CooperSuzan, a empresa do PCC intocável

Foto Festa na CooperSuzan

Reportagem Especial
Equipe DefesaNet


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O Editor


Uma questão intriga qualquer pessoa que acompanha a caótica trajetória da CooperSuzan –  Cooperativa de Trabalho dos Transportadores Autônomos de Passageiros do Alto Tiete. Se a empresa é ligada ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e foi alvo de diversas investidas e investigações do Ministério Público de São Paulo e do Gaeco, qual o motivo de ainda não ter a concessão cassada para atuar e permanecer aberta pela prefeitura de Suzano? 

Com faturamento superior a casa dos R$ 12 milhões de reais, dados de dois anos atrás, e fundada em fevereiro de 2008, com uma frota de 147 vans. Já mudou sua razão social, sua diretoria e presidência algumas vezes. Mas nunca deixou de ter seu quadro de políticos e funcionários públicos beneficiários e com regalias. E quem ousou a mover-se no sentido de fechar a CooperSuzan, mesmo com todas as provas existentes, foi execrado.

Chegamos ao ponto de termos autoridades de Brasília alertando para não atuarmos para o fechamento da empresa e isso veio de alto escalão, como ordem”, comentou o policial.

 Quando surgiu operava com o CNPJ 09.334.397/0001-22 e tinha sua sede localizada na Rua Vereador Joao Batista Fitipaldi, 2505 – Vila Maluf, Suzano – SP, 08.685-000. Seu foco principal de atuação é de Transporte rodoviário coletivo de passageiros, com itinerário fixo, municipal, de acordo com o código CNAE H-4921-3/01.

Uma nova refundação em julho de 2018, agora como CooperSuzan – Cooperativa De Transporte De Passageiros de Suzano e está cadastrada na Solutudo no segmento de Viação – Ônibus Intermunicipais, Interestaduais e Internacionais com o CNPJ 30.889.236/0001-91. No mercado, a empresa está localizada na Avenida Paul Percy Harris, Nº 100 no bairro Vila Maria De Maggi em Suzano – SP, CEP 08680-010.

A empresa CooperSuzan se cadastra dentro de horizontes empresariais bem mais amplos, como tendo atividade intermunicipal, interestadual e internacional, inclusive. Mesmo estando cadastrada na Receita Federal sob o CNAE 4921-3/01 com atividade fim de Transporte Rodoviário Coletivo De Passageiros, Com Itinerário Fixo, Municipal.

Nova concessão da CooperSuzan, com o prefeito Ashiuchi, secretário Galo, vereador Fábio e representante da CooperSuzan advogado Dario

Até o momento, nenhuma contestação. Em 2021, mesmo sob investigação do Gaeco e da polícia federal, com diversas denúncias e prisões por ligação com o PCC, a prefeitura de Suzano atende a um dos acordos. Esse é o texto oficial do poder executivo de Suzano:

“A Prefeitura de Suzano, por meio da Secretaria de Transportes e Mobilidade Urbana, realizou nesta segunda-feira (29/11) um evento com representantes da CooperSuzan, cooperativa responsável pelo transporte público complementar na cidade, com o objetivo de oficializar a sua renovação contratual. Com isso, a permissão para atuar no serviço seguirá por mais oito anos, com validade até o final de 2029.

O evento ocorreu no Teatro Municipal Dr. Armando de Ré e contou com a participação do prefeito Rodrigo Ashiuchi, do secretário Claudinei Galo, do vereador Fabio Diniz, do representante da Coopersuzan, o advogado Dario Reisinger Ferreira, (grifo da redação) e de profissionais do transporte complementar. Atualmente, o contrato conta com 145 permissionários em operação e beneficia mais de 30 mil passageiros por dia.”

Cooperativa dos Clandestinos inaugura sede em Suzano

Neste cenário, segundo o policial federal que acompanha a trajetória do PCC na região, mostra que há indícios de interferência do PCC na prefeitura e nos mais altos escalões, o que implica inclusive o nome do prefeito Rodrigo Ashiuchi (PL). O ex-secretário de transportes Claudinei Galo é um ex-policial acusado e preso por integrar a máfia das Carteiras Nacionais de Habilitação. A quadrilha foi desmontada em 2008 pela Operação Carta Branca 2. Mas não para aí. No mesmo período, o Gaeco apresentou escutas telefônicas mostrando que a máfia das carteiras de habilitação fazia serviços para facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). E o caso ocorreu no Ciretran de Ferraz de Vasconcelos, cidade de Galo e vizinha a Suzano.

