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Suzano, de paraíso ao inferno. Hoje, cidade modelo do PCC

Fábio Diniz em atividade assistencial em Suzano (SP)

Reportagem Especial
Equipe DefesaNet


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O Editor


Suzano era até começo dos anos 2000 uma das mais belas e pacatas cidades do Alto Tietê, mesmo colada com ao Zona Leste de São Paulo, que detém uma história de violência urbana de ser temida até mesmo pela polícia. Mas um fato mudaria os rumos de Suzano e mostraria que ali imperava um novo governo, o do terror e do narcotráfico.

Final de março de 2006, noite de domingo, por volta das 20 horas. Mais de 50 tiros de submetralhadora e fuzil -armas de uso exclusivo das Forças Armadas- foram disparados na contra a delegacia central de Suzano (Grande SP). O prédio ficou destruído e a cidade em pânico.

Havia oito pessoas no local, sendo 7 policiais e uma mulher que registrava um boletim de ocorrência. Foi quando dois carros, um EcoSport e um Palio Weekend, ambos pretos, pararam na entrada do distrito, na rua Benjamin Constant. Quatro homens desceram dos dois carros e dispararam armas de grosso calibre contra o prédio durante cerca de dez minutos. As balas transpassaram as paredes da delegacia, abrindo rombos imensos.

O motivo: a prisão de Gilmar da Hora Lisboa, 25, o Pebinha, que 10 dias antes foi abordado e preso em Mauá, na Grande São Paulo, e um dos líderes do tráfico no bairro de Suzano, Miguel Badra. O marginal pertencia a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), como foi a conclusão de uma polícia atônita e sem compreender a ousadia dos criminosos. E o recado foi entendido, ali não só governava como prosperava o PCC.

Suzano é estrategicamente situada, próximas de grandes rodovias e com diversas rotas de fuga e distribuição, perto do litoral e com uma população na periferia que cresceu sob o comando do PCC. Eles cumprem o que o Estado deixou de fazer e vão mais além atuando no assistencialismo, dentro das igrejas, na manutenção do laser com os campeonatos de futebol amador. Ao perceberem que o confronto só trazia prejuízo, o alto comando da facção optou por dominar o poder por dentro, corroer uma estrutura já carcomida pela corrupção e pelo descaso”, comentou o policial federal que por anos combateu na linha de frente o PCC.

Os nomes que são citados nesta reportagem fazem parte de investigações do GAECO e da Polícia Federal, além de fatos já identificados, veiculados na imprensa e em redes sociais. São suspeitos, o que os garante a presunção de inocência, até seja comprovada a ligação com o crime e julgados pela Justiça até a corte máxima, em Brasília. O que não é impeditivo para o exercício do jornalismo, mesmo que isso envolva políticos poderosos, o universo empresarial e decisões dos poderes constituídos. 

Cerca de uma década mais tarde. Final de 2017, as ruas centrais de Suzano são tomadas por um grupo de perueiros da CooperSuzan e diversos outros irregulares. A criação desta companhia de transporte alternativo foi gestada no bairro dominado pelo PCC, Miguel Badra, e contou com apoio de diversos políticos. Novamente o noticiário nacional volta suas atenções para a cidade e a ousadia do PCC. Com uma grande faixa em punho e dezenas de cartazes, a manifestação era Prefeito Cumpra o Combinado, com as primeiras letras em destaque formando a sigla PCC.

Nenhum tiro foi disparado, não era mais necessário esse tipo de ação. O “partido” tinha tomado oficialmente o poder. A frente das negociações um integrante do PCC, o vereador Zé Pirueiro, que rapidamente conseguiu abrir as portas do executivo local e ser atendido pelo prefeito Rodrigo Ashiuchi (PL). Inclusive levou toda a comissão da CooperSuzan para o encontro, pousou para fotos e deu o aceno fatal para o Gaeco agir com rigor. Em fevereiro de 2018, ele e outros integrantes da cooperativa seriam presos. Mas isso sequer arranhou a poderosa estrutura engendrada nos poderes públicos.

Operação do grupo especializado em crime organizado do MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) com apoio da Polícia Militar levou o vereador José Carlos de Souza Nascimento (PTB), conhecido como Zé Pirueiro, e pelo menos outras seis pessoas para cumprir prisão temporária, nesta sexta-feira (2), no município de Suzano (Grande SP).

O advogado Dario Resinger Ferreira, atualmente preso e tido como integrante do PCC (além de ser presidente do União Brasil e cotado para ser candidato como vice-prefeito na chapa apoiada pelo atual prefeito) defendeu o vereador e entrou com pedido de habeas corpus para seu cliente. Para o advogado, Zé Pirueiro não pode ficar “nessas situações porque tem problema no coração”.

