem e o compromisso com o Brasil do governo que então se iniciava conseguem aprovar, no Congresso Nacional, reformas fundamentais para o nosso desenvolvimento. Reformas há muito exigidas, sempre prometidas, nunca concretizadas.
Senhor Presidente, senhoras e senhores:
Nesta longa jornada de 80 anos, este órgão da Presidência da República foi, a um só tempo, ator importante e observador privilegiado das mudanças por que passou o Brasil.
Ao prestar a justa homenagem aos que me precederam e aos que, neste percurso, deram a sua contribuição, eu poderia ter feito uma opção editorial diversa. Poderia ter apresentando esta retrospectiva sob o prisma das inúmeras e sérias crises que abalaram o nosso país.
Não o fiz, no entanto, por opção consciente: o grave momento que vivemos sugeriu-me antes percorrer o caminho das boas lembranças. E fiz essa escolha para que não nos esqueçamos de que sempre, desde a independência e desde o Império, os brasileiros fomos capazes de superar os mais severos impasses.
Fiz essa escolha para compartilhar com as senhoras e os senhores a minha profunda convicção de que é possível, e está ao nosso alcance, a impostergável conciliação nacional — sem a qual não criaremos as condições necessárias para a nossa prosperidade.
Fiz essa escolha porque acredito que as divergências políticas são trilhas que convergem para o bem comum — e não trincheiras que se confrontam, a consumir as nossas capacidades num esforço demente pela mútua destruição.
Fiz essa escolha porque creio que a força moral manifestada, de forma avassaladora, nas urnas de outubro traz consigo a legitimidade necessária para perseverarmos nas reformas e superarmos os anacrônicos dogmatismos ideológicos que nos capturaram.
Senhor Presidente, senhoras e senhores:
Sob um certo prisma, nossa história recente bem poderia resumir-se numa palavra: crise.
Foi sob o signo da crise, e da necessidade de superá-la, que, naquele 12 de maio de 2016, acompanhei, profundamente honrado, o Presidente Temer numa singela cerimônia de posse, aqui mesmo no Palácio do Planalto.
Começava ali, de todas, a missão mais desafiadora que tive, em 49 anos a serviço do Estado brasileiro.
Hoje, perto de concluí-la, os sentimentos que me dominam são de duas ordens diversas.
Há, de um lado, a profunda gratidão ao Presidente Temer.
Gratidão pela confiança que em mim depositou e gratidão pelo apoio e estímulo constantes para que construíssemos um GSI à altura da grandeza do Brasil.
Um GSI que, ao cumprir a sua missão, desnudasse a obtusa miopia ideológica dos que, no passado, puderam julgá-lo prescindível.
Mas há, por outro lado, o sentimento justificado do orgulho — do orgulho de ter-me tocado o privilégio de conduzir homens e mulheres da qualidade e do patriotismo daqueles com quem compartilhei esta jornada.
Orgulho justificado de ter servido a um governo que soube desvencilhar-se do caminho fácil, e tantas vezes trilhado, do populismo eleitoreiro.
Que, ao revés, soube optar pela senda mais árdua que leva ao reconhecimento futuro, no juízo implacável da História. Orgulho de ter servido a um governo que teve a grandeza de apostar nas gerações vindouras, promovendo as transformações que a Nação reclamava há décadas.
Orgulho de ter servido a um governo que teve a coragem de adotar as medidas necessárias para tirar-nos da mais profunda crise econômica de nossa história. Que, neste processo, salvou-nos do desastre para o qual nos empurrara o populismo irresponsável.
Orgulho de servir a um governo que jamais, em qualquer circunstância, pediu a minha alma em troca do que quer que fosse, que jamais tentou negociar com os meus valores.
Orgulho, enfim, de servir a um governo que jamais se afastou dos limites estritos do jogo democrático, nem deixou de prestigiar a harmonia e a independência dos Poderes da República.
Hoje, é com certa tristeza que constato a angústia de algumas — poucas — almas atormentadas, que afinal têm a honestidade de reconhecer o que deveria ofuscar-nos pela evidência: que, em meio às muitas tormentas que atravessamos, foram raras as vozes a pregar a conciliação, o respeito à Constituição, a serenidade.
Pois hoje o compromisso com a verdade e a justiça deveria impelir-nos, todos, a reconhecer que, dentre essas vozes, as mais altissonantes foram as do Presidente Michel Temer e as dos Chefes Militares.
Senhor Presidente, senhoras e senhoras:
Estou em vias de concluir este pronunciamento que, reconheço, não se fez breve.
Ao fazê-lo, quero apenas reforçar a minha convicção de que, como Nação, só alcançaremos a prosperidade que tanto almejamos se tivermos a grandeza cívica de deixar a porta aberta para a conciliação nacional.
A pacificação é o único caminho para a superação desta que é, sem dúvida, a maior crise que já experimentamos.
E a crise que vivemos, por ser política em sua essência, impõe justamente aos políticos a responsabilidade de indicar os caminhos que nos levem adiante — rumo ao lugar de destaque, no concerto das nações, que merecem a nossa gente e a nossa posteridade.
Serão caminhos, decerto, cheios de obstáculos, e, para superá-los, o Brasil nunca precisou tanto da grandeza de seus homens públicos.
Mas é para a frente que temos de seguir, e só avançaremos nesse rumo se nos guiarmos por faróis potentes que iluminem o futuro, não por retrovisores trincados que distorçam o passado.
É com esse espírito que evoco aqui as palavras eternas de Caxias, o Pacificador, que da tribuna do Senado do Império lançou “maldição eterna aos que ousarem invocar nossas dissensões passadas”.
E é com esse espírito, e o de quem, no cumprimento do dever, buscou sempre dar o melhor de si, que — em meu próprio nome, e no de todos os que integramos o GSI — agradeço as honrosas presenças que abrilhantam esta comemoração.
Muito obrigado a todos, e a todos desejo um fim de ano muito feliz.
Parabéns Gabinete de Segurança Institucional!
Brasília, 3 de dezembro de 2018
Generaal-de-Exército Sergio Westphalen Etchegoyen
Ministro Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República