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UE debate se é possível fortalecer defesa sem cortes sociais

Social-democratas europeus iniciam campanha para eleições da UE colocando a justiça social como tema prioritário, mesmo diante dos crescentes apelos por mais gastos militares na Europa.

(DW) Havia uma forte presença policial no centro de Roma na sexta-feira passada (01/03). A sede do Partido Democrático, o partido social-democrata da Itália – a poucos passos das famosas Escadarias da Praça da Espanha – havia sido isolada. Nomes de peso da social-democracia europeia, incluindo o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, e o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, estavam na cidade para se reunir com eurodeputados da centro-esquerda.

Numa sala lotada dentro do prédio, a líder da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu, Iratxe Garcia Perez, fez um discurso apaixonado sobre a campanha que se aproxima.

“O principal tema da campanha é a defesa dos nossos valores, da nossa democracia e da nossa segurança”, disse Garcia Perez, na véspera do congresso do Partido Europeu Socialista (PES) na Cidade Eterna. “É isso que estamos propondo aos europeus em todos os 27 países: um futuro baseado em solidariedade, igualdade e oportunidades para todos.”

Preparativos para a campanha eleitoral

Os social-democratas estão à frente de governos na Alemanha, na Espanha, na Romênia e na Dinamarca e de um governo interino em Portugal. Analistas preveem que eles continuarão sendo a segunda maior força no Parlamento Europeu após as eleições europeias, que ocorrerão em todos os 27 países-membros da União Europeia no início de junho.

Mas os valores listados por Garcia Perez, e que são a base do apelo dos socialistas entre a classe trabalhadora da Europa, podem estar em risco. Enquanto a UE se esforça para continuar apoiando a Ucrânia na guerra contra a Rússia e se vê confrontada com a necessidade de investir mais em sua própria defesa, crescem os apelos para mudar prioridades e financiar esses atuais desafios com cortes nos gastos sociais.

“O apoio público para pagar a conta da defesa é frágil”, diz o economista e especialista em política de defesa Marcel Schlepper, do Instituto Ifo, uma instituição de pesquisa com sede em Munique.

Ele e outros pesquisadores publicaram recentemente um paper sobre o assunto. A conclusão: embora os europeus estejam, em geral, cientes de que precisam elevar os gastos com defesa, a atitude deles muda quando se trata da contribuição de seu próprio país.

No momento, há apenas quatro países na Europa – Suécia, Bulgária, Alemanha e Noruega (que não é membro da UE) – nos quais mais de 50% da população é a favor de que seu próprio governo gaste mais em defesa.

Alemanha promete fazer de suas Forças Armadas a “espinha dorsal da defesa na Europa”
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Estado de bem-estar social “bem abrangente”

Assim, segundo Schlepper, a verdadeira questão, e que as pessoas estão evitando, é: “Você está disposto a economizar em outras áreas ou a pagar impostos mais altos?”

É um debate difícil, reconhece o eurodeputado social-democrata Joachim Schuster, da Alemanha. Mas, para ele, a questão está sendo discutida de forma irracional e apressada.

Afinal de contas, argumenta, os membros europeus da Otan já gastam três vezes mais em defesa do que a Rússia. Schuster sugere que primeiramente se analise onde esse dinheiro está sendo gasto e se parte dele está sendo desperdiçado.

É “absurdo que alguns membros dos círculos conservadores e liberais” descartem a emissão de dívidas e, em vez disso, defendam cortes nos gastos sociais, diz Schuster. Além disso, por que não criar impostos maiores para os altos salários, propõe.

Schlepper discorda. Ele argumenta que, na Europa, já há um estado de bem-estar social “bem abrangente” em países como Alemanha, França, Itália e Espanha, que alocam o equivalente a 27% ou até 32% de seu PIB em gastos sociais, em comparação com 2% ou até menos em defesa.

Ele acredita que, devido à sua participação nos gastos públicos totais, os gastos sociais precisam desempenhar algum papel no financiamento da defesa. “Isso poderia ser feito por meio da unificação de gastos sociais ou, pelo menos, não aumentando ainda mais os gastos sociais”, sugere Schlepper.

Ajudar os mais vulneráveis

Para os social-democratas europeus, ideias como essas são duras de engolir. “Temos de defender nossa segurança e o modelo europeu – que é o modelo social”, disse Garcia em seu discurso em Roma. Ela também insistiu que primeiramente é necessário um debate sobre recursos e políticas fiscais já existentes.

“Não é inevitavelmente o bem-estar social que precisa ser cortado”, diz o eurodeputado Sven Mikser, ex-ministro da Defesa da Estônia, que agora representa os social-democratas de seu país no Parlamento Europeu.

Mikser destaca que acontecimentos como a recente pandemia de covid-19 ou a crise energética na Europa tendem a exacerbar divisões e desigualdades sociais preexistentes nas sociedades. E é por isso que é importante ajudar aqueles que são mais vulneráveis e colocar um fardo maior sobre aqueles que estão em menor risco.

Mas Mikser também diz esperar que os eleitores entendam que a Europa está lidando com uma ameaça muito imediata à sua segurança. “É imperativo que façamos mais por nossas forças armadas e nossa segurança, pois, caso contrário, poderemos nos encontrar numa situação totalmente insustentável em apenas alguns anos”, diz. “E isso é algo que eu não vou esconder dos meus eleitores.”

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