Com um desfile militar mais enxuto do que no ano passado, a Rússia estaria enfrentando dificuldades em repor seu arsenal de mísseis de precisão devido às sanções impostas por países ocidentais.
De acordo com observadores, o Kremlin também sofreria com a perda de generais que enfraquece suas tropas. Durante o desfile de celebração dos 77 anos da vitória soviética sobre os nazistas, em 9 de maio, a Rússia exibiu, como de costume na data, seu poderio militar com tanques, artilharia e até mísseis intercontinentais para ogivas nucleares.
Mas, segundo observadores, se comparado com o desfile de 2021, o número de tanques presentes na Praça Vermelha, em Moscou, na segunda-feira (9), era muito mais modesto, assim como o de soldados. Isto poderia ser um resultado da guerra na Ucrânia.
De acordo com um responsável do Pentágono, o efeito das sanções internacionais na indústria russa do armamento já está sendo sentido. O Kremlin encontra dificuldades para repor os mísseis guiados usados pelo Exército na Ucrânia, devido ao embargo sob peças eletrônicas ao qual a Rússia está sujeita.
O Exército russo teria lançado tantos mísseis na Ucrânia que armamentos guiados de precisão estão em falta, indicou à imprensa o alto responsável americano que não quis ser identificado.
Por isso, as grandes cidades como Mariupol ou Kharkiv são alvos de “bombas não teleguiadas”, que não estão adaptadas para “diferenciar entre um alvo militar e um imóvel de residências”, explicou.
Problemas de bastecimento e disciplina De acordo com a mesma fonte, as forças russas também continuam a sofrer com problemas de abastecimento e de disciplina, até mesmo entre os oficiais que “se recusam a obedecer às ordens e a avançar”, indicou.
Diante da resistência ucraniana e com a ajuda militar americana – que deve aumentar após o presidente Joe Biden reabilitar um mecanismo usado na Segunda Guerra Mundial – a operação russa no sul do país “quase não avançou nos últimos dias”, de acordo com um responsável do ministério americano da Defesa.
No Donbass, “os russos não estão em condições de fazer qualquer progresso significativo”, disse, explicando este fracasso pela incapacidade das forças russas de coordenar seus ataques aéreos com suas manobras em campo.
Problemas com a previsão meteorológica também teriam causado contratempos, já que os solos lamacentos obrigariam os tanques a permanecer em estradas asfaltadas. “Eles não resolveram todos os seus problemas de logística e de manutenção”, indicou. “Nós vemos ainda que eles terão dificuldades em reabastecer o Exército”, acrescentou.
Baixas na artilharia A Rússia também sofre com a perda de generais que enfraquece a sua artilharia. As mortes de ao menos 12 oficiais russos teriam sido resultado de informações essenciais fornecidas à Ucrânia pela Inteligência americana.
Moscou reconheceu que o apoio ocidental havia dificultado a “operação militar especial” russa, na quinta-feira (5). O jornal New York Times revelou, no mesmo dia, que as informações fornecidas por Washington a Kiev haviam permitido atingir “vários generais russos”, mas estas informações foram desmentidas pelo Pentágono.
Em entrevista à RFI, o diretor da equipe de Estudos de Inteligência do Conservatório nacional de artes e profissões (Cnam) da França, Gérald Arboit, disse que não são apenas os Estados Unidos que estão por trás da Ucrânia, mas toda a OTAN.
O apoio se resume, segundo ele, “primeiramente em uma ajuda estratégica na interceptação de sinais de celulares russos, capz de indicar o dia, a hora e os encontros dos oficiais, por exemplo, e pela utilização de imagens de satélites. É dessa maneira que no primeiro dia de guerra, 24 de fevereiro, os russos falharam todos os seus alvos”, explica.
“Depois tem a informação operacional, com os radares de contrabateria que permitem ver onde os russos atiram”, completa Arboit. “Enfim, desde o começo do conflito, aviões Awacs voam acima da Romênia, em um territorio da OTAN, e interceptam as comunicaçoes na Ucrânia”, afirma.
De acordo com o especialista, essas informações são cruciais, porque permitem mostrar a posição dos militares. “Isso começa a representar um problema”, analisa.
(Com informações da RFI e da AFP)