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TAURUS – Estamos prontos para a concorrência afirma Salésio Nuhs


Weruska Goeking
Valor Investe — São Paulo

 
O presidente da Taurus, Salesio Nuhs, disse, em entrevista exclusiva ao Valor Investe, não temer a abertura do mercado brasileiro à concorrência. "Somos uma empresa global, já competimos lá fora e temos sucesso", afirmou, em uma conversa anterior à mais recente manifestação do governo sobre o tema.
 
Conforme o Valor Econômico noticiou neste domingo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) indicou que deve publicar amanhã, terça-feira, o decreto que libera a compra de munição por atiradores esportivos e que também quebraria o monopólio da fabricante Taurus sobre o comércio de armas e munições no país.
 
Nos negócios desta segunda-feira na bolsa, as ações da empresa devem reagir. os papéis da agora Taurus Armas (o nome antigo era Forjas Taurus) viveram uma verdadeira montanha-russa em 2018 em meio à corrida presidencial, devido ao posicionamento pró-armamento de civis do até então candidato Jair Bolsonaro.
 
Agora, após o sobe e desce especulativo com os papéis, a gestão da companhia se dedica a melhorar os fundamentos da empresa, que ainda é vista com desconfiança por boa parte do mercado financeiro.
 
Não é por menos. A Taurus terminou 2018 com prejuízo líquido de R$ 59,9 milhões, o sexto ano seguido no negativo. O presidente da companhia, no entanto, garante que a era de balanços no vermelho está perto do fim.
 
Em entrevista ao Valor Investe, Nuhs falou sobre o aprimoramento no processo produtivo da empresa, a renegociação de dívidas e os efeitos práticos da eleição de Bolsonaro nos negócios da empresa.
 
Na bolsa, a Taurus fechou a sexta com valor de mercado de R$ 264 milhões, apesar dos prejuízos. Incluindo a dívida líquida na conta, o valor de empresa está próximo de R$ 1 bilhão, o que equivale a 13 vezes a geração de caixa potencial medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização da companhia) dos últimos 12 meses.

 

Bolsonaro assinará na terça decreto para quebrar monopólio da Taurus
Publicado 06MAIO 2019

 Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro BRASÍLIA


O presidente Jair Bolsonaro afirmou neste domingo (05MAIO2019), que assinará na terça-feira, às 16h, decreto para liberar a compra de munição "à vontade" para atiradores esportivos e quebrar o monopólio da Taurus, maior fabricante do país, sobre o comércio de armas e munições.

O decreto é uma das promessas de campanha do então candidato no ano passado e apoiado por familiares dele, que consideram o produto vendido no Brasil de baixa qualidade. A promessa ocorreu numa rápida conversa com um atirador esportivo que o questionou sobre isso na porta do Palácio do Alvorada, residência oficial do presidente da República, onde parou para cumprimentar e tirar fotos com populares. Bolsonaro afirmou que quebrará o monopólio da empresa, que tem fábrica no Rio Grande do Sul, e facilitará a obtenção de munição e armas para atiradores esportivos.

O decreto que garante o monopólio da Taurus é de 2000 e altera o artigo 190 do chamado R-105, que é o regulamento do Exército para produtos controlados, e afirma que "o produto controlado que estiver sendo fabricado no país, por indústria considerada de valor estratégico pelo Exército, terá a importação negada ou restringida". Além disso, a portaria 620/06, do Ministério da Defesa, define que "a importação de produtos controlados poderá ser negada, quando existirem similares fabricados por indústria brasileira do setor de defesa". A alteração no decreto já estava em estudo no governo desde 2016.


 
Veja abaixo os principais trechos da entrevista, concedida em meados de abril ao site:
 
Valor Investe – Em recente entrevista ao Valor Econômico, o senhor comentou sobre a “volta da credibilidade” da Taurus junto aos consumidores, após os episódios de disparos acidentais de suas armas. O que explica essa mudança?
 
Salesio Nuhs –
Não é só a credibilidade no produto, mas na marca. E você vê isso nas ações. A procura pelas ações está maior e a Taurus está em evidência por causa de todas as mudanças que fizemos na companhia. Foram mudanças estruturais que fizemos em 2016 e 2017 e colhemos os resultados no ano passado. Se você avaliar os trimestres de 2018, todos mostraram melhora ante o trimestre anterior.
 
Não é um negócio pontual que a Taurus fez para conseguirmos um bom resultado. Foram processos administrativos e operacionais robustos.
 
Temos linhas de produção que fabricam 96 armas por hora. Eu não espero o final do dia para saber se a produção deu certo ou não
 
A pessoa olha a Taurus e vê um pouquinho de melhora trimestre a trimestre, de todos os indicadores. Só não tivemos lucro líquido em 2018 porque existe uma dívida das administrações anteriores, mas o prejuízo líquido foi muito menor do que 2017.
 
Se realizarmos em 2019 o que está previsto, temos expectativas de lucro. Se não tiver lucro, vai ficar muito próximo de zero.
 
Valor Investe – Como está a renegociação de dívidas com os credores?
 
