O número de militares de missões de paz da ONU mortos em “ataques intencionais” chegou a 56 em 2017, o maior desde 1994, quando havia operações em Ruanda, Somália, Camboja e nos Bálcãs.
Nos cinco anos entre 2013 e 2017, 195 capacetes azuis foram mortos nesse tipo de ataque, mais do que durante qualquer outro período de cinco anos da série histórica iniciada em 1948.
Os números são de um relatório encomendado pela ONU e que teve como autor o general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz, que dirigiu forças de paz no Haiti e na República Democrática do Congo. No último quinquênio, não houve brasileiros entre as baixas.
África é a região mais letal
Ao GLOBO, Santos Cruz defendeu o uso mais rápido e efetivo da força, além de investimentos em tecnologia, inteligência e novas estratégias operacionais para reduzir as mortes de militares que integram operações de paz. Segundo ele, a necessidade surge de uma mudança no perfil dos grupos armados, muitos deles hoje conectados com o tráfico de drogas e o terrorismo.
– Não se pode ter medo nem receio de usar a força quando precisa. Não é porque sua concepção é pacífica que você vai deixar de usar a força quando precisar. É uma mudança de mentalidade – afirmou.
Questionado se uma nova diretriz nesse sentido não resultaria em missões mais violentas e perigosas para os soldados, Santos Cruz negou:
– Estamos falando de vida e morte de soldados e de civis. Não adianta ser pacífico e deixar o pessoal morrer. Para o general, os dados apontam a necessidade de “mudar o modo de enfrentar”.
– Tem que ter mais tecnologia, adotar novas táticas e técnicas. Fazer mais operação noturna com equipamentos modernos, ter levantamento de informações de inteligência. Tudo isso para poder se antecipar nas ações, dependendo da informação que você tem.
Desde 1948, quando a primeira operação de paz foi mobilizada para monitorar o cessar-fogo entre árabes e o recém-criado Estado de Israel, a ONU já colocou em campo mais de 70 missões. Atualmente, há 16 ativas – nove delas na África.
Na Guerra Fria, a maioria das forças de paz visava a preservar o armistício entre Estados, mas depois seu mandato foi ampliado, e boa parte delas foi a campo para prevenir, conter ou resolver conflitos internos ou envolvendo múltiplos atores armados. Esse foi o caso das missões em Darfur (Sudão), Sudão do Sul, Mali e República Centro Africana, onde ocorreu a maioria das mortes de capacetes azuis em ataques intencionais entre 2013 e 2017.
Brasil avalia nova missão
Santos Cruz diz enxergar disposição da organização para fazer as mudanças que considera necessárias:
– O secretário-geral está muito empenhado nisso, e há motivação para que as coisas sejam aperfeiçoadas. Mas é claro que, numa organização tão grande como a ONU, a adaptação ocorre de forma mais lenta. Encerrada em 2017 a Missão da ONU para Estabilização do Haiti (Minustah), comandada pelo Brasil, o país avalia se participará de nova operação.
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, chegou a dizer que tropas seriam enviadas à República CentroAfricana. O convite foi confirmado pela ONU. O general Santos Cruz disse ainda não haver uma definição. No momento, o Brasil tem um contingente da Marinha no Líbano e observadores militares em outras missões. (Com agências internacionais)
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General brasileiro coordena redação de relatório sobre segurança de militares em missões de paz da ONU [Link] |
Leia aqui o relatório do Gen Santos Cruz. [Link – arquivo em PDF] |