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GHL-Brasil: Petrobrás identifica 3 campos petrolíferos da Venezuela como origem do óleo no Nordeste

 

André Borges, Fernanda Nunes e Roberta Jansen

O Estado de S.Paulo

 

BRASÍLIA E RIO – Os estudos técnicos realizados pela Petrobrás sobre a origem do petróleo que contamina mais de 2,5 mil quilômetros do litoral do Nordeste confirmam não apenas que o produto teria origem na Venezuela, mas de quais campos venezuelanos o material foi retirado.

O Estado apurou que, segundo informações da petroleira repassadas à Marinha, a borra de petróleo tem origem em três campos específicos de exploração localizados no país vizinho. A constatação foi possível após a Petrobrás comparar a composição química do material recolhido nas praias, com centenas de amostras de petróleo de todo o mundo, que a Petrobrás mantém em um centro de pesquisas localizado na Ilha do Fundão, no Rio.

Isso não significa,porém, que a Venezuela tenha responsabilidade direta sobre o derramamento do óleo na costa brasileira, já que o material pode ter sido embarcado em navio de qualquer origem, inclusive embarcações ilegais.

A hipótese de que o piche lançado no mar brasileiro seja resultado da operação criminosa de um “navio fantasma” é, para a Marinha, uma das mais prováveis atualmente porque, segundo avaliações técnicas que já realizou, o produto que contamina as praias brasileiras não é comprado por nenhum outro País do mundo.

Caminho

Estudo faz simulação reversa das manchas de petróleo para estimar sua origem

"Quando a gente fez a análise em mais de 30 amostras, concluiu que era de três campos venezuelanos, é um blend (uma mistura). A origem do petróleo é lá. A origem do vazamento é outra coisa, que a gente entende que é na costa brasileira. A Marinha e as universidades têm falado em torno de 300 km da costa",  disse o diretor de Assuntos Corporativos da Petrobrás, Eberaldo de Almeida Neto.

Após fazer cruzamento de uma série de dados, a Marinha enviou questionamentos técnicos formais a 30 embarcações que têm origem em 11 países. Todas elas passaram pela região no período investigado e possuem registros na Organização Marítima Internacional. As respostas a esses questionamentos ainda são aguardadas pela Marinha.

A chance de se tratar de um navio-tanque fantasma, porém, é considerada como a de maior probabilidade porque o tipo de petróleo venezuelano que chegou ao litoral brasileiro não é comprado por esses países de bandeira, segundo avaliações internas da Marinha. Normalmente, esse tipo de carga é carregado em navios fantasmas.

“Cada óleo ou petróleo tem uma assinatura geoquímica baseada na sua composição, que é muito específica. É por isso que a gente consegue saber se o óleo veio da Venezuela, da Baía de Santos, da Arábia Saudita (inclusive dos poços). Há bancos mundiais que dispõem dessa assinatura geoquímica do óleo. E é uma análise fácil de fazer e identificar a origem", explica Vanessa Hatje, especialista em Oceanografia Química da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Pra fazer essa identificação geoquímica, usamos biomarcadores do petróleo. São mais de 300 compostos que podem ser usados para determinar a identidade do óleo.

Inpe vai buscar dados sobre tempestades

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) está buscando em seus arquivos informações sobre grandes tempestades e condições de navegabilidade do mar nos últimos dois meses. O objetivo é tentar estabelecer se houve condições para um naufrágio – que poderia ser a origem do derramamento de óleo na costa brasileira. O Inpe foi oficialmente chamado a participar do gabinete de crise e está ajudando nas investigações.

“Estamos buscando dados pretéritos, análise das condições de navegabilidade do mar, quando tivemos grandes tempestades, ondas gigantes, que podem ter causado algum naufrágio”, explicou o oceanógrafo Ronald Buss de Souza, vice-diretor do Inpe. Segundo ele, o órgão vai buscar também modelos para entender a movimentação das correntes marítimas no oceano profundo, que tem ritmo bem diferente das correntes de superfície. Essa análise pode ajudar a determinar até mesmo se o fluxo de óleo está vindo do fundo do mar, por exemplo, de algum navio naufragado.

“As correntes profundas tem uma escala sazonal”, explica Souza. “No verão, estão mais ao sul e, no inverno, mais ao norte. Sua velocidade também depende da estação do ano. Vamos tentar estabelecer se a corrente é mais intensa ou menos intensa, se está mais para o sul ou para o norte, quantos dias levaria para algum produto chegar até a costa.” O Inpe vai ainda congregar dados vindos de oceanógrafos de instituições de todo o Brasil e entrega-los à Marinha e à Polícia Federal, que comandam a investigação.

 

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