Mesmo com sistemas de alta precisão, a Marinha ainda mantém navegação astronômica nas escolas de formação
Por Capitão-Tenente (RM2-T) Camila Marques – Brasília, DF
O fascínio do homem pelo céu é tão antigo que pode ser verificado em registros realizados por meio de pinturas em rochas e grutas no período da Pré-História. Os ancestrais utilizavam as constelações, a lua e o sol para se direcionar, compreender ciclos como o das estações do ano e, assim, avançar nos entendimentos inerentes à agricultura, à caça, à pesca e à navegação.
A Marinha do Brasil ainda mantém a prática da tradicional navegação astronômica como meio e método de posicionamento da embarcação. Entretanto, na maior parte das vezes, é utilizado o chamado “passadiço integrado”, que é composto por tecnologias avançadas como Global Positioning System (GPS) e Automatic Identification System (AIS), radares que apresentam imagens de alta precisão, dentre outros aparelhos que proporcionam uma navegação segura.
De acordo com o professor do Centro de Instrução e Adestramento Almirante Radler de Aquino (CIAARA), Capitão de Fragata (Quadro Técnico) Ronald Domingues da Silva, embora a navegação eletrônica tenha vindo para substituir a astronômica, as escolas de formação ainda têm o cuidado de manter a navegação astronômica viva como um recurso que não depende de eletricidade e equipamentos. “Com o uso de um sextante, que serve para medir a distância angular na vertical entre um astro e a linha do horizonte, de uma calculadora e, até mesmo, com as tábuas de navegação astronômica, é possível determinar a posição do navio. É importante que o navegador conheça os princípios do movimento dos astros e as efemérides do movimento do sol, da lua e dos corpos celestes”, explicou.
O professor do CIAARA, Capitão de Corveta Bruno Neves Baptista, relatou como a Marinha utiliza a orientação por meio da astronomia. “Um exemplo é como se tira o azimute do sol, que é uma medida de abertura angular do sistema de coordenadas horizontais, que tem por objetivo conhecer o desvio da agulha magnética, que são as bússolas. O azimute, logo pela manhã ou ao pôr do sol, vai me dar o desvio dessa agulha magnética. E isso é importante para saber se o navio está indo na direção correta”.
Para fortalecer todo o conhecimento dessa forma de navegar, a Marinha promove, com frequência, exercícios de navegação astronômica a bordo dos seus navios.
O Sextante
O sextante é um instrumento elaborado para medir a distância angular na vertical entre um astro e a linha do horizonte, calculando, assim, a posição e corrigindo eventuais erros de uma navegação estimada. Ele é um instrumento essencialmente concebido para a observação da altura dos astros, sol, lua, planetas e estrelas, mas nada impede que seja usado para calcular distâncias medindo ângulos verticais desde o ponto de observação até um dado objeto, por exemplo, um farol.
O Capitão de Fragata Ronald explica que, desde os primórdios da navegação astronômica, já se utilizavam os quadrantes e o astrolábio, porém eles não eram para grandes navegações. “Na época dos descobrimentos, no final do século XV, começaram a ser desenvolvidos outros equipamentos, como o sextante, que até hoje são utilizados em navios para se conhecer a altura do astro. Um exemplo real que posso dar foi o que ocorreu comigo na década de 90, quando fiz uma viagem do Brasil para o Japão. Antes de adquirir a expertise eu levava 25 minutos para entregar um cálculo final. Como comparação, posso afirmar que os antigos levavam até uma hora para ter um retorno. Já com as novas tecnologias, em cinco minutos de observação e cálculo já temos esse retorno de posicionamento do navio”, concluiu.
Fonte: Agência Marinha de Notícias