Capitão de Corveta Adriana Pina recebeu certificado de Pós-Graduada em Energia Marítima
Por Guarda-Marinha (RM2-T) João Stilben – Brasília, DF
A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou, em 2017, que o período entre 2021 e 2030 será conhecido como “a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável”. O objetivo da ONU é criar uma mentalidade mundial em prol dos mares, por meio de pesquisas científicas e inovações tecnológicas relacionadas à limpeza, segurança e sustentabilidade dos oceanos. Neste contexto, a Marinha do Brasil (MB) investe para que militares se especializem no assunto, especialmente aqueles que trabalham diretamente com pesquisas relacionadas ao mar e à infraestrutura marítima e portuária brasileira.
A partir deste investimento em capacitação, a titular da Delegacia da Capitania dos Portos em Itacuruçá, e Conselheira da Autoridade Portuária em Itaguaí (RJ), a Capitão de Corveta (Quadro Técnico) Adriana Pina, recebeu na Suécia, das mãos do Secretário-Geral da Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês), Kitack Lim, o diploma de Pós-Graduada em Energia Marítima pela Universidade Marítima Mundial (WMU, em inglês).
A WMU reconhece como “líderes marítimos e oceânicos de amanhã” aqueles que possuem competências para contribuírem nas questões marítimas e oceânicas de seus países de origem. A Universidade é considerada pela Assembleia Geral das Nações Unidas como um centro de excelência na educação marítima e oceânica para investigação, capacitação e desenvolvimento econômico, ao mesmo tempo em que promove o papel das mulheres no setor.
Especificamente, o programa de Pós-Graduação em Energia Marítima capacita profissionais com conhecimentos técnicos, socioeconômicos e ambientais, relacionados aos regulamentos da IMO, sobre prevenção à poluição hídrica e atmosférica causada por embarcações, bem como potenciais medidas de mitigação para alcançar um futuro marítimo com baixo teor de carbono e eficiência energética. O curso foi destinado a pessoas com perfil técnico (como arquitetos navais, oficiais engenheiros de convés, topógrafos), bem como aqueles com formação em operação de navios, superintendentes e gestores de portos e estaleiros.
Em entrevista à Agência Marinha de Notícias (AgMN), a Capitão de Corveta Adriana Pina contou sobre sua conquista na WMU, desde o ingresso na instituição sueca até como o curso refletirá para a promoção do desenvolvimento sustentável em nosso país. Confira!
AgMN – Como foi o ingresso e as experiências iniciais no curso?
CC (T) Adriana Pina – Vi o Boletim de Notícias da Marinha, fiz o processo para admissão perante à World Maritime University (WMU), recebi a aprovação e iniciei o curso à distância. Todos os módulos foram realizados por meio de uma plataforma online da WMU, sob a supervisão de um Professor Tutor. Também participamos de seminários on-line, com especialistas na área marítima. Ao final, a turma foi dividida em grupos e preparamos um seminário para ser apresentado como parte da avaliação.
Logo após iniciar o curso, como Conselheira representante da MB no Conselho da Autoridade Portuária, sugeri a inclusão do tema sobre as ações adotadas, com vistas à sustentabilidade nos portos e terminais da jurisdição da Delegacia da Capitania dos Portos em Itacuruçá, que foi aceita e prontamente implementada. O Porto Sudeste realizou a primeira apresentação, com informações relevantes sobre os resultados dos trabalhos realizados, possibilitando o compartilhamento das experiências adquiridas e implementadas.
AgMN – Como os conhecimentos adquiridos no curso podem auxiliar, por intermédio do trabalho da senhora, na melhoria e ampliação de nossas instituições relacionadas ao Mar?
CC (T) Adriana Pina – Receber, por exemplo, um navio que utiliza uma nova tecnologia para diminuir a emissão de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), em um terminal na jurisdição da qual sou atualmente a Delegada, comprovou a importância da capacitação pessoal e de atualização do cenário marítimo internacional.
Também posso afirmar que não apenas os portos e terminais, mas as Organizações Militares (OM) da MB podem contribuir para o desenvolvimento sustentável. Por exemplo, com a instalação de painéis fotovoltaicos, captação da água da chuva para redução do consumo de água, planejamento no uso de viaturas e demais meios para a redução da poluição do ar, palestras educativas sobre o tema sustentabilidade, dentre outras medidas que podem ser implementadas e que podem resultar, a longo prazo, inclusive, na redução dos gastos da OM.
AgMN – A estratégia da IMO sobre GEE prevê uma redução nas emissões de Gás Carbônico (CO2) de 40% até o ano de 2030 e de 70% até 2050, em relação aos níveis aferidos em 2008. Nesta pós-graduação, como foram tratadas as tecnologias inovadoras e sustentáveis?
CC (T) Adriana Pina – Os 17 objetivos de Desenvolvimento Sustentável exigem esforços e comprometimento de cada país para serem alcançados, e a principal dificuldade discutida no curso foi quanto à necessidade de apoio aos países menos desenvolvidos e às especificidades de cada região.
AgMN – Pessoalmente, como foi participar desta Pós-Graduação, em termos de enriquecimento curricular?
CC (T) Adriana Pina – A realização do curso possibilitou a minha capacitação em um assunto que está sendo discutido nacional e internacionalmente, com a publicação de inúmeros documentos pela Organização Marítima Internacional. Por fim, a minha formação em Ciências Náuticas pelo Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (CIAGA), e o mestrado que realizei no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, me forneceram a base acadêmica para realização do curso, com menção final de aprovação acima da média.
Desde 2016, tenho buscado elevar o nome da MB, participando de seminários e cursos, apresentando trabalhos acadêmicos. Sou uma das representantes do Grupo de Jovens Profissionais do Brasil, que é um subgrupo da Young Professionals Commission (YP-Com International), criada em 2021.
AgMN – De que forma o País pode trabalhar suas instituições de ensino para atingir um nível de excelência igual ou semelhante ao da WMU, dentro da nossa realidade e costumes?
CC (T) Adriana Pina – Pode ser inserido nos currículos escolares o tema sustentabilidade, para que possam ser formados cidadãos com maior comprometimento com o meio ambiente. É notório que, atualmente, vivemos uma era do uso de novas tecnologias, que ao mesmo tempo desencadeia um processo de alto consumo desenfreado, gerando desperdícios e grande quantidade de lixo. Posso citar o exemplo apresentado pelo Porto Sudeste, que transformou toneladas de grades de proteção, dos equipamentos de transporte de cargas, em carrinhos reclináveis para transporte de materiais para os catadores de lixo de Itaguaí. Assim, incluiu-se ainda a preocupação com a ergonomia dos trabalhadores durante a fabricação. Este é mais um exemplo do comprometimento dos Portos e terminais sobre o tema.
Quanto às instituições de ensino de nível superior, o tema também pode ser incluído para que essa nova geração implemente medidas que, certamente, contribuirão para a redução dos efeitos das mudanças climáticas globais.
Fonte: Agência Marinha de Notícias