Daniela Chiaretti
Há um ano, um incêndio destruiu 80% da estação brasileira na Antártida, levou boa parte dos 28 anos que o país tinha de história na região e matou dois militares. Hoje, a Estação Antártica Comandante Ferraz é um canteiro de obras e 200 pessoas trabalham ativamente para aproveitar o bom tempo do verão. A base vive um momento híbrido. Militares que ajudaram a construir a estação agora a desmontam. São 800 toneladas de sucata.
Contêineres estão em terra para formar a base provisória e abrigarão pesquisadores e militares enquanto o Brasil reconstrói as instalações. O projeto deve ser escolhido no mês que vem a partir de um concurso da Marinha e do Instituto de Arquitetos do Brasil. A nova sede deve custar R$ 100 milhões.
Quatro dias na Antártida – O Brasil que vive no frio
Passou das 21 horas e faz frio. A luz azulada confere um tom estranho à Península Keller – ainda não é noite nessa baía de mar silencioso e montanhas sem vegetação. Há neve, gelo e ossadas de baleia à esquerda. Há neve, gelo e um poste com uma lanterna romântica à direita – poderia estar embalando um tango argentino em San Telmo, mas aterrissou aqui, na baía do Almirantado. Pequenos tratores, alguns contêineres verdes a poucos metros da água e uma fileira de barracas coloridas tornam tudo mais surreal. Como se fosse possível.
Esta é a ilha Rei George, no arquipélago das Shetlands do Sul, Antártida. É a localização da Estação Antártica Comandante Ferraz, a EACF, base científica que o Brasil possui desde 1984 em uma praia que serviu a baleeiros ingleses no passado. Do lado direito, a 130 quilômetros daqui, está a Península Antártica, a ponta proeminente desse continente bem maior que o Brasil. A Antártida tem 12,6 milhões de quilômetros quadrados quase totalmente recobertos de gelo. É rodeada pelo Oceano Austral, o nome das águas geladas que se formam no encontro do Atlântico, do Pacífico e do Índico. Oceano e continente somam mais de 50 milhões de quilômetros quadrados. Essa terra de pinguins é 10% da superfície do planeta.
Os humanos que chegam até aqui costumam ser um ponto fora da curva. Há militares ou pesquisadores – os primeiros não podem exercer sua atividade básica e estão aqui dando muito duro para tornar possível o trabalho dos cientistas. Eventualmente há jornalistas e políticos. Turistas, só os de muito dinheiro. As paisagens de muitos tons de cinza e branco seduzem pela curiosidade e pela aventura. É uma das áreas mais desconhecidas do planeta. Quando se trata de Antártida, somos muito ignorantes.
A maior confusão vem com a outra região polar, o Ártico. Aquilo é um oceano gelado com algumas regiões de terra, isto aqui é um continente que dá uns Estados Unidos e meio. "A palavra Antártica significa "oposto ao Ártico", lê-se no livro do escritor chileno Francisco Coloane.
No Ártico há povos indígenas, na Antártida só há pinguins (e eles, é bom que se diga, só encontram ursos polares no zoológico). No Ártico a exploração de recursos naturais avança no mesmo ritmo em que o gelo derrete. Na Antártida, uma moratória limita as atividades humanas à pesquisa e ao turismo. Entre as similaridades, há um fenômeno sombrio coincidente. Ártico e Antártida têm ecossistemas frágeis e são regiões que vêm sofrendo intensamente com o aquecimento da Terra.
O Ártico e a Antártida têm ecossistemas frágeis e são regiões que vêm sofrendo intensamente com o aquecimento da Terra
Em Ferraz, agora à noite, está zero grau, mas a sensação térmica é de dez negativos. Um grupo vestindo macacões escuros e botas pesadas aguarda o bote de borracha na margem. O comandante Paulo Cesar Galdino de Souza é o chefe da estação e comanda as boas-vindas aos que desembarcam às vésperas do Carnaval, mesmo se apenas por uma hora, antes de pernoitar no navio. Não há muito como dormir ali. Apertos de mão são desconfortáveis com luvas tão recheadas.