Salesio Nuhs –
Foi tudo concluído no ano passado, já estamos pagando os juros e nos preparando para o primeiro pagamento, que é em julho, no valor de R$ 50 milhões a R$ 60 milhões. Não vai ter atrasos. Hoje não temos nenhum pagamento atrasado, nenhuma duplicata vencida.
 
Valor Investe – No 4º trimestre de 2018 houve despesa de R$ 37,1 milhões com causas judiciais. Ainda há provisão desse tipo para ser feita?
 
Salesio Nuhs
– Tem provisionamento da Rossi ainda. A Taurus comprou a marca Rossi no passado e existia um processo tramitando na corte americana [por supostos defeitos em revólveres da marca]. Achamos por bem fazer acordo para não termos surpresas ao longo do ano. O provisionamento é de R$ 27 milhões para esse ano.
 
Tem outros valores menores provisionados, de processos no Brasil, mas são poucos e de pequeno em valor. Não são ações coletivas, e tudo do passado. Não tem nenhum processo de 2016 em diante.
 
Valor Investe – Quais os impactos que o afrouxamento da posse de armas deve ter sobre o mercado brasileiro?
 
Salesio Nuhs
– O que mudou radicalmente do ano passado para esse ano é a exposição do assunto, independentemente do decreto. Teve o plebiscito do Estatuto do Desarmamento e, com o passar do tempo, ficou a dúvida na população se podia comprar armas.
 
No calor da disputa presidencial se falou muito no direito à legítima defesa e isso foi amplamente discutido. O assunto ficou público. As pessoas não sabiam que tinham esse direito e, além de não exercerem, quando iam [comprar], a burocracia era tremenda. A orientação era de não conceder a posse de armas.
 
Com o decreto, acabou a subjetividade. Cumprindo os requisitos legais, a pessoa compra a arma. Com o decreto de fevereiro, o mercado deve aquecer. Ainda existe um prazo para a burocracia mudar. E a fábrica ainda não sentiu o efeito do decreto, mas vai ter um aquecimento.
 
Valor Investe – Qual a expectativa de aumento nas vendas no mercado doméstico?
 
Salesio Nuhs
– Não sei antecipar quanto, mas seja o percentual que for, nós vamos atender a todos os clientes, porque a nossa capacidade de produção é mais de 8 vezes a demanda atual no Brasil.
 
Temos a possibilidade de mais turnos na fábrica brasileira e estamos em processo de mudança nos Estados Unidos. A fábrica na Geórgia fica pronta entre setembro e dezembro, e vai dobrar capacidade de produção nos Estados Unidos.
 
Valor Investe – O senador Flávio Bolsonaro protocolou um projeto de lei para facilitar a vinda de fábricas de armas estrangeiras para o Brasil. Qual sua avaliação sobre o eventual aumento de competitividade no mercado doméstico?
 
Salesio Nuhs
– A gestão da companhia está preparada para isso. Somos uma empresa global, já competimos lá fora e temos sucesso. Isso prova que aqui dentro de casa será com tranquilidade. A Taurus está absolutamente preparada para enfrentar a concorrência.
 
Só uma ressalva: hoje o grande problema no segmento de armas é a questão tributária e regulatória. Quando vendo uma arma, o cidadão paga 70% de imposto e 30% é o valor do produto.
 
Quando a arma é importada não tem essa carga tributária. Hoje as leis beneficiam as exportações. Não tem vantagem nenhuma a empresa vir se instalar aqui, porque será penalizado da forma que eu sou.
 
E tem a questão regulatória. Hoje, para homologar um produto, se não tiver mais nada na fila, eu demoro de 18 a 24 meses para obter a homologação. Se uma empresa vier ela terá o mesmo problema
 
Se a empresa exporta para o Brasil não precisa passar por nenhuma homologação.
 
Valor Investe – Quantos produtos a Taurus tem aguardando homologação?
 
Salesio Nuhs
– Na fila temos hoje 183 novos produtos. Pela média dos últimos anos, vai demorar 20 anos. Isso é perspectiva, mas certamente vão criar mecanismos para agilizar isso. Uma empresa não sobrevive com essa espera. Já estão pensando em soluções para isso, estudando perspectivas de homologar laboratórios independentes e simplificar a homologação.
 
 
Valor Investe – O ministro Onyx Lorenzoni recebeu doações eleitorais da Taurus que somaram R$ 310 mil em três eleições. A Taurus espera que Lorenzoni seja um ator em defesa dos interesses da empresa no governo?
 
Salesio Nuh
s – Não tem nenhuma relação uma coisa com a outra. A Taurus fez durante anos doações para políticos no Brasil. Nós fizemos isso por uma questão estratégica da companhia. Não é ‘toma lá, dá cá’. Esperamos que o governo faça as leis e mude o status que temos hoje para beneficiar os nossos usuários e o nosso país.
 
Se você pensar bem, não é viável beneficiar as exportações para o Brasil. Você estaria prejudicando a geração de emprego e as divisas do país. Como somos brasileiros seriamos beneficiados juntos, mas não espero nenhuma tratativa para beneficiar a Taurus.

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