As cinco ex-repúblicas soviéticas do Cazaquistão, Turcomenistão, Tadjiquistão, Uzbequistão e Quirguistão são consideradas terreno fértil para o recrutamento de membros do grupo terrorista "Estado islâmico" (EI). A recente identificação de um originário da Ásia Central como principal suspeito pelas mortes na noite de Ano Novo em Istambul, confirma essa avaliação.
A polícia turca prendeu em 16 de janeiro, num bairro da metrópole, Abdulgadir M., nascido em 1983 no Uzbequistão. Em sua posse foram encontradas grandes somas de dinheiro e armas. Segundo o governador de Istambul, Vasip Sahin, trata-se de um terrorista que recebeu treinamento no Afeganistão.
A imprensa nacional já havia apontado como quirquiz ou uzbeque o autor do ataque reivindicado pelo EI, que matou 39 pessoas em uma casa noturna. Oficiais de segurança do Uzbequistão estão analisando os relatórios que chegam da Turquia, informou a agência de notícias Interfax.
Centros de recrutamento
Ataques anteriores, como o do aeroporto de Istambul, em junho de 2016, também contaram com a participação de indivíduos do Quirguistão e de outros países da Ásia Central. Não há números exatos sobre quantos centro-asiáticos estão combatendo na Síria e no Iraque.
Em dezembro de 2015, a empresa de consultoria política baseada em Nova York The Soufan Group estimou em 4.700 o total de membros do EI originários da antiga URSS. Mais da metade deles, no entanto, seriam cidadãos russos, principalmente de repúblicas do Cáucaso como Tchetchênia, Inguchétia e Daguestão; enquanto a maioria dos 500 combatentes da Ásia Central seria de uzbeques e quirguizes.
Outras fontes apontam um número igual de tadjiques lutando pelo EI. Do Tajiquistão é o militar com a patente policial mais alta a desertar da Ásia Central para se juntar ao EI: em 2015 o coronel Gulmurod Khalimov, de 41 anos, comandante de uma unidade de elite, trocou seu país pela Síria. Em novembro de 2016 o Ministério tadjique do Interior anunciou uma caça internacional a Khalimov.
Terroristas por motivos econômicos
É provável que muitos membros do EI originários da Ásia Central tenham morrido durante os ataques realizados pela coalizão internacional no Iraque e na Síria. Especialistas russos como Andrei Serenko, do Centro de Estudos sobre o Afeganistão, acredita que muitos estão tentando voltar para seus países de origem através da Turquia.
Lev Korolkov, outro especialista na região, que a mídia russa identifica como um ex-oficial de inteligência, confirma essa conclusão: "Muitos combatentes que tinham trazido suas famílias estão voltando pela Turquia e se dispersaram por lá", outros teriam se mudado para outros países, como a Líbia ou o Afeganistão.
Serenko aponta uma nova tendência: o recrutamento do EI teria se tornado uma espécie de "migração laboral": "Segundo estimativas de analistas, mais nativos da Ásia Central estão abraçando a jihad mais por razões financeiras do que por motivos ideológicos."
Segundo Korolkov, muitos jovens centro-asiáticos que perderam o emprego na Rússia acabam sendo presa fácil para os recrutadores do EI ao voltarem para casa. No momento Moscou conduz uma política de imigração bastante restritiva, e a vida nos Estados muçulmanos da região vem se tornando cada vez mais difícil economicamente, devido ao desemprego e a inflação.
Combate ao terror não cessa
Da Rússia e das repúblicas centro-asiáticas chegam regularmente notícias de prisões e condenações de recrutas do EI e de suspeitos de terrorismo. No Tajiquistão, no início de dezembro, um tribunal sentenciou homem a 17 anos de prisão, acusado de recrutar compatriotas seus para a guerra da Síria, além de lhes fornecer passagens aéreas para a Turquia.
No mesmo mês, na cidade russa de Rostov-do-Don, um russo e um quirguiz foram condenados a longas sentenças de prisão por terem supostamente treinado com terroristas na Síria e no Iraque.
Na Rússia, vários grupos foram desarticulados no final de 2016. Segundo as autoridades, eles planejavam ataques, inclusive na capital Moscou. A maioria dos suspeitos vem do Tajiquistão, Uzbequistão e Quirguistão.