Prosub: a nova fase do Poder Naval Brasileiro e os desafios orçamentários

O Prosub avança em 2025 com a entrega de submarinos convencionais e negociações para o primeiro nuclear, o Almirante Álvaro Alberto, conforme a CNN. Contudo, restrições orçamentárias ameaçam o cronograma, desafiando o Brasil a consolidar seu poder naval.

Por DefesaNet

Segundo publicação no portal CNN, o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), conduzido pela Marinha do Brasil desde 2008, avança para uma etapa crítica e decisiva em 2025. Com dois submarinos convencionais da classe Riachuelo já entregues e outros dois em fase final de construção, o foco agora se volta para a negociação de um contrato com o grupo francês Naval Group para a construção do primeiro submarino brasileiro com propulsão nuclear, o Almirante Álvaro Alberto. Este marco colocaria o Brasil entre um seleto grupo de nações com tecnologia nuclear naval, mas os desafios orçamentários e estratégicos ameaçam o cronograma ambicioso.

Um Programa Estratégico em evolução

O Prosub é mais do que um projeto de engenharia naval; é um pilar da estratégia de defesa brasileira, especialmente voltado para a proteção da chamada Amazônia Azul, uma área marítima de 3,5 milhões de quilômetros quadrados essencial para o comércio exterior e a exploração de recursos naturais.

Os submarinos convencionais da classe Riachuelo – Riachuelo (S40), Humaitá (S41), Tonelero (S42) e Almirante Karam (S43) – já representam um salto no poder dissuasório do país. Contudo, é o submarino nuclear que promete revolucionar a capacidade da Marinha, permitindo operações submersas prolongadas, algo que apenas seis países dominam atualmente: Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, França, China e Índia.

A evolução do programa é dividida em fases claras. A primeira consolidou a infraestrutura do Complexo Naval de Itaguaí (RJ). A segunda entregou os submarinos diesel-elétricos. Agora, na terceira etapa, o Brasil enfrenta o desafio técnico e político de integrar um reator nuclear ao Almirante Álvaro Alberto.

Isso exige não apenas adaptações no estaleiro de Itaguaí, mas também um novo contrato bilionário com o Naval Group e a Novonor, além de um acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para garantir que o projeto respeite normas internacionais e não tenha fins armamentistas.

O gargalo orçamentário

Apesar dos avanços, o orçamento é uma sombra persistente sobre o Prosub. Nos anos de bonança econômica, o programa chegou a contar com quase R$ 4 bilhões anuais. Durante a recessão de 2015/2016, caiu para R$ 1,5 bilhão. Hoje, estabilizado em cerca de R$ 2 bilhões – com R$ 2,1 bilhões previstos para 2025 no PLOA –, o montante é insuficiente para cumprir o cronograma de lançamento do submarino nuclear em 2034 ou 2035, segundo oficiais da Marinha ouvidos pela CNN. Para manter essa meta, seria necessário um incremento de pelo menos R$ 1 bilhão por ano, algo que o atual cenário fiscal torna incerto.

A situação se agrava com a desativação iminente de 43 embarcações da frota naval até 2028, cerca de 40% do total, sem garantias de reposição. O comandante da Marinha, Marcos Olsen, defende uma PEC que fixe o orçamento das Forças Armadas em 2% do PIB, enquanto o ministro da Defesa, José Múcio, sugere 1,5% da receita corrente líquida. Ambas as propostas, porém, estão emperradas no Senado, evidenciando a falta de consenso político para priorizar a defesa em um contexto de restrições econômicas.

Tecnologia e diplomacia

A construção do submarino nuclear depende de dois polos tecnológicos: Itaguaí, onde o casco será montado, e Iperó (SP), que abriga o Laboratório de Enriquecimento Isotópico (LEI) e o Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica (Labgene).

O Labgene, um protótipo em escala real do reator, deve estar operacional entre 2027 e 2028, enquanto as obras nucleares em Itaguaí começariam no mesmo período. A Marinha aposta nesse cronograma para viabilizar o lançamento na próxima década, mas qualquer atraso orçamentário pode empurrar o projeto para 2040.

No plano diplomático, o Brasil busca tranquilizar a comunidade internacional. O Itamaraty já propôs à AIEA um modelo de salvaguardas para fiscalizar as instalações, reforçando que o submarino não carregará armas nucleares. Esse cuidado reflete a postura histórica do país como signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), equilibrando ambição tecnológica e responsabilidade global.

Marinha inaugura Estaleiro para manutenção e modernização de submarinos
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Perspectivas e desafios

O Prosub é um símbolo do potencial brasileiro em dominar tecnologias de ponta e fortalecer sua soberania marítima. Tornar-se o sétimo país com um submarino nuclear seria um feito histórico, ampliando a projeção geopolítica do Brasil no Atlântico Sul. No entanto, o sucesso depende de uma visão estratégica que transcenda os ciclos econômicos e políticos. A estabilização do orçamento em R$ 2 bilhões anuais reflete um compromisso mínimo, mas insuficiente para o ritmo necessário. Sem um aporte adicional ou uma política de financiamento de longo prazo, o sonho do Almirante Álvaro Alberto pode se transformar em mais um projeto adiado.

A Marinha, ciente desses riscos, intensifica sua pressão por recursos e apoio político. Enquanto isso, o país observa um teste não apenas de capacidade tecnológica, mas de sua determinação em priorizar a defesa em um mundo cada vez mais instável. O futuro do Prosub – e do poder naval brasileiro – está nas mãos de decisões que precisam ser tomadas agora.

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