Sem proteção, os dedos gelam. E essa é a costa, a Antártida marítima, onde faz menos frio e é fevereiro, o mês mais quente nessa parte do mundo. Imagine-se o que acontece no continente, onde as médias da temperatura oscilam entre -25º C e -45º C.
Há abraços comovidos na praia. É o primeiro encontro entre alguns pesquisadores e militares depois do acidente que arrasou quase todo esse cenário há um ano.
Ninguém gosta de falar a respeito. Na madrugada de 25 de fevereiro de 2012, um incêndio na praça das máquinas destruiu 80% da estação brasileira, levou boa parte dos 28 anos que o Brasil tinha de história na Antártida e matou dois militares que tentaram combater as chamas, o suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e o primeiro-sargento Roberto Lopes dos Santos.
O vento soprava forte na direção do fogo e alimentou o acidente. A energia acabou. Não havia como bombear água dos dois lagos próximos ou derreter o gelo. Civis e militares tentaram em vão salvar Ferraz. Na manhã seguinte 45 pessoas foram resgatadas por todos os colegas de países que estavam na área. Na Antártida, a natureza dá as cartas e os homens se ajudam como podem.
Quem acumula experiência nesse ambiente de extremos repete duas coisas: que o clima muda sempre, e é sempre de repente, e que o espírito de cooperação é de verdade entre as 29 nações com atuação no continente. São os países com estações e programas de pesquisa na Antártida, os que podem decidir o destino dessa parte do mundo. O Brasil conquistou esse direito em 1983.
Pela manhã, a visão da estação brasileira a um ano do incêndio que a desfigurou é muito nítida. Ferraz é um canteiro de obras. São 200 pessoas trabalhando ativamente para aproveitar os momentos de bom tempo do verão, de outubro a março. Quatro tratores, uma pá carregadeira, duas tesouras mecânicas e até duas picapes vermelhas trabalham no desmonte da sucata ou na instalação de módulos para montar a estação provisória. As botas pesadas afundam na lama. Uma construção alta está sendo repintada de verde, a cor original de Ferraz. É o "garajão" que sobreviveu ao incêndio, mas exibe toda a lateral enegrecida.
Baía do Almirantado, onde fica a base brasileira
Botes de borracha pretos são lançados do NApOc (Navio de Apoio Oceanográfico) Ary Rongel trazendo pesquisadores com suas pesquisas em caixas de marfinite. Militares que ajudaram a construir Ferraz agora a desmontam. Usam maçaricos para rasgar as ferragens e embarcá-las nos porões do cargueiro Germânia, o pivô da operação desmonte. Do navio argentino Bahia San Blas, contêineres brancos novos são trazidos à terra – formam os módulos emergenciais que abrigarão o povo de Ferraz enquanto o Brasil reconstrói sua nova base. Técnicos ambientais monitoram os impactos da agitação e procuram medir os danos do incêndio nessa paisagem esplêndida.
O único barulho é o do vento. Há uma névoa fina sobre as cruzes que lembram os mortos ingleses e brasileiros. Algas vermelhas se espalham pela praia, um pinguim curioso vem espiar. Neva por alguns minutos em Ferraz. O fim do mundo é ambivalente. A estação brasileira vive a dualidade de resgatar o passado e preparar o futuro.
"A neve batia no teto do "garajão", quando chegamos em novembro", conta o comandante Galdino. Foram dez dias só para retirar os 60 mil metros cúbicos de neve que haviam se acumulado no inverno e cobriram os escombros. No início usaram pás e picaretas. Tiveram que dormir duas noites em tendas, sem poder regressar ao barco, porque o tempo virou.
Só o "garajão", o módulo de química e o de análises meteorológicas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, sobreviveram ao fogo. O incêndio também confundiu o planejamento das Operantar, as operações antárticas brasileiras que existem desde 1982 e são organizadas pela Marinha. Em Ferraz, mesmo no inverno, costumam permanecer militares cuidando das instalações. Não havia como manter essa rotina em 2012. A neve assumiu o controle.
A cena começou a mudar em outubro. Foi quando se iniciou a Operantar XXXI, "a maior realizada pelo país em termos logísticos", qualifica a Marinha. Qualquer Operantar já é algo gigante e minucioso. Normalmente envolve dois navios – o Ary Rongel e o Almirante Maximiano -, voos da Força Aérea Brasileira (FAB) e o atendimento de 20 programas de pesquisa de diversas universidades e institutos do país, cada qual com exigências específicas. Um cientista, por exemplo, dedica-se ao monitoramento da camada de ozônio, o outro examina que vegetação aparece quando o gelo retrocede, um terceiro está preocupado em fazer o censo das aves, outra pesquisadora quer analisar sedimentos marítimos. A Operantar é uma operação de guerra.
Para se ter uma ideia dessa complexidade, apenas no abastecimento do Ary Rongel foram embarcados 7.750 quilos de carne bovina, 2.500 de peixe e 2.300 de frango, para ficar só em três itens. Tem Natal e ano-novo pelo caminho, então precisa de peru, lentilha e bacalhau. São mais de 2 mil comprimidos de dipirona e paracetamol. O Ary precisa de 700 mil litros de combustível se quiser permanecer 45 dias no mar. Não há supermercado nem posto de gasolina na Antártida.
O incêndio fez da Operantar XXXI uma equação muito mais difícil. São 550 homens e mulheres envolvidos nessa edição. Há as tripulações dos cinco navios – contando-se também o Germânia, o Bahia San Blas e o Felinto Perry, que ajuda no transporte de material – e 200 pesquisadores circulando pelo gelo. O navio Maximiano vai passar 160 dias no mar e carregar 109 pesquisadores. A FAB agendou dez voos do C-130 Hércules, com várias incursões entre Punta Arenas, no Chile, e a base Eduardo Frei, onde pousam os brasileiros. "A Antártida é um continente de superlativos", bem define o contra-almirante Marcos Silva Rodrigues, secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, a Secirm.
O navio Germânia, núcleo da operação desmonte
Esse gigantismo é, também, muito frágil. O glaciologista Jefferson Simões, coordenador de projetos científicos do Proantar, lembra, por exemplo, o degelo que ocorre na Península Antártica. A ilha Rei George perdeu 8% de sua cobertura de gelo entre 1956 e agora. "Mas é bom lembrar que estamos tratando de menos de 1% do volume de gelo total", relativiza. Ele acredita que as atividades científicas brasileiras estejam voltando ao normal na região e diz que até abril o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) estará examinando a proposta de reestruturação da parte científica do Proantar. "O programa fez 30 anos. Tem que ter maior protagonismo internacional e representar a nossa melhor ciência, que evoluiu muito nestes anos", diz Simões. "Temos que trazer a Antártida para as questões do cotidiano brasileiro", defende.
"A Antártida é um laboratório vivo", diz Antonio José Teixeira, comandante reformado da Marinha, duas vezes chefe da estação brasileira e uma das maiores autoridades nesse universo branco. "O Proantar formou um grande número de pesquisadores, tornou-os especialistas em Antártida", conta. "O Brasil fez o único presidente não anglo-saxão do Scar", registra, referindo-se ao órgão científico mundial mais importante relacionado ao continente e ao geólogo Antonio Carlos Rocha-Campos, professor do Instituto de Geociências da USP, que o presidiu em 1994. "Na parte operacional e de logística o Brasil aprendeu a operar em regiões longínquas e de clima glacial", comenta.
Ele explica por que conhecer e estudar a Antártida é crucial para o Brasil: "Ter uma previsão de tempo melhor ajudará a agricultura. Conhecer mais as correntes antárticas nos dará mais informações sobre pesca. O arquivo da história do clima está na Antártida".
"Muitas vezes viramos a noite trabalhando", conta a bióloga Wânia Duleba, do Instituto de Geociências da USP, que acaba de voltar de uma expedição a bordo do Maximiano. Ela é a vice-coordenadora de um projeto coordenado por Rocha-Campos que estuda o paleoclima na Antártida – "algo da ordem de milhões de anos", esclarece. Em suas pesquisas, pôde contar com o guincho geológico do navio. "Foi um salto enorme na qualidade da nossa pesquisa", diz, satisfeita com os resultados de sua terceira vinda à Antártida.
Em 25 de fevereiro de 2012, um incêndio destruiu 80% da estação brasileira e matou dois militares que tentaram combater as chamas
A professora Rosalinda Montone, do departamento de oceanografia física, química e geológica da USP, é uma veterana no continente da Antártida. Iniciou pesquisas por aqui em 1988. Ela trabalha com o monitoramento de poluentes orgânicos na região. "Posso dividir minha experiência na Antártida em antes e depois da internet", diz. Eram apenas 25 pessoas na estação da primeira vez em que esteve aqui. "Antes você estava isolado do mundo. Tinha saudade, mas fazia novos amigos", lembra-se. "A internet aproxima quem está longe, mas a troca pessoal diminuiu."
"Às vezes ficamos uma semana inteira sem poder fazer coleta, por causa do tempo. Aqui você aprende a aceitar melhor as ocasiões em que não pode fazer nada", diz a bióloga Vivian Pellizari, que esteve pela primeira vez na Antártida em 1997. Ela é microbiologista, estuda um mundo invisível. Entusiasma-se quando conta da "Exiguobacterium", que vive nestas águas congeladas. "Ela consegue tanto sobreviver a -2º C como a quase 40º C." A cientista tem um projeto na Antártida há 16 anos, mas ficou 7 anos sem vir. "Tenho um filho, hoje com 22, mas durante um tempo preferi ficar com ele e treinar minha equipe", conta.
A Antártida é, por legislação internacional, um território para pesquisas. As normas legais do Sistema do Tratado Antártico, do qual o Brasil é signatário, definem regras que devem ser seguidas à risca pelos países que atuam no continente. Não pode haver atividade militar; testes nucleares nem pensar. Os programas científicos têm que ser contínuos para os países que querem ter direito a voto. Técnicos de um país podem inspecionar o que acontece na estação vizinha e vice-versa, para garantir a proteção ambiental do continente. A exploração econômica de recursos naturais está suspensa até 2048. Não se pode deixar lixo algum na região. Quem contamina tem que limpar o dano.
Dois técnicos da Cetesb, a agência ambiental de São Paulo, também chegam a Ferraz. O geólogo Elton Gloeden, gerente do departamento de áreas contaminadas, chefia a área da Cetesb que todos os anos faz o diagnóstico das regiões com problemas no Estado, 80% delas provocada por postos de combustível. "Nosso trabalho é muito urbano. Aqui será muito diferente", explica Gloeden. "Vamos coletar amostras e caracterizar o problema", diz, sobre sua rotina em Ferraz no pós-incêndio.
Base Comandante Ferraz em reconstrução: ao fundo, os módulos emergenciais que vão se transformar em uma miniestação para cientistas e militares brasileiros
A preocupação ambiental é entender o impacto do desastre na baía do Almirantado. Até a primeira camada de gelo da área incendiada foi retirada e enviada para análise, diz Marcelo Amorim, chefe do departamento encarregado de atender a emergências ambientais do Ibama. Depois do incêndio, técnicos vieram vedar todos os locais para preparar o lugar para o inverno. "Queremos evitar danos maiores", afirma. Há mais de 650 toneladas de sucata dentro do Germânia, serão 800 ao fim do processo. De lá, tudo irá para o Rio. A previsão é que o recolhimento dos destroços termine em março.
É a primeira vez de Amorim na Antártida e ele, como todos, cede ao deslumbramento. "Estamos na maior esperança que a próxima base seja um referencial de sustentabilidade", anima-se, enquanto monitora os trabalhos de desmonte.
No fim de janeiro, a Marinha e o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) lançaram um concurso para escolher o melhor e mais adequado projeto para a futura estação. "Queremos que seja moderna, mas leve em conta a nossa cultura", diz o contra-almirante Rodrigues, da Cirm. "Estamos tendo um acesso gigantesco no site do concurso", revela Sérgio Magalhães, presidente do IAB. "Coisa de milhares", continua. "Há mais de 300 acessos dos Estados Unidos e outros 200 da Espanha." O concurso é aberto à participação de arquitetos estrangeiros desde que associados a escritórios brasileiros. A intenção é promover a inovação.
A professora Cristina Engel de Alvarez é uma especialista em arquitetura na Antártida, tema que estuda desde 1984. Conhece várias estações referências para o Brasil, como a americana Amundsen-Scott, a britânica Halley, a espanhola Juan Carlos I ou a belga Princess Elisabeth. "Queremos tudo o que existe de melhor, mas temos que ver o que nos serve e o que não", pontua ela, que também é a coordenadora técnica do concurso. "Não podemos só trabalhar com energias renováveis e ter emissão zero. Temos que trabalhar com diesel por uma questão de segurança", completa. A estação belga, que é emissão zero de carbono, é menor do que a brasileira será e opera apenas no verão, compara. "Mas é uma estação dos sonhos", diz. Reúso de água e redes de eficiência energética, do tipo "smart grid", são algo que a nova estação quer ter. A Marinha pretende começar as obras no próximo verão. A previsão é que ela custe R$ 100 milhões.
Enquanto o futuro não chega, os módulos emergenciais estão todos na praia, em Ferraz. Galdino, o chefe da estação, leva os visitantes ao heliponto que virou o lugar da base provisória e vem sendo ocupado pelos novos contêineres brancos. Foram transportados pelo navio argentino San Blas, que está na baía, e custaram R$ 14 milhões. "Será uma miniestação antártica, diz a engenheira naval e capitão de corveta Carla Feijó da Costa, envolvida na operação. Ali haverá lugar para 66 pessoas, pesquisadores e militares que ajudarão a construir a estação que vai suceder à antiga Ferraz.
Na Antártida, o que é tranquilo vira urgência: na semana passada, os novos módulos foram testados de improviso. Todos os envolvidos no desmonte e na construção da base provisória estavam em Ferraz. No meio da tarde o vento começou a ficar mais forte, atingiu 90 km/h. Todas as operações marítimas foram interrompidas, relata o técnico em eletrônica Heber Reis Passos, responsável por remontar os equipamentos do Inpe. Não havia como retornar ao Germânia e ao San Blas – 114 ficaram em terra. Parte dos módulos já estava montada e abrigou 45 pessoas. Outras tantas foram para as barracas instaladas na praia. "Depois de um dia duro de trabalho, todos fizeram um mutirão para que pudessem pernoitar", conta.
Passos está em sua 29ª viagem à Antártida, sendo algumas para o continente. É uma lenda entre os pesquisadores por colecionar tantas histórias. Tem vivas as imagens do que viu em março, ao chegar à Península Keller logo depois do incêndio. "Não era a EACF. Vi uma praia deserta, sem animais no mar e no céu, e um monte de ferro abandonado. Ferraz é muito diferente. É alegria, trabalho, dedicação, esforço, superação." Mas agora, um ano depois, voltou e encontrou tudo mudado.
"Não vou esquecer essa cena", escreveu por e-mail à reportagem do Valor, descrevendo a noite da ventania. "Eram 21h30, o vento e a chuva comendo soltos. Eu estava chegando perto da cozinha improvisada, retornando do mutirão para abrigar todo mundo em Ferraz. Atrás do heliponto, a galera, sob a luz dos holofotes, dos faróis dos veículos, dos lampejos de solda, estava a todo vapor, no 3º turno. O pessoal do Arsenal da Marinha, ainda com os macacões sujos da "faina", passaram por mim sorrindo, mesmo depois de um dia todo de trabalho e uma noite tenebrosa pela frente." Concluiu: "Ainda não tem anteparas, não tem divisórias, mas não precisa. O espírito de Ferraz continua por aqui".