Resinger foi além, e refutou qualquer ligação do vereador com o crime organizado. Pirueiro continua preso e sua ligação com o PCC foi comprovada, segundo o MP.

Em 2018, a ação batizada como “Operação Cooperativa” investigava há cerca de um ano o suposto uso da cooperativa de transporte público CooperSuzan para beneficiar a facção criminosa PCC. Além das prisões temporárias, foi realizado 12 mandados de busca e apreensão. No local foi apreendida armas, dinheiro inclusive dólar, drogas e telefones, além de documentos.

Quando vimos aquilo, o tamanho da ousadia, soubemos que nossas avaliações estavam corretas. O PCC estava dentro da prefeitura, da câmara e em parceria com polícia e servidores do judiciário. Tivemos que agir rapidamente”, observou o policial.

Mas a prisão de Resinger e de Pirueiro, além de outras lideranças, podem estar por um fio como é temor do MP.   Alguma manobra política pode ocorrer e forçar a soltura de ambos pela Justiça. E interferência tem nome e endereço próximo, além de uma carreira política imensa até chegar a ser um dos mais poderosos do país. Trata-se homem que chefia a política do Alto Tietê, de grande parte do país, o presidente do PL e que já cumpriu sentença preso por corrupção, Valdemar Costa Neto. Ele, inclusive, está levando para as fileiras de seu partido o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Depois que Pirueiro foi preso, rapidamente outro integrante da CooperSuzan apareceu no cenário político para ocupar o espaço. Fábio Diniz vem pelo PL e vence a vaga no legislativo com praticamente a mesma votação do antecessor, cerca de 1,4 mil votos. Presidente e marqueteiro da cooperativa, veio de São Paulo, de Guaianases, e logo assumiu a direção da empresa e estabeleceu um amplo espectro de parcerias e atividades. Elas iam desde sorteios de bicicletas e brinquedos, festas enormes, distribuição de alimentos gratuitamente até seus grandes aliados, os pastores evangélicos das denominações neopentecostais.

Com poder e muito dinheiro, o vereador deixou florescer seu lado vaidoso e ostentador. Fábio Diniz fez tratamento para emagrecer, usa roupas caras e jóias em ouro, relógios e tênis caros, carros de luxo. Mesmo quando frequenta uma das regiões mais violentas da zona leste da Grande São Paulo, o bairro de Suzano Miguel Badra, onde nem a polícia consegue entrar sem ser recebida com tiros e bloqueios nas ruas. Ali, Diniz reinava todo poderoso até o início deste ano. Um desentendimento grave com os diretores da CooperSuzan, gente do “partido”, segundo o policial federal, Marcio Zeca da Silva, o Gordo, e seu irmão Pedro Zeca da Silva, ambos presos recentemente, além de Daniel, conhecido como Fiat, e responsável por ‘aliciamento’ de Diniz para coordenar a empresa de transporte.

Um salve (ver foto acima) foi emitido nas redes sociais dos ‘irmãos’, como são denominados os integrantes do PCC. Ou seja, um decreto para anular Fábio Diniz. O motivo seria ‘traição’ e a determinação de nenhum apoio político ao pré-candidato a reeleição por Suzano. Diniz não se abalou por ser decretado pela maior falha dentro do código do PCC, que é praticamente uma sentença de morte. Ele mantém suas redes sociais recheadas de fotos com políticos, com o prefeito Ashiuchi, ações sociais, pastores parceiros, populares e boleiros, inclusive do campeonato de futebol amador que leva o seu nome e ocorre na periferia de Suzano.

A cooperativa corre agora atrás de outro nome e da tentativa de anular politicamente Diniz, que já galgou condições privilegiadas dentro da câmara de Suzano e conquistou uma rara fidelidade junto ao segmento evangélico, particularmente o existente no bairro Miguel Badra. E ele já pensa em dar voos mais altos, como ser candidato a deputado ou mesmo a prefeito numa próxima eleição. Enquanto o racha numa das mais bem-sucedidas empresas do PCC acontece, o genro e a filha de Diniz , Leandro e Natália, surgem como sócios-proprietários da CooperSuzan, aumentando ainda mais a confusão estabelecida.

“Estamos acompanhando os desmembramentos desta situação, sabemos que a tensão é crescente por aqueles lados (cooperativa). Mesmo assim o tráfico de drogas e de armas não parou na região, as vans continuam atuando de maneira significativa e estabelecendo novas rotas”, comenta o agente.

Próxima reportagem: Os motivos da CooperSuzan, mesmo sendo do PCC, continuar em atividade.

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