Equipamento desenvolvido pelo Setor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Força possui tecnologia exclusivamente brasileira e contribui para o treinamento e aperfeiçoamento de militares
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Fabiana Fontes da Silva – Rio de Janeiro, RJ
A sensação de saltar de paraquedas é única. Com o desenvolvimento de simuladores, é possível vivenciar essa experiência de maneira mais segura. Usar um simulador de paraquedas é poder mergulhar em um mundo no qual a gravidade é sua aliada. O vento, a pressão do ar e até mesmo o deslocamento do peso corporal são reproduzidos para proporcionar a sensação mais autêntica possível.
Cada vez mais presente em diversos setores, essa tecnologia proporciona experiências imersivas e autênticas para os usuários. Os simuladores de paraquedas ganham destaque por sua capacidade de replicar situações reais de queda livre, sem expor os usuários a riscos desnecessários, o que torna crescente sua utilização em treinamentos militares.
A instrução, o adestramento e o planejamento de operações, principalmente aquelas denominadas Operações Especiais, que utilizam o salto livre como método de infiltração, envolvem elevados custos de execução – tanto de recursos humanos quanto materiais. A complexidade e os riscos elevados da atividade de salto livre, principalmente por militares em fase inicial de treinamento ou qualificação, aliados aos altos custos operacionais das aeronaves utilizadas nos saltos, são suficientes para justificar a utilização dos simuladores, otimizando treinamentos.
Desenvolvimento do Simulador no Centro de Análises de Sistemas Navais (CASNAV)
Os militares de Operações Especiais da Marinha do Brasil já haviam tido uma experiência com a tecnologia de realidade virtual, voltada para o treinamento de navegação de paraquedas, por meio de um simulador do Exército Brasileiro, de origem norte-americana, instalado na Brigada de Infantaria Paraquedista. Em 2018, a partir desse contato, o Batalhão de Operações Especiais de Fuzileiros Navais (BtlOpEspFuzNav) e o Centro de Análises de Sistemas Navais (CASNAV) identificaram a possibilidade da criação de um simulador nacional. O CASNAV desenvolveu as soluções para que existisse um equipamento com tecnologia exclusivamente brasileira, viável e a um custo reduzido, quando comparado a sistemas similares importados.
Denominado como Simulador de Navegação de Paraquedas com Velame Aberto (SNPVA), o projeto inicial foi desenvolvido pela Divisão de Modelagem e Simulação do Centro, setor responsável por soluções de simuladores virtuais para treinamentos na Marinha, sendo concluído em 2019. Após ser entregue ao Setor Operativo da Marinha, o SNPVA encontra-se em uso no BtlOpEspFuzNav para apoio de instrução e adestramento.
“O emprego do simulador de navegação, tanto na formação do saltador livre, quanto no treinamento do saltador já formado, proporciona, à atividade, um aumento significativo na taxa de aprovação dos alunos e diminuição do índice de acidentes e incidentes na navegação, principalmente na navegação final, que corresponde a 90% dos casos de acidentes graves no paraquedismo. O simulador proporciona, também, a ambientação do paraquedista com a Zona de Lançamento [ZL], principalmente se for uma ZL desconhecida. Com essa importante ferramenta, o paraquedista tem a possibilidade de realizar uma navegação em uma ZL desconhecida antes de uma determinada missão”, explica o Oficial de Operações do Batalhão, Capitão-Tenente (Quadro Auxiliar de Fuzileiros Navais) Fabio Nascimento da Silva.
Durante o uso do simulador em cursos de salto livre, ministrados pelo Batalhão, os requisitos específicos para a sua evolução foram listados e divididos em outras fases complementares de desenvolvimento. Após o início do aperfeiçoamento, o equipamento passou a ser denominado Simulador de Navegação de Paraquedas (SNP), permitindo: demonstração e treinamento de técnicas avançadas de navegação com o paraquedas – incrementando o treinamento com a possibilidade de saltos em grandes altitudes, com a visualização dos equipamentos de apoio (GPS e bússola); melhorias de controle das condições ambientais; seleção entre cenários diurnos e noturnos; além de simulação do uso de Óculos de Visão Noturna. Com isso, os alunos podem experimentar diferentes cenários e condições meteorológicas e uma variedade de treinamentos, contribuindo para o aprimoramento de doutrinas, táticas, procedimentos e técnicas afins, bem como a atuação do paraquedista em situações de emergência.
Com a entrega da primeira fase do projeto, os cursos de Salto Livre Operacional passaram a ser ministrados exclusivamente na Marinha, sem a necessidade de envio de militares à Brigada Paraquedista do Exército. O equipamento contribui, continuamente, tanto para o ensino de iniciantes quanto para o treinamento e aperfeiçoamento de paraquedistas experientes. A dificuldade de treinamento e instrução por parte dos instrutores de salto livre, devido às poucas horas de voo disponíveis para saltos reais, foi reduzida em grande parte pelo emprego do simulador. Essa versatilidade não seria possível em um treinamento real de paraquedismo.
O Simulador de Navegação de Paraquedas é composto de equipamentos de realidade virtual de última geração, incorporando modelos físicos e matemáticos precisos, além de tecnologia de ponta em geração de cenários virtuais e modelos tridimensionais. Trata-se de um equipamento que realiza o monitoramento tanto da posição da cabeça quanto das mãos do saltador, para que ele possa ter uma imersão completa no cenário e experimente as reações e sensações como se estivesse realmente saltando. O objetivo maior é que haja redução de acidentes, além da redução de custos. De acordo com o CASNAV, os relatos dos militares especialistas que utilizam o simulador são animadores. Desde a implementação do simulador nos treinamentos, o número de acidentes foi reduzido.
Atualmente, o Simulador de Navegação de Paraquedas é, também, objeto de mostra durante exposições em diversos eventos no Brasil, permitindo que qualquer pessoa, incluindo idosos e crianças, tenham a chance de saltar de paraquedas e experimentar a sensação da queda livre de forma segura e controlada.