Roberto Godoy
Estado São Paulo – 08 JAN 2017
O campo de batalha da guerra do crime no Brasil é a linha de fronteira, quase 17 mil km de rios, florestas, montanhas, pântanos e savanas pouco controlados pelo estado nacional. O conflito envolve dinheiro, muito dinheiro; movimenta qualquer coisa como meio bilhão de dólares por ano, segundo as agências de inteligência e repressão aos narcotraficantes do governo dos Estados Unidos. O que está em disputa pelas facções envolvidas, como o PCC e o Comando Vermelho, é o controle da circulação da cocaína. a mercadoria que mobiliza essa imensa economia clandestina.
Os grandes centros produtores ainda estão instalados em países da vizinhança regional – Colômbia, Peru, Bolívia e em menor escala, a Venezuela. Mas é apenas uma questão de tempo até que o País, usado como entreposto comercial pelo narcotráfico internacional, passe a ser também um importante fornecedor, acreditam especialistas da Polícia Federal e analistas do Exército.
Os serviços de informações das Forças Armadas localizaram em 2013 ao menos 60 pistas irregulares, sete delas próximo das linhas de fronteira com a Colômbia e o Peru. Serviriam ao escoamento da pasta de coca e de ouro garimpado clandestinamente em toda a região. Outros produtos contrabandeados, os eletrônicos principalmente, são trocados por armas.
O crime organizado é uma ameaça à segurança e à defesa da América Latina e Caribe.
Abrange fundamentalmente o tráfico de drogas semi processadas, a receptação de fuzis e munições, o desvio de componentes eletrônicos, o sequestro, a ação de piratas e de traficantes de pessoas. Segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Londres, o Brasil reage fortemente a essa situação.
Mantém as Forças Armadas mobilizadas e atua nas fronteiras com emprego de tropas e equipamentos em condição de combate. Está preparando uma grande blindagem tecnológica: o SISFRON, que deve fechar as fronteiras.
O módulo inicial, cobrindo de sensores, radares, tropas e sofisticados recursos de monitoramento cerca de 700 km, funciona em Dourados, no Mato Grosso do Sul, voltado para a Bolívia e o Paraguai. O conjunto completo, cobrindo 16.886 km, deveria ser entregue em 2021 a um custo de R$ 10 bilhões. Os recursos foram cortados seguidamente nos últimos anos. Na atual cadência de implantação, o sistema só será concluído entre 2035 e 2037.
O inimigo cresce. Um documento do Conselho Nacional de Inteligência dos Estados Unidos destaca: desde 2014 corporações criminosas como os Zetas, os Cavaleiros Templários II e o Cartel de Jalisco Nova Geração – de origem no México, com ramificações na América Central – estão adquirindo certa capacidades paramilitares.
São treinados por mercenários e se organizam em pelotões de 20 a 60 homens, ou em companhias de até 250 indivíduos, os ‘corazón hermanos’. Combinados com o grupo Mara Salvatrucha, de El Salvador, e o Comando Rojo, da Guatemala,operam um quadro estimado em 70 mil militantes.
"Eles avançam inexoravelmente rumo à América do Sul, olhando os grandes mercados, trabalhando como empresários, mas devastando tudo como gafanhotos", analisa o pesquisador Martin Rames, da Universidade Autônoma do México.