André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos.
Após quase uma década do último grande atentado terrorista a um país ocidental, ocorrido no metro de Londres, em 2005, o Reino Unido retorna a emitir alerta máximo contra uma possível ocorrência. A diferença de ambos os contextos não poderia ser mais distinta.
O conceito de guerra preventiva, pós-11-S, que levou uma força de coalizão a invadir o Iraque e os impactos que se seguiram com o uso indiscriminado de veículos aéreos nãos tripulados (VANT) prisões arbitrárias, eliminações sumárias, acabou por reforçar o pretexto dos radicais islâmicos em sua ideologia. E, o conflito Sírio foi a grande oportunidade para testarem sua capacidade de reestruturação e reação.
A retirada das forças militares, sem o cumprimento dos objetivos primeiros, foi desastrosa sob o ponto de vista de uma guerra assimétrica sugerindo que não foram capazes de derrotar a insurgência, que crescia.
Assim, a capacidade militar do Exército Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) em termos de táticas e estratégias foi menosprezada tanto por analistas norte-americanos como ingleses. Ambos, apostavam em uma forte insurgência após sua retirada, contudo, não contavam com a formação de um novo grupo terrorista surgido dos antigos insurgentes e membros da Al Qaeda, hierarquizado, com armas modernas e táticas de combate agressivas que fazem desta última, uma escola primária.
Este componente, fez com que dominassem as maiores cidades do Iraque, na tentativa de fundar um Estado Islâmico que hoje, está próximo de se tornar uma realidade, e manter a guerra civil Síria em situação indeterminada, situações críticas que o próprio Conselho de Segurança das Nações Unidas não conseguiu evitar.
As técnicas de tortura em prisioneiros, reproduzidas dos militares norte americanos e agentes da CIA, como a simulação de afogamento ou Waterboarding, descrita em detalhes no livro Decision Points do ex-Presidente, George W. Blush, estão sendo utilizadas por combatentes do EIIL, com clara eficiência, constituindo-se em fonte de terror naquelas populações. Os recentes depoimentos de refugiados para a Human Rights Watch (HRW) são estarrecedores a este respeito e sugerem a existência de uma nova e mais temível Abu Ghraib.
Nesta conjuntura, que podemos classificar caótica, uma das questões mais inquietantes, tanto para os EUA como para o Reino Unido, é o fato de que uma pequena parcela de seus jovens cidadãos, que segundo estimativa oficial está em cerca de três mil pessoas, foram recrutadas, treinadas e agora lutam como combatentes do EIIL, apresentando o mesmo perfil psicológico dos radicais islâmicos. O terrorista, que em vídeo, apareceu decapitando o jornalista norte americano, James Foley, na Síria, possui sotaque inglês, segundo análise processada pela inteligência. E alguns dos combatentes extremistas mortos nestes dois conflitos, foram posteriormente identificados, como de nacionalidade inglesa e norte americana.
Desta forma, estamos diante de uma nova estratégia terrorista, digna dos estratagemas de Sun Tzu em seu clássico “A arte da guerra”. Já que a entrada nestes países, especialmente a partir do 11-S, tornou-se dificultosa, tanto pelo rigorismo das leis antiterroristas e de imigração, como pelo monitoramento eletrônico e de vigilância constante realizado por agências de inteligência e segurança, a alternativa encontrada foi recrutar futuros combatentes entre os próprios cidadãos destes países. Aqui, reside o maior medo do ocidente. A prática de ações terroristas de larga escala em seus territórios, perpetradas por seus próprios cidadãos, de retorno da Jihad no Iraque e na Síria. Estas, ainda não ocorreram mas a hipótese cresce a cada dia, segundo alertam estas mesmas agências de inteligência.
Se tal hipótese se concretizar, poderemos estar diante de uma nova fase do terrorismo radical, muito mais complexa do que ocorreu na década de 2000 com a Al Qaeda. Uma guerra que ainda não conseguimos vencer e, que tenho sérias dúvidas se conseguiremos algum dia, embora todo o aparato tecnológico disponível.
Certa vez alguém cunhou a seguinte expressão: “O terrorismo é como um fantasma, que de tempos em tempos se liberta e retorna a assombrar sempre os mesmos atores”. Por que será que isto acontece?