LUCAS FERRAZ
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
A ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) monitorou um conjunto de salas alugadas pela embaixada dos Estados Unidos em Brasília por suspeitar que eram usadas como estações de espionagem.
A operação "Escritório" é descrita em relatório elaborado pelo Departamento de Operações de Inteligência da ABIN e obtido pela Folha. Segundo o documento, os agentes brasileiros concluíram que os americanos tinham ali equipamentos de comunicação, rádios e computadores.
"Funcionando diariamente, com as portas fechadas e com as luzes apagadas, e sem ninguém trabalhando no local", diz o relatório. "Esporadicamente a sala é visitada por alguém da embaixada."
Como as outras operações descritas no documento da ABIN, a "Escritório" foi classificada pela agência como uma ação de contraespionagem.
As salas alugadas pela embaixada dos Estados Unidos ficam no último andar de um prédio comercial de três pisos no Setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul, um bairro nobre da capital federal.
Dez anos depois da elaboração do relatório da ABIN, a rotina parece ter mudado pouco, segundo o relato de pessoas que trabalham no prédio e conforme pôde verificar a reportagem da Folha em visita na semana passada.
As salas alugadas pelos americanos são as únicas do prédio protegidas por grades de ferro. O zelador do prédio, que preferiu não se identificar, relatou nunca ter visto alguém frequentando o local.
O centro comercial é frequentado principalmente por empregados das mansões do Lago Sul. Também funcionam no local um supermercado, uma loja de cosméticos, um ateliê de costura e um restaurante, entre outras coisas.
Editoria de Arte/Folhapress |
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RÁDIOS
Procurada, a embaixada dos Estados Unidos afirmou que essas salas – como outras alugadas pela representação em Brasília- são usadas para guardar equipamentos de comunicação simples, como rádios walkie-talkie.
Os aparelhos de rádio, ressaltou, são usados por funcionários do corpo diplomático somente em situações de emergência. Segundo a embaixada, o funcionamento dessa estrutura foi autorizado pela ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações).
A embaixada negou qualquer ligação das salas com atividades de espionagem da CIA, a agência de inteligência americana, ou da NSA, a Agência de Segurança Nacional, que monitora comunicações telefônicas e na internet.
Documentos vazados pelo analista americano Edward Snowden revelaram que os EUA mantiveram no Brasil estações de espionagem pelo menos até o ano de 2002. As atividades eram realizadas por pessoas que se passavam por diplomatas americanos.
Em julho, o jornal "O Globo" informou que Brasília fez parte de uma rede de 16 bases dedicadas a colher informações transmitidas por satélites de outros países.
Agentes do serviço de inteligência brasileiro disseram à Folha que o lugar provavelmente é usado como estação de espionagem ainda hoje.
Um deles, que pediu para não ser identificado, afirmou que é comum a CIA manter no exterior imóveis para espionagem. Ele próprio, recém-aposentado, disse ter sido convidado por agentes americanos para administrar um desses aparelhos no Brasil, mas recusou a oferta.