FERNANDA MENA
DE SÃO PAULO
A Operação Alethéia, 24ª fase da Lava Jato, que conduziu coercivamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para depor em São Paulo, deve aprofundar a crise política e acirrar os confrontos entre governistas e oposicionistas, inclusive com episódios de violência nas ruas.
Essa é a hipótese –e preocupação– a que chegaram, por caminhos diferentes, intelectuais ouvidos pela Folha.
"A tendência à violência de rua é muito forte porque existem elementos que podem justificar o discurso de Lula e do PT de que eles são perseguidos", avalia o cientista político Aldo Fornazieri.
"Se, pela via institucional não se vê saída, os conflitos passam a ser resolvidos na rua, o que é muito grave para um país. Mais grave ainda quando o Judiciário é arrastado para dentro do processo de radicalização política."
Para ele, isso se deve a questionamentos feitos à Lava-Jato, como vazamentos supostamente seletivos e o fato de Aécio Neves ter sido citado em delações sem que isso desencadeasse ações. "As autoridades têm de ter muita serenidade para evitar a radicalização do processo político no país".
O filósofo Roberto Romano diz que "se não se assumir uma prudência muito grande, a coisa pode degringolar, o que plantará uma situação ainda mais difícil para a falta de governabilidade que o país já enfrenta atualmente."
Segundo ele, nenhum dos poderes funciona normalmente no momento. "A presidente não consegue governar e está ameaçada de impeachment. O presidente da Câmara virou réu da Lava-Jato. O do Senado pode virar a qualquer momento. E o Ministério Público tem trabalhado a toque de caixa, em ritmo de urgência."
Para Renato Janine Ribeiro, professor de ética e filosofia política e ex-ministro da Educação do governo Dilma, a operação contra Lula foi "abusiva". "Não se trata um ex-presidente da República desse jeito. Ele deveria ter sido convidado a depor primeiro. E isso agrava uma situação política que já era delicada."
"As mesmas pessoas que comemoraram esta ação estariam escandalizadas se a Polícia Federal batesse na porta de Fernando Henrique Cardoso para ele depor sobre a Brasif [empresa que teria sido usada para o envio de recursos de FHC para sua ex-amante]. Não pode haver dois pesos e duas medidas na Justiça."
IMAGEM DE LULA
Para Romano, apesar da operação Aletheia, "o mito Lula vai sobreviver de maneira reduzida àqueles que sempre foram seus fiéis seguidores".
Fornazieri calcula que ela aprofunda o desgaste de Lula e do PT, cuja recuperação depende da capacidade de reação do partido. "O PT tem se mostrado tímido, quase acovardado e, neste episódio, reagiu de forma confusa."
Já Janine Ribeiro, avalia que, "para a direita, a operação equivale à condenação de Lula, uma vez que ela tem se comportado como se qualquer pronunciamento do aparelho judicial implicasse numa condenação". "Para a esquerda, a operação representa a consagração de Lula como mártir político."
Com isso, diz, fica cada vez mais difícil a negociação de uma saída para a crise.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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Hora a hora – Cronologia do depoimento de Lula |
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