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China envolve América Latina em ‘armadilha de dinheiro’, diz comandante americano

 

Redação DefesaNet

e Agências

A China está envolvendo a América Latina com uma "armadilha de dinheiro", e em conjunto com a Rússia e outros países faz parte de um "círculo vicioso de ameaças" que põe em risco a segurança e a estabilidade da região.

As afirmações foram feitas pelo almirante Craig Faller, chefe do Comando Sul das Forças Armadas dos Estados Unidos (US SOUTHCOM), durante seu depoimento anual sobre a região ao Congresso americano nesta quinta-feira (30JAN2020).

Almirante Faller Comandante do US SOUTHCOM, no Senado Americano (30JAN2020)

O Almirante Faller (SOUTHCOM) observou que, para os Estados Unidos e os países da região de ação do SOUTHCOM, o Hemisfério Ocidental é "nosso lar compartilhado".

"É o nosso bairro", disse ele ao comitê. "Estamos conectados às nações de todos os domínios – mar, ar, espaço, terra, cyber e, o mais importante, cultural e com valores".

No último ano, o almirante disse que visitou parceiros e viu em primeira mão as oportunidades e os desafios que afetam diretamente a segurança do Hemisfério Ocidental. "Passei a descrever os desafios como um círculo vicioso de ameaças que deliberadamente destrói a segurança e a estabilidade dessa região nos Estados Unidos da América", disse ele aos senadores.

Esse círculo vicioso é enquadrado pelas questões sistêmicas das jovens democracias, com instituições fracas e corrupção desenfreada, observou ele. Exploradas por organizações criminosas transnacionais que geralmente são mais bem financiadas do que as organizações de segurança, ele disse que enfrentam atores estatais externos que não compartilham valores democráticos. China, Rússia, Irã e organizações extremistas violentas estão tentando promover seus interesses às custas da segurança dos EUA e das nações parceiras, disse Faller.

"Quando o Departamento de Defesa priorizou a região do Indo-Pacífico [desde o governo de Barack Obama], Pequim virou sua atenção agressivamente para o hemisfério ocidental, exportando práticas comerciais corruptas para países que já lutavam com corrupção do governo e má gestão", afirmou o militar.

O quadro sombrio da apresentação de Faller tinha um objetivo: evitar o previsto corte de pessoal que o Pentágono está estudando para o Comando Sul, responsável pelos interesses americanos na América do Sul, Central e no Caribe.

Para o almirante, isso é um contrassenso, dado que a presença chinesa e russa cresceu em 2019 na região. Ele estimou em US$ 180 bilhões os investimentos diretos de Pequim em países latinos, notadamente em infraestrutura e no setor de telecomunicações, campo de uma disputa particular com Washington acerca da tecnologia 5G.

A ditadura chinesa dá "presentes significativos" para os países, tornando-os alvos da "armadilha do dinheiro", disse.

 

Na região, 19 países aderiram ao plano estratégico de infraestrutura de Pequim, a Iniciativa Cinturão e Rota, e 25 das 31 nações latino-americanas sediam projetos chineses. O Brasil tem na China seu maior parceiro comercial, por exemplo.

Brasília, que já gestão Michel Temer (MDB) havia se aproximado do comando ao aceitar o envio inédito de um general para um cargo de integração de operações, definiu o alinhamento com os EUA como prioridade estratégia sob Jair Bolsonaro.

Essa mudança política não foi citada por Faller, que no entanto só fez elogios ao país, citando o aprofundamento das relações na área militar com operações conjuntas e a concessão do status de aliado preferencial dos EUA fora do escopo da Otan (aliança militar do Ocidente).

Sem nomear o acordo para o uso da base de Alcântara (MA) pelos EUA, disse que a "cooperação espacial" com o Brasil é um exemplo de como se pode conter a influência da China na região.

Tanto o acordo como a ida do general foram alvos de críticas à esquerda no Brasil. A desconfiança latino-americana em relação aos EUA remonta à Doutrina Monroe, que no século 19 priorizava a região, com a visão de quintal explicitada no começo do século 20 –isso para não falar ao longo apoio a golpes.

Faller fez uma análise nada elogiosa ao ambiente político. "Devido aos altos níveis de insegurança e frustração com a corrupção dos governos, o apoio à democracia na região está no pior nível em 15 anos, permitindo que atores estatais malignos aumentem sua influência. Alguns países estão experimentando retrocessos, outros indo direto ao autoritarismo", disse, dando como exemplos pontuais a Venezuela e a Nicarágua.

Patrulha do USS Detroit (LCS 7) e Destroyer Classe Arleigh Burke USS Gridley (DDG 101) na área de atuação do U.S. Southern Command no Caribe

Já sobre a Rússia, a acusação do Comando Sul é mais ao estilo Guerra Fria. Ele citou a presença de navios avançados russos em portos venezuelanos ao longo de 2019, ano em que ficou aguda a crise do governo do ditador Nicolás Maduro, inimigo declarado dos EUA.

Faller reuniu diversas acusações que já fizera ao longo do ano passado acerca da presença de elementos radicais do Hizbullah libanês e da Al Qaeda na região, citando a colaboração com o Brasil na busca e identificação de um suspeito de pertencer à rede terrorista fundada por Osama bin Laden.

Eles também citou a influência do Irã, país com quem os EUA quase travaram uma guerra no começo de janeiro, junto a Maduro.

"Esses atores estatais malignos são parte de um círculo vicioso de ameaças que deliberadamente erode a estabilidade e a segurança da região", disse.

Ele completou afirmando que "questões sistêmicas de democracias jovens, usualmente com governança fraca e arcabouços legais porosos" são aproveitadas por países, organizações criminosas e grupos terroristas.

Nota DefesaNet

Abaixo a íntegra da apresentação do Almirante Faller ao Senado Americano. Em amarelo partes consideradas relevantes por DefesaNet.

SASC SOUTHCOM Posture State… by nelson during on Scribd

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