André Luís Woloszyn
Analista de Inteligência Estratégica
É fato que existem dezenas de grupos neonazistas no Brasil. A maior parte na região sul do país, provavelmente por ser a região de maior influência da imigração alemã. Também resta comprovado que estes grupos vem crescendo na região Sudeste e Centro-Oeste, notadamente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal. Há estudos aprofundados neste sentido, especialmente o de Adriana Dias, pesquisadora da Unicamp.
São formados, em sua maioria, por jovens e adolescentes, em busca de identificação com uma causa e por auto-afirmação. Utilizam-se das redes sociais para mensagens, em alguns casos, ofensivas a segmentos da sociedade como judeus, negros, nordestinos, homossexuais e dependentes químicos. Colecionam símbolos da época do nazismo, entre estes, suásticas, livros, filmes e outros objetos. Mas, episódios de extrema violência patrocinados por estes grupos, ainda são esporádicos, conforme registros do Ministério da Justiça e dos Tribunais de Justiça dos estados.
Os grupos brasileiros surgiram após o movimento punk na década de 80. O mais antigo destes, são os Carecas do Subúrbio, da zona leste de São Paulo, que chegaram a ter mais de 500 integrantes antes da cisão, por divergências internas. Esta cisão deu origem a dois outros, os Carecas do ABC e os White Power, o mais radical de todos. Grande parte destes grupos aceitam negros, nordestinos e mulheres. Outros, possuem filosofia própria sendo contrários a valores da sociedade como religião e situações como doação de órgãos, transfusão de sangue e a favor da eutanásia. Alguns apostam na força física praticando musculação e artes marciais.
O motivo principal de não recrudescerem contra a questão de raças é a própria formação do povo brasileiro e sua enorme miscigenação que acarretou em um multiculturalismo, diferentemente dos países europeus. E, grupos desta natureza, surgem e se desenvolvem por um apoio, de certa forma, inconsciente, da sociedade em que está inserido, fruto de um pensamento comum, mas que não é expressado. As perspectivas sócio-econômicas são outro fator, que no Brasil, com o desmoronamento do chamado “milagre econômico” na década de 80, culminou com o surgimento destes grupos.
Portanto, este fenômeno no Brasil, é uma espécie de neonazismo adaptado às condições da sociedade brasileira, com as mais diversas ideologias. Não possui o mesmo fervor e está muito distante de uma associação com os grupos de estrema direita europeus como nos recentes casos do grupo alemão Clandestinidade Nacional Socialista (CNS), que assassinou nove imigrantes, a maioria turcos, entre os anos de 2000 e 2007, e que estão sendo julgados por terrorismo ou do ultradireitista e conservador, Anders Behring Breivik, autor dos atentados em Oslo, em 2011, onde morreram 76 pessoas.
Na conjuntura europeia, após a queda do muro de Berlim em 1989 e a massiva migração de povos integrantes da cortina de ferro e de antigas ex-colônias, aliada ao aprofundamento da crise do euro, foram um dos fatores que contribuíram para fomentar a volta destas ideologias, especialmente entre os jovens, que se sentem ameaçados e sem perspectivas. Aliás, um quadro semelhante ao vivenciado antes da 2ª Guerra Mundial.