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O papel da logística na prontidão de uma Força Naval

Intendência da Marinha completa 254 anos de criação neste dia 3 de março

Por Primeiro-Tenente (T) Ohana Gonçalves – Rio de Janeiro, RJ

Para proteger as riquezas da Amazônia Azul, navios da Marinha do Brasil (MB) estão posicionados, estrategicamente, em todas as regiões do País. Quando em missão, permanecem, por dias, navegando de forma autossuficiente (sem necessidade de reabastecer em portos) a fim de realizar ações de Patrulha e Inspeção Naval, além de diversos exercícios para aumentar as capacidades do Poder Naval brasileiro. Tropas anfíbias da MB atuam em locais de difícil acesso, como selvas e comunidades ribeirinhas isoladas, para treinar em condições adversas ou colaborar em ações de apoio ao Estado, muitas vezes, sem previsão de retorno para casa. Por trás disso tudo, há um trabalho que poucos conhecem, mas que é imprescindível: “o prever e prover”, executado pela Intendência da Marinha, que, neste ano, completa 254 anos de existência.

Acompanhando a evolução de diversos campos de conhecimento, a Intendência da MB atua nas áreas de abastecimento, administração, contabilidade, controle interno, economia, finanças e gestão do patrimônio imobiliário. Os Intendentes da Marinha (IM) exercem funções a bordo dos navios da Esquadra, Distritais e da Diretoria de Hidrografia e Navegação; além de Organizações Militares (OM) do Corpo de Fuzileiros Navais, Bases e Hospitais Navais, dentre outras. Também desempenham papel técnico ou de direção de OM, típicas de áreas como administração e abastecimento.

Os recentes eventos no cenário internacional evidenciam que uma nação de porte continental deve dispor de Forças Armadas modernas, bem dimensionadas e aprestadas. Dessa forma, a Intendência deve estar pronta e capacitada para atender, tempestivamente, novas e inopinadas demandas de nossa Força Naval. Para tal, concito-os a seguirem os ideais e os exemplos de nossos antecessores; a perseverarem na promoção de sólidos valores éticos e morais; a cultivarem as virtudes de pureza e honestidade simbolizadas pela Folha de Acanto que, com orgulho, ostentam em seus uniformes; e a conservarem em suas mentes as tradições navais e no coração o amor pela Marinha do Brasil”, exortou o Vice-Almirante (IM) Luiz Roberto Basso, Diretor de Abastecimento da Marinha, em cerimônia alusiva ao Dia da Intendência da Marinha, realizada na última sexta-feira, 1º de março.

Intendência no mar

O Navio-Aeródromo Multipropósito (NAM) “Atlântico”, o maior navio da Esquadra Brasileira, comporta até 1.100 pessoas a bordo. A Segundo-Tenente (IM) Gabriela Gomes de França Arouca, oriunda da Escola Naval (EN), faz parte da tripulação do “Atlântico”, onde atua como Agente de Pagamento. “Esta função exige um maior conhecimento das normas que regulam o pagamento de pessoal militar e, por conseguinte, a execução do pagamento. Eu e meu auxiliar gerenciamos,  mensalmente, cerca de 500 fichas financeiras da tripulação”. A militar também é Encarregada de Divisão e Elemento de Ligação do Programa Netuno, que visa à institucionalização de boas práticas de gestão, permitindo a melhoria contínua de processos inerentes a sua atividade.

Como gestora de municiamento, a Segundo-Tenente (IM) Gabriela França gerenciava a Divisão com o apoio de 40 militares, divididos entre as especialidades de cozinheiro, arrumador e paioleiro. Ela conta que as atividades exigem dedicação, devido ao grande consumo de alimentos. “Em rotina de viagem, são preparadas cerca de 4 mil refeições, diariamente, atendendo à toda tripulação. Eu controlava desde o estoque dos materiais a serem consumidos até a elaboração do cardápio e preparação das refeições, ou seja, toda a cadeia de suprimentos”.

Sobre o maior desafio com que já lidou, a Tenente destaca a missão “Abrigo pelo Mar”, em fevereiro de 2023, que durou cerca de duas semanas, sendo iniciada durante o feriado de Carnaval, a fim de apoiar a cidade de São Sebastião (SP), que sofreu com grandes desastres naturais causados por fortes chuvas.

“O navio precisou ser preparado para desatracar em 24 horas. Precisei contar com a dedicação e apoio de diversos agentes envolvidos, desde o setor de Abastecimento da Marinha, do Depósito de Suprimentos de Intendência da Marinha, até os fornecedores das licitações em vigência no período, que responderam prontamente para um abastecimento de, aproximadamente, 10 toneladas de gêneros alimentícios em 24 horas. Essa experiência me trouxe tanto realização profissional quanto pessoal. A Intendência atua como parte crucial de uma grande engrenagem que apoia a atividade-fim da Marinha visando, sobretudo, à prontidão dos meios operativos. Reconheço que foi um momento de grande amadurecimento profissional, em que estabeleci prioridades e metas a serem cumpridas em curto prazo, viabilizando parte do abastecimento do navio para a missão”, relembra a Tenente.