O vereador Fábio Diniz, diretor geral da cooperativa e que atuava na consolidação e ramificação da cooperativa dentro do mercado, compunha a cena com o advogado e presidente do União Brasil de Suzano, que também era representante da Coopersuzan, o advogado Dario Reisinger Ferreira, atualmente preso por “atuar juridicamente para acobertar e chancelar a atuação das empresas”, segundo o MP, depois de ter investigações por fraude a licitações e envolvimento com o PCC que retiraram dos cofres públicos mais de R$ 200 milhões em benefício da facção criminosa.

A situação em Suzano é tão grave e complexa que é difícil saber quem não está envolvido em fraudes e crimes ligados ao PCC”, comenta o agente.

Prefeito Cumpra o Combinado (PCC) – a frase da faixa também pode explicar muita coisa, segundo o policial. A começar pela combinação que acabou se atrasando se implementada e provocou a manifestação nas ruas de Suzano contra o prefeito Rodrigo Ashiuchi. As tratativas teriam começado em 2016, ainda no período de campanha, com a aproximação do grupo da Coopersuzan garantindo apoio ao candidato neófito na política, mas com chances de levar o pleito.

O também candidato Zé Pirueiro, não apoiava Ashiuchi (PR) que vinha de uma ampla frente de partidos de centro-esquerda. Ele tentava se aproximar ainda mais numa eleição municipal que só foi decidida no segundo turno. Recém anistiado, o cacique da região e muito atuante no governo federal, Valdemar Costa Neto, acabou acionado e criou a proximidade que faltava para uma reunião de apoio amplo ao candidato que disputava voto a voto com o adversário, Israel Lacerda (PTB).

Fábio e o veículo doado pela CooperSuzan

Teria sido acertado com o candidato um avanço sobre áreas que Ashiuchi tinha pouca penetração ou quase nenhuma, como o bairro Miguel Badra e as comunidades evangélicas, além dos beneficiários da entrega de cestas de alimentos entre outras atividades legais e ilegais exercidas pelos integrantes da facção. Em troca, segundo a apuração policial, haveria a indicação da Cooperativa do nome da pasta de transportes, a expansão das linhas municipais, a não fiscalização das vans e a melhoria da infraestrutura para atendimento dos passageiros. Também seriam canceladas multas e outras infrações, inclusive o desvio de rota. O acordo foi fechado.

Assim que se elegeu e foi empossado, o prefeito teve que acomodar indicações de uma frente muito ampla que envolvia as siglas PDT, PHS,  PTN , PEN,  PC do B,  PR,  PRP, PT do B,  SD e PSL. A secretaria prometida a direção a cooperativa era uma das mais importantes e despertava uma disputa feroz nos bastidores. As licenças, fiscalizações e outras medidas menores que favoreciam a CooperSuzan já tinha ocorrido. Mas nada do nome do indicado Claudinei Galo aparecer no boletim oficial, apesar de ele já frequentar a prefeitura neste período e se tornado um assessor.

Prefeito Rodrigo Ashiuchi (PL) e o presidente nacional do partido Valdemar da Costa Neto

Agora vereador, Zé Pirueiro ajudou a organizar o protesto de novembro de 2017 e colocar o prefeito contra a parede. A ameaça era queimar ônibus, bloquear as vias, promover uma série de distúrbios na cidade até que o prefeito se lembrasse que o pacto tinha sido feito com o diabo, como no clássico Fausto, do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe. Depois da reunião, tudo acertado e o acordo ampliado com novas exigências, a de não interferir em qualquer ação do grupo, a CooperSuzan teve o aval oficial do Estado para agir de acordo com suas prioridades. Entre elas, de expandir seus domínios e ingressar definitivamente no mundo a política local e regional.

“Essa situação, agora com o anteparo de partidos políticos e diversas lideranças no meio, com o jogo de troca de favores, tem dificultado muito as operações. Mas elas seguirão, com certeza. O Estado brasileiro não pode se tornar um Estado regido pelo crime e pelos acordos espúrios. É preciso colocar um fim nisto e os responsáveis na cadeia, sem qualquer benefício, inclusive o de indultos e redução de pena”, comentou indignado o agente federal.

Os nomes que são citados nesta reportagem fazem parte de investigações do GAECO e da polícia federal, além de fatos já identificados, veiculados na imprensa e em redes sociais. São suspeitos, o que os garante a presunção de inocência, até seja comprovada a ligação com o crime e julgados pela Justiça até a corte máxima, em Brasília. O que não é impeditivo para o exercício do jornalismo, mesmo que isso envolva políticos poderosos, o universo empresarial e decisões dos poderes constituídos. 

Próxima reportagem – Como funciona o marketing do PCC nas comunidades e no mundo político

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