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“Na vanguarda que é honra e dever!”: conheça a tropa de elite da Marinha do Brasil

Corpo de Fuzileiros Navais é vetor de excelência na projeção do Poder Naval sobre terra

Por Capitão de Corveta (T) Fernando Araújo, Primeiro-Tenente (T) Taise Oliveira e Segundo-Tenente (RM2-T) João Stilben – Rio de Janeiro, RJ

“Na peleja ao fragor da metralha, na vanguarda que é honra e dever; Fuzileiros, no ardor da batalha, saberemos lutar e vencer”. Este trecho da canção “Na Vanguarda” sintetiza a essência dos combatentes anfíbios. Estar à frente de uma força de combate que se projeta do mar para terra é a razão de ser do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), tropa de elite da Marinha do Brasil.

Embora cerca de 70% do globo terrestre seja coberto por água, é em terra que, praticamente, toda a atividade humana se desenvolve. Mas os mares e oceanos banham cerca de três quartos dos países do mundo. Este é o caso do Brasil, que conta com uma costa de mais de 7 mil km, ilhas oceânicas, como Trindade e Fernando de Noronha, além de ter muitas de suas fronteiras com países vizinhos delimitadas por importantes rios.

Essas características geográficas impõem às Marinhas, em especial à Marinha do Brasil (MB), a necessidade de projetar poder sobre terra, a partir de posições no mar ou em águas interiores. A Estratégia Nacional de Defesa (END), documento estatal de alto nível que condiciona o planejamento e o preparo das Forças Armadas brasileiras, prevê a existência de “meios de Fuzileiros Navais” para assegurar a capacidade de projeção de poder da MB.

O mais complexo, intenso e arriscado tipo de operação para projeção de poder sobre terra é a chamada operação anfíbia, que inclui o assalto anfíbio para a conquista de uma área litorânea em território hostil, com a introdução de uma força de desembarque a partir do mar, o que exige a coordenação e sincronização de várias ações e meios variados como navios, aeronaves, viaturas e tropas.

Por meio do Corpo de Fuzileiros Navais, parcela essencial do Conjugado Anfíbio que inclui, ainda, navios de desembarque, como o Navio-Doca Multipropósito (NDM) “Bahia