Emocionada, a Tenente Gabriela França não esconde a satisfação com a carreira escolhida: “Tenho a oportunidade de atuar não só no setor operativo, mas em diversas outras áreas da Marinha que agregam valor à minha capacidade técnico-profissional. O Corpo de Intendentes da Marinha é caracterizado pela sua capilaridade a fim de atender e apoiar a MB em qualquer setor e isso é motivo de orgulho. Fazemos parte da preparação de grandes missões. Eu tenho a certeza de que onde eu estiver, ostentarei minha folha de Acanto (símbolo da Intendência) e prestarei o melhor serviço à Força”.

Intendência na selva amazônica

Após cumprir sete anos como Oficial temporário no Exército Brasileiro, Jonathan Matos de Faria prestou concurso público para ingressar no Quadro Complementar de Oficiais Intendentes da Marinha (QC-IM), conquistando a vaga em 2021. “Fiz o curso superior de administração, com o sonho de administrar e gerir recursos. Na Intendência, eu encontrei esta meta e, na Marinha, um ambiente que tem valores e responsabilidade com a transparência”.

Atualmente, o Segundo-Tenente (QC-IM) Jonathan Matos atua junto ao Corpo de Fuzileiros Navais como Encarregado de Pagamento, Gestor de Material e do Programa Netuno no 1º Batalhão de Operações Ribeirinhas (1ºBtlOpRib), em Manaus (AM). Quando começou a servir na Amazônia Ocidental, uma de suas preocupações era com a logística em um local de difícil acesso, principalmente quanto ao apoio na alimentação da tropa; a necessidade de materiais; e até mesmo sobre pagamento. Anteriormente, ele também exerceu a função de gestor de municiamento.

“Em quase dois anos, pude experimentar diversas vertentes da Intendência. No rancho [local onde as refeições são preparadas e servidas], há várias preocupações, dentre elas: a gestão e aquisição dos gêneros, estoque e consumo diário. Além disso, é preciso lidar com a gestão de pessoal. São quase 30 militares para coordenar. Já no pagamento, obtenção, execução financeira ou no material, temos a obrigação de cumprir normas e especificidades em cada uma dessas funções” explica.

Para se familiarizar com as atividades do Corpo de Fuzileiros Navais, o Tenente Jonathan Matos realizou o Curso Expedito de Operações Ribeirinhas, que teve duração de cinco semanas. Ele participou intensamente de atividades como rapel, sobrevivência na selva, primeiros socorros, comunicações, natação utilitária, navegação e planejamento de pelotão. “Com certeza, de todos os desafios que já enfrentei, este foi um dos maiores da minha vida. Concluí o curso com êxito, sendo o Primeiro Operador Ribeirinho Intendente da Marinha”, afirma com orgulho.

Origem da Intendência

A Intendência da Marinha teve início no período colonial brasileiro, quando D. José I, Rei de Portugal, implementou medidas para aprimorar a arrecadação real e a fiscalização de tributos, bem como profissionalizar a gestão das contas públicas. Em 1770, foi criado, por meio de um alvará régio, o cargo de Intendente da Marinha e Armazéns Reais para atuar, inicialmente, no Arsenal de Marinha da Bahia. Os resultados foram tão expressivos que, por conseguinte, a atuação foi ampliada para os demais Arsenais de Marinha nas capitanias da colônia.

Com a vinda da Família Real para o Brasil, o Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, renomeado “Arsenal da Corte”, passou a controlar os recursos financeiros e o abastecimento de todas as organizações de terra e navios. O Príncipe Regente D. João VI criou, em 1808, a Contadoria da Marinha no Arsenal da Corte, que passou a concentrar todo o aparato logístico, financeiro e pagamento de pessoal da Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha. Após numerosos decretos e leis, no contexto do pós-guerra, em 1952, criou-se a Diretoria de Intendência da Marinha, a fim de atuar nas áreas de contabilidade, finanças, economia, abastecimento, administração e auditoria.

A ativação da Diretoria foi resultado de um estudo conduzido pelo Vice-Almirante (IM) Gastão Motta, Patrono do Corpo de Intendentes da Marinha, que reestruturou o serviço de Intendência, seguindo os moldes da Marinha norte-americana, adaptados para a realidade da Força Naval brasileira. A análise, ainda, permitiu adotar novas medidas, dentre elas: criação de centros de controle de estoque de material; centros navais de suprimentos; depósitos primários e secundários de estoque distribuídos pelos distritos navais; escritórios de compras continentais e ultramarinos; uma fábrica de fardamento; e um centro de instrução.

Como se tornar um Oficial Intendente da Marinha?

Os oficiais do Corpo de Intendentes são formados pela Escola Naval ou admitidos com graduação em Economia, Administração ou Contabilidade no Quadro Complementar de Oficiais Intendentes da Marinha (QC-IM), podendo ascender até o posto de Vice-Almirante.

A publicação do edital para o concurso do QC-IM está prevista para a segunda quinzena de março deste ano. Já para o edital da Escola Naval, deve ser publicado em abril.

A carreira naval traz como benefícios: perspectiva de crescimento profissional ao longo da carreira; bom ambiente de trabalho; plano de carreira bem definido, com possibilidade de ascensão contínua com aumento de salários proporcionais; e estabilidade após cinco anos de serviço, entre outros.

Fonte: Agência Marinha de Notícias

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