Lula e Macron em encontro na cúpula do G7, em Hiroshima – Ricardo Stuckert Foto; Ricardo Stuckert
Jamil Chade
Colunista do UOL
21 Maio 2023
O presidente Lula (PT) mandou um alerta aos chefes de governo da Europa: uma pressão sem medida contra o líder russo Vladimir Putin e um isolamento total do Kremlin poderia colocar o mundo sob risco do uso de armas nucleares. O brasileiro falou sobre a situação em reunião com o presidente francês, Emmanuel Macron.
Durante a cúpula do G7, neste fim de semana no Japão, o brasileiro manteve encontros bilaterais com diversos governos, autoridades e diretores de agências internacionais. Ainda que a agenda de Lula não se limite à guerra na Ucrânia, o tema entrou em todos os debates.
Mas foi a conversa com Macron que chamou a atenção de diplomatas e assessores que estavam na sala.
O francês insistiu sobre a necessidade de uma saída pacífica para a guerra. Mas repetiu a posição de muitos europeus de que qualquer negociação apenas poderia ocorrer após os russos deixarem os territórios ocupados desde fevereiro de 2022.
Outra pressão é para que a ordem de prisão do Tribunal Penal Internacional contra Putin por crimes de guerra seja considerada por todos os membros da Corte. Em abril, o russo foi indiciado por Haia, o que foi considerado por mediadores como um elemento que pode complicar a busca por uma solução diplomática para a guerra.
Lula, de fato, já disse em uma videoconferência com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky que não existe uma paz sustentável quando um plano unilateral é implementado.
Mas o principal alerta do presidente brasileiro desta vez foi sobre o risco nuclear. Lula lembrou Macron o palco da reunião do G7 e onde estavam: Hiroshima, cidade destruída por uma bomba nuclear em 1945, lançada pelo governo dos EUA.
Para ele, seria um risco pressionar Putin, sob a ameaça de que a reação venha na forma do uso de armas nucleares. Lula tem reivindicado a necessidade de que canais de diálogos sejam estabelecidos, ainda que o Brasil tenha condenado publicamente e em diversas ocasiões a agressão russa contra o território ucraniano.
Giving President Zelensky the opportunity to make the case for Ukraine and get clear international support at the Arab League Summit in Jeddah and at the Hiroshima G7. It's a helpful step towards peace and avoiding world divisions.
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) May 21, 2023
This is what our diplomacy aims for. pic.twitter.com/timfkbU07B
Ao longo do conflito, o líder russo fez alusões ao fato de Moscou ser uma potência nuclear e disse a outras potências que uma eventual intervenção teria uma resposta “como jamais experimentaram”. A frase foi interpretada como uma ameaça de que o arsenal atômico poderia ser usado.
Nos meses seguintes, o governo russo insistiu que apenas usaria tais armas se o país fosse colocado numa posição de “risco existencial”.
Durante a cúpula, Lula fez questão de destacar a situação de ameaça atômica. Em discurso, o brasileiro alertou que “o risco de uma guerra nuclear está hoje no nível mais alto desde o auge da Guerra Fria”. “As armas nucleares não são fonte de segurança, mas instrumento de extermínio em massa que nega nossa humanidade e ameaça a continuidade da vida na Terra”, disse.
Enquanto existirem armas nucleares, sempre haverá a possibilidade de seu uso. Foi por essa razão que o Brasil se engajou ativamente nas negociações do Tratado para a Proibição de Armas Nucleares, que esperamos poder ratificar em breve.
“Em linha com a Carta das Nações Unidas, repudiamos veementemente o uso da força como meio de resolver disputas. Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia”, afirmou Lula.
O brasileiro ainda afirmou que tem “repetido quase à exaustão que é preciso falar da paz”. “Nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo”, defendeu. “Precisamos trabalhar para criar o espaço para negociações.”
NOTA DEFESANET
Na exposição Eurosatory, Junho 2022, em Paris, DefesaNet perguntou a uma autoridade do governo francês como a França via as “ameaças de Putin de Guerra Nuclear“.
A resposta foi rápida, “pela primeira vez em décadas estamos com três SSBN no mar” .
A reação francesa veio só um mês depois do início da Operação Especial, invasão da Ucrânia em 24 Fevereiro 2022. O jornal Telegramme, da região da Bretanha, que cobre o porto de Brest, onde os submarinos da Classe SSBN Triomphant, confirmou que dois SSBN adicionais partiram da Base Naval. Juntaram-se ao terceiro Classe Triomphant já em patrulha no Atlântico onde normalmente operam. A Marine Nationale não confirmou ou negou a informação.
