Daniel Buarque
A guerra contra o tráfico de drogas e as operações de pacificação de favelas do Rio de Janeiro se consolidam como um importante capítulo da história do envolvimento do Brasil em conflitos.
Este tipo de ação interna do Exército brasileiro ganhou atenção em uma enciclopédia internacional sobre guerras publicada recentemente pela editora acadêmica Sage, especializada em trabalhos ligados a universidades.
O trabalho alega, entretanto, que ''a luta contra o crime não é uma missão das forças armadas e pode permitir o aumento do uso excessivo da força contra a população''.
A ''SAGE Encyclopedia of War: Social Science Perspective'' (Enciclopédia da Guerra Sage: Perspectiva de Ciência Social) traz um verbete sobre o envolvimento do Brasil em guerras ao longo da sua história, e culmina nas ações militares nas favelas do Rio.
''As Forças Armadas brasileiras foram chamadas a liderar missões específicas em favelas do Rio de Janeiro. Dentro do programa de pacificação criado pelo Departamento de Segurança do Rio de Janeiro, os militares têm ajudado a polícia desde 2010. O papel do Exército tem sido de recuperar territórios que haviam sido ocupados por décadas por traficantes e milícias, como o Complexo do Alemão e a Maré'', diz.
A enciclopédia defende que a pacificação tem benefícios para os moradores dessas comunidades, mas que é uma política frágil para a integração das favelas nas grandes cidades e que não contribui para a eliminação das enormes desigualdades sociais.
O capítulo que trata do Brasil na enciclopédia aborda ''como o Brasil esteve envolvido em conflitos de intensidades variadas em sua história e foca na discussão dos episódios mais importantes, incluindo a Guerra do Paraguai, o envolvimento na Segunda Guerra Mundial, a experiência recente em operações de paz pelo mundo e operações de pacificação em favelas (bairros pobres) controladas por traficantes no Rio de Janeiro'', resume o trabalho.
O texto, em inglês, começa tratando das guerras coloniais no território brasileiro, ainda nos séculos 16 a 18, em seguida aborda a consolidação militar do país e do seu envolvimento na Guerra do Paraguai. O trecho seguinte analisa rapidamente a participação do Brasil nas duas guerras mundiais, mencionando missões preparatórias de dezenas de soldados no primeiro conflito e o envio de 22 mil homens para o confronto da Segunda Guerra Mundial.
A próxima parte já menciona a participação de militares brasileiros em ações dentro do território do país, destacando a ditadura militar como um episódio importante para a história das guerras do Brasil.
''Depois de 1960, o Brasil começou a estudar e desenvolver sua própria doutrina militar, com apoio dos EUA, adaptando o modelo norte-americano às condições da realidade brasileira. Fortemente ideologizados, os militares brasileiros assumiram a missão de combater o comunismo por meio da chamada Doutrina de Segurança Nacional, decidindo também passar de intervenções esporádicas na vida política nacional ao controle total do Estado'', diz a enciclopédia.
Depois da ditadura, o próximo ponto importante da participação brasileira em conflitos é o envolvimento em missões de paz da ONU. ''O Brasil se tornou um importante ator em várias missões de paz da ONU, como em Angola, Moçambique e no Timor-Leste, além de enviar tropas e observadores militares a vários conflitos pelo mundo'', diz o texto, que destaca o comando das forças de paz no Haiti a partir de 2004.
O projeto da editora acadêmica Sage foi publicado no início deste ano, tem mais de 2.100 páginas e reúne mais de 650 verbetes organizados de A a Z e escritos por acadêmicos de todo o mundo. O objetivo da enciclopédia é analisar conflitos sob a ótica das ciências sociais, avaliando causas, processos e efeitos de guerras.
A enciclopédia é organizada pelo sociólogo Paul Joseph, professor da universidade Tufts, nos Estados Unidos. O verbete sobre o Brasil na enciclopédia foi escrito pelo professor Marcos Alan S. V. Ferreira, do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba.
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