Os integrantes da CooperSuzan cobraram o prefeito Rodrigo Ashiuchi, no final de 2017, um suposto acordo com seus dirigentes. Na faixa e cartazes eram estampados em destaque as letras PCC – Prefeito Cumpra o Combinado. Essa mesma cooperativa, nos moldes na Transcooper, já teve vários de seus diretores presos por serem membros do PCC e, inclusive, um vereador. pelas ruas da cidade por um suposto acordo com seus dirigentes.
Reportagem Equipe DefesaNet
A intenção é expandir suas bases nestas eleições, fazendo novos vereadores, prefeitos e secretários municipais
A principal facção criminosa do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC), avança sobre o meio político partidário para dar mais um passo para se consolidar de vez como a principal vertente criminosa e prestes a se tornar uma das maiores e mais influentes no setor econômico e político do país. Essas próximas eleições são cruciais para isso e o PCC, já chamado de ‘partido’ desde sua fundação, quer expandir suas representações em prefeituras e câmaras de São Paulo e em todas cidades de seu interesse. E para isso não tem medido esforços e muito menos recursos. Nomes propensos a ocuparem as vagas não faltam.
Atualmente o PCC atua em todas as grandes cidades paulistas e avança com voracidade para capitais e cidades no interior de outros Estados da federação. Além da capital paulista, o seu polo irradiador de novos experimentos e conquistas vem do Alto Tietê, região dentro da grande São Paulo e que detém cidade como Mogi das Cruzes, Poá Ferraz de Vasconcelos, Biritiba Mirim, Guararema, Salesópolis e Suzano. Essa última um reduto do crime organizado já instalado e consolidado. E o pior, com auxílio do poder público.
Detalhes deste avanço do PCC e o combate a ele, é contato por um policial federal com mais de 20 anos atuando neste confronto e no serviço de inteligência. Além de ser um dos grandes pontos de apoio dos promotores do GAECO (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo). Apesar de ter unidades em todos Estados da federação, São Paulo é um dos mais ativos e sob o comando de procuradores do MP tem apertado o cerco contra os criminosos.
“ A estrutura do Gaeco faz tudo para ter o máximo de informações, inclusive a troca de dados com outros núcleos estaduais, se investiga e busca provas de tudo. Chegam dezenas de denúncias e pistas todos os dias, mas a equipe é extremamente cuidadosa em cruzar os dados, em levantar provas até chegar ao ponto de preparar uma operação”, comentou o agente federal.
Mas ele não para por aí, tem muito de falar. “Se não cumprir rigorosamente todos os procedimentos legais uma legião de advogados e de políticos interferem para libertar os criminosos. Muitos saem rindo da sua cara, perderam algo além do respeito, mas a inibição. Fazem questão de ostentar quem são e a qual facção pertencem. Com isso, sem uma legislação específica e muito mais ágil e agressiva para atacar o PCC de frente, perdemos um tempo preciso e que é muito bem usado por eles. Principalmente em aliciar cada vez mais pessoas e autoridades”.
O desabafo do no momento que vários vereadores de São Paulo estão sendo investigados, outros tantos advogados e pré-candidatos a cargos eletivos. Além de vários funcionários públicos, concursados ou nomeados. Mas o tempo e o cumprimento de todos os requisitos legais para se efetuar as prisões são cada vez mais fatores de complicações. O tempo e a burocracia são aliados do PCC e no fortalecimento de sua megaestrutura.
Em seu tempo de combate na linha de frente contra essa organização criminosa, ele confessa que a escalada do crime ganhou proporções gigantescas. Algo muito além do tráfico de drogas que hoje chega até os cartéis do México e EUA e que também ganhou a Europa. Os negócios foram diversificados. Atuam como uma holding internacional abrangendo tanto o setor do agronegócio, do garimpo ilegal, construção civil e mercado imobiliário, extração e contrabando de madeira, postos e distribuidoras de combustíveis, rede de farmácias, hipermercados, roubos de grande porte em rodovias, assaltos as agências bancárias, aquisição (legal e ilegal) de armas (inclusive para atacar blindados e helicópteros) e até segurança privada.
Nestas últimas semanas prendeu integrantes do ‘partido’ ligados a Cooperativa de transporte alternativo CooperSuzan, de Suzano. Essa ação envolveu dirigentes da empresa e colaboradores. No mesmo movimento, a polícia prendeu diversos outros, entre os quais se incluem vereadores e funcionários públicos de várias cidades, inclusive em Ferraz de Vasconcelos e Suzano.
Nesta leva, em abril último, foi preso o advogado criminalista e mestre e professor em Direito o advogado Dario Reisinger Ferreira, suspeito de envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele é presidente do partido União Brasil de Suzano e estava para ser anunciado como vice-prefeito na candidatura do Pedro Ishi (PTB), vereador e secretário de saúde da prefeitura da cidade, na gestão de Rodrigo Ashiuchi (PL). Ele tentou obter um habeas corpus, que foi negado pela presidência do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A administração de Ashiuchi ganhou notoriedade nacional quando no final de 2017, os integrantes da CooperSuzan cobraram o prefeito pelas ruas da cidade por um suposto acordo com seus dirigentes. Na faixa e cartazes eram estampados em destaque as letras PCC – Prefeito Cumpra o Combinado. Essa mesma cooperativa, nos moldes na Transcooper, já teve vários de seus diretores presos por serem membros do PCC e, inclusive, um vereador.
“Sempre estamos acompanhando os movimentos desta cooperativa e de seus integrantes e colaboradores, Suzano é um ponto nevrálgico para a facção”, observou o agente federal.
Apesar do movimento ter ganhado destaque nacional pela ousadia da facção e chamado a atenção inclusive do Gaeco, Ashiuchi foi reeleito com 77% dos votos válidos de Suzano e se tornou neste ano como vice-presidente do conselho que reúne 39 cidades da Região Metropolitana de São Paulo, sob as benções de seu padrinho político, Valdemar Costa Neto, presidente do PL e cacique político da região e nome forte na política nacional.
As ações do Gaeco tentam cercar e deter políticos ligados a facção criminosa em todas as esferas do poder. Também são investigados por ligação com empresas de transporte com vínculos com o PCC os vereadores paulistanos Milton Leite (União Brasil) e Senival Moura (PT). A apuração que envolve o petista vai além, há um homicídio no meio. A morte de Adauto Soares Jorge, ex-diretor da empresa de ônibus assassinado a tiros em março de 2020. O político surgiu para o universo da política como uma liderança do transporte alternativo e é irmão do ex-deputado Luiz Moura, que foi do PT e PDT, preso por ligações com a facção.
Segundo policial, o PCC tentou ser um ‘partido político’ logo no início de sua projeção no cenário nacional. Falhou feio, mas conseguiu num primeiro momento a aproximação de diversos políticos por meio de seus advogados. Depois disto passou a adotar uma estratégia de atacar o Estado brasileiro e se infiltrar nele, de maneira a se favorecer dos esquemas de corrupção que o sistema manipula. E a principal brecha foi o transporte público, primeiro com a Transcooper em São Paulo e depois com sua réplica, a CooperSuzan, em Suzano.
“Esse passo foi fundamental para as ambições do PCC, com colaboradores dentro da máquina pública e um batalhão de advogados e políticos recebendo enormes vantagens pecuniárias mensalmente, o crime não só se instalou como passou a eliminar seus oponentes. E quando falo em eliminação, inclui os procuradores e policiais que atuam no Gaeco e nas operações, todos sabem que estão ‘decretados’ a serem mortos por esses marginais. Hoje, as cadeias se tornaram escritórios do crime, locais controlados pelo PCC e na elaboração de novos negócios”, complementou.
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