O líder da organização extremista síria Frente Al Nusra, Abu Mohamad al-Jolani, anunciou a desvinculação da rede terrorista Al Qaeda, numa inédita aparição num vídeo difundido pela emissora Al Jazeera nesta quinta-feira (28/07).
"Agradecemos aos comandantes da Al Qaeda por terem entendido a necessidade de cortar as relações", afirmou o líder do segundo grupo jihadista mais importante da Síria. Ele anunciou que o grupo "não atuará mais sob a designação de Frente Al Nusra", referindo-se à "criação de uma nova entidade, a Frente Fateh al-Sham [Conquista da Síria, em árabe]".
Jolani afirmou que o novo grupo não terá qualquer ligação com organizações estrangeiras e explicou que a decisão se destina a acabar com o "pretexto" dos EUA e da Rússia para atacar outros grupos, afirmando que, na verdade, atacam a Al Nusra, um grupo associado à Al Qaeda.
Pouco antes, o líder Al Qaeda, Ayman al-Zawahiri, autorizou a desfiliação num áudio. "Estes laços [com a Al Qaeda] devem ser sacrificados sem titubear se eles se contrapõem à aliança contra o inimigo laico e sectário [o regime de Assad]", disse o líder jihadista. "A irmandade do islã que há entre nós é mais forte que qualquer vínculo organizacional, e a aliança entre as facções opositoras na Síria é mais importante", afirmou.
A desfiliação da Frente Al Nusra acontece uma semana após o acordo dos chefes das diplomacias russa e americana, Serguei Lavrov e John Kerry, sobre a luta comum contra a Al Nusra e o grupo extremista "Estado Islâmico" (EI).
A Frente Al Nusra, o mais importante grupo jihadista na Síria depois do EI, o seu grande rival, entrou oficialmente no conflito sírio em janeiro de 2012, dez meses após o início da revolta contra o regime do presidente Bashar al-Assad, que evoluiu para uma guerra civil devastadora.
EUA afirma que separação da Al-Qaeda não altera status da Al-Nosra¹
O governo americano declarou, nesta quinta-feira, que segue considerando a Frente Al-Nosra uma ameaça à segurança, mesmo após o grupo sírio anunciar sua separação da rede "terrorista" Al-Qaeda.
"Os líderes da Frente Al-Nosra seguem tendo a intenção de realizar ataques no e contra o Ocidente", disse à imprensa o porta-voz da Casa Branca Josh Earnest.
A Frente Al-Nosra anunciou o rompimento com a Al-Qaeda em um vídeo difundido pela TV Al-Jazeera do Catar, no qual aparece seu líder, Abu Mohamad al Kholani.
Al-Kholani anuncia na gravação que o grupo mudou seu nome para Jabhat Fateh al Sham (Frente para a Conquista da Síria), que se unirá a outros combatentes rebeldes no país.
"Realmente não vemos qualquer razão para acreditar que suas ações ou seus objetivos sejam diferentes" a partir de agora, disse o porta-voz do departamento de Estado John Kirby.
"Ainda são considerados uma organização terrorista estrangeira", assinalou Kirby. "Julgamos um grupo pelo que faz, e não por como se denomina".
Segundo analistas, a Al-Nosra quer renovar sua imagem e se defender diante da crescente pressão, após Moscou e Washington concordarem em aumentar seus esforços contra os grupos jihadistas na Síria.
Al-Nosra, que surgiu em janeiro de 2012, dez meses após o início dos protestos contra o regime de Bashar al-Assad, jurou lealdade à Al-Qaeda em 2013.
¹com AFP