Shannon: Defensor de Maduro, Conselheiro Kirchnerista e Promotor de Lula
Edgar C. Otalvora
Especial para DefesaNet
@ecotalvora
Thomas Shannon por ocasião de sua aposentadoria foi objeto de uma homenagem, no dia 04JUN2018, oferecida pelo novo secretário de Estado Mike Pompeo. A longa jornada de Shannon como diplomata norte-americano, na qual alcançou o posto e status de embaixador de carreira, terminou com um discurso nos degraus do saguão do prédio do Departamento de Estado, depois de ter servido como chefe do Departamento de Estado por uma dúzia de dias em a transição entre os governos de Barack Obama e Donald Trump.
Após ter atuado em diversas capitais latino-americanas desde a década de 1980, Shannon é considerado um especialista em questões continentais, território onde criou sua própria rede de relacionamentos. Quem o conhece diz que um de seus temas obsessivos é o Brasil, país onde trabalhou como assistente do Embaixador no final dos anos 1980 e onde voltou como Embaixador em 2010. Além de seu trabalho como funcionário diplomático em vários países latinos, emsuas capitais, Shannon ascendeu aos cargos mais importantes relacionados ao hemisfério ocidental tanto no Departamento de Estado quanto no Conselho de Segurança Nacional.
Durante o governo de Barack Obama, na qualidade de assessor do Secretário de Estado e Subsecretário de Assuntos Políticos, Shannon se opôs à imposição de sanções ao regime de Nicolás Maduro. Pouco depois de Obama iniciar o processo de imposição de sanções a altos funcionários do regime chavista venezuelano, por ordem executiva de 09MAR2015, Shannon viajou a Caracas para realizar uma das várias reuniões, algumas públicas e outras secretas, que realizaria com Maduro em nos meses seguintes e seus representantes.
Em 24MAIO2015, a então ministra das Relações Exteriores de Maduro, Delsy Rodríguez, revelou que em suas reuniões com Maduro, que Shannon havia se oferecido para manter contatos de alto nível entre Caracas e Washington e tentar melhorar as condições operacionais entre os dois governos. Em 13JUN2015, Shannon teve um encontro com o chanceler de Maduro e com o presidente da Assembleia Nacional e homem forte do regime, Diosdado Cabello. A reunião com Cabello, realizada no Haiti, mostrou que Shannon estava desenvolvendo sua própria agenda abertamente complacente com o regime chavista. Shannon foi acusado de ter interrompido ou paralisado sanções contra líderes chavistas durante 2016.
Em troca de limitar as sanções, Shannon ofereceu à Casa Branca e à liderança da oposição um esquema para superar a crise na Venezuela por meio de uma mesa de diálogo entre o governo e a oposição aliança MUD. Para a encenação da negociação, Shannon contou com a conivência de um aliado de Maduro que na época era secretário-executivo da extinta UNASUL: o colombiano Ernesto Samper Pizano.
A influência de Shannon sobre a política dos EUA em relação à Venezuela seria sentida mesmo durante os primeiros anos do mandato de Trump.
Thomas Shannon assiste a uma reunião entre Nicolás Maduro e o secretário de Estado John Kerry, 26SET2016, em Cartagena, Colômbia. Foto: Departamento de Estado – EUA.
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No dia em que Shannon deixou o Departamento de Estado, ele recebeu uma placa assinada por Mike Pompeo, que o chamou de inspiração para as futuras gerações de diplomatas americanos. Shannon tinha diante de si a opção de usar sua experiência como base para uma carreira política. Ele se tornou membro do heterogêneo Inter-American Dialogue (Diálogo Interamericano), um “think tank de política externa” com sede em Washington, do qual ele é agora vice-presidente.
A lista de membros do Diálogo Interamericano inclui membros da esquerda VIP latino-americana, como a ex-presidente chilena Michelle Bachelet ou a esquerdista brasileira Marina Silva, além de social-democratas como Fernando Henrique Cardoso, direitistas como o vencedor do prêmio Nobel Mario Vargas Llosa, a ex-presidente da Costa Rica Laura Chinchilla ou a ex-vice-presidente colombiana Marta Lucía Ramírez. Aliás, Chinchilla e Ramírez estiveram em Brasília como observadores no primeiro turno das eleições brasileiras de 02OUT2022, mas não como membros do Diálogo Interamericano, mas em nome do Instituto para Democracia e Assistência Eleitoral IDEA.
Um editorial do DefesaNet publicado no dia 23SET2022 apontou Shannon como chefe de uma operação para desestabilizar o governo de Jair Bolsonaro e apoiar a candidatura de Lula da Silva às eleições presidenciais. O Diálogo Interamericano e a influência que Shannon manteria no Departamento de Estado norte-americano teriam sido as ferramentas segundo DefesaNet. Este relatório se comunicou sem sucesso com Shannon, via e-mail, solicitando seus comentários sobre as informações de DefesaNet.
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Além de ingressar no Diálogo Interamericano, Shannon optou por fechar as portas para a carreira política e preferiu tornar-se agente de governos estrangeiros. Em 2018, ingressou na empresa “Arnold & Porter Kaye Scholer LLP“, em Washington, como Consultor Sênior de Políticas Internacionais. A partir daí, atuou, entre outras funções, como agente do governo de esquerda argentino na capital norte-americana, segundo registros de agentes estrangeiros mantidos pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
Como parte da equipe da A&P, Shannon trabalha diretamente em projetos de apoio ao governo argentino, o que significa contato permanente com a Embaixada do governo argentino em Washington. Shannon tem sido responsável por fornecer “assessoria estratégica” ao governo argentino Kirchner “no que diz respeito às políticas relacionadas ao comércio internacional, oportunidades de investimento e questões financeiras“, além da questão da dívida externa. Em documento apresentado pela A&P ao Departamento de Justiça, em 06MAIO2022, consta que Shannon é responsável por fornecer “assessoria estratégica e assistência ao governo da Argentina em seu relacionamento com os Estados Unidos”, o que inclui facilitar reuniões com o oficiais do governo dos EUA.
Presidente da Argentina Cristina Fernandez de Kirchner e o Assistant Secretary of State for Western Hemisphere Affairs, Thomas Shannon na Casa Rosada, 10 Julho 2008. Shannon procura acalmar o governo argentino sobre a decisão de reativação da IV Frota Americana. Nota não foram encontradas boas imagens de Shannon com Alberto Fernandez recentes.
O contrato pelo qual Shannon atuou como agente do governo de Alberto Fernández terminaria em 30JUN12022, mas em 06MAIO22 a firma colocou Shannon como operador do contrato de representação da empresa YPF S.A. A petroleira controlada pelo governo argentino contratou os serviços de lobby de Shannon sob o pretexto de comemorar o centenário de fundação da empresa em Washington. Para esta missão, Shannon vinculou sua atividade de assessor com seu cargo de diretor do Diálogo Interamericano.
Uma das atividades do escritório para o governo argentino foi organizar e participar de um jantar na residência do embaixador argentino em Washington, nos dias 16-22MAIO2022, no qual os convidados especiais teriam sido o diretor para o Brasil e o Sul Cone no Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca Amy Radetsky e, o Secretário Adjunto de Defesa para o Hemisfério Ocidental Daniel Erikson que faz parte da equipe de “especialistas” do “Diálogo Interamericano”.
Na A&P, Shannon também foi responsável por ajudar os governos do Uzbequistão e El Salvador a melhorar suas relações com o governo dos EUA. Por certo. Na lista de clientes estrangeiros reportados pela A&P para os quais atua como agente nos EUA, aparece a “República Bolivariana da Venezuela sob o presidente Juan Guaidó”, que teria contratado serviços de apoio em investigações legais e não para lobby político. Segundo a A&P, Shannon não participaria diretamente das negociações para o “governo Guaidó”.
Thomas Shannon conversa com Alberto Fernández, Héctor Timerman (Chanceler Argentino) e John Wayne (embaixador norte-americano em Bunos Aires) em um encontro diplomático ndurante os governos Kirchner Foto INFOBAE
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Em 23JUL2022, em declarações à Folha de São Paulo, Shannon acusou Bolsonaro de preparar o caminho para uma ruptura institucional por não conhecer os resultados das eleições de outubro. Em declarações feitas em 30SET2022, publicadas no portal Valor Econômico poucas horas antes do primeiro turno das eleições presidenciais, Shannon afirmou que os EUA preferiam uma vitória de Lula da Silva, o que permitiria maior compromisso entre os dois países. O diplomata aposentado, agora empregado do governo de esquerda argentino, apareceu na imprensa brasileira como se fosse um porta-voz não oficial do governo de seu país.
Segundo Shannon, os EUA e Lula compartilham “um compromisso com a democracia e os direitos humanos que cria a base para um diálogo mais amplo sobre nossa aliança estratégica“. Com isso, mais uma vez, Shannon ignora a grave situação de violação de direitos humanos na Venezuela e em Cuba, regimes com os quais Lula mantém relações de parceria política e aos quais se beneficiou com créditos de bancos estatais brasileiros.
Shannon garantiu à jornalista Marsílea Gombata, do Valor Econômico, que a vitória de Lula permitiria ao Brasil participar junto com os governos de esquerda da Colômbia, Chile e Argentina em um mecanismo semelhante ao Grupo Contadora (esquema diplomático criado por Colômbia, México, Panamá e Venezuela em anos oitenta do século passado buscando um acordo de paz na América Central) para tratar do caso venezuelano fora dos Estados Unidos.
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As eleições brasileiras tornaram-se um tema de relevância internacional em que porta-vozes de forças políticas estrangeiras não hesitaram em intervir. Esta é uma novidade na política brasileira, um país onde as elites partidárias gostam de se imaginar agindo isoladas do continente que habitam e do planeta que as observa.
As declarações de Shannon, sem dúvida, representam parcelas específicas de clãs políticos e empresariais dos EUA, que têm cotas de poder no governo Biden.
Enquanto Donald Trump gravava um vídeo apoiando Bolsonaro, o senador de esquerda Bernie Sanders e o ex-linguista Noam Chomsky defendem Lula ao mesmo tempo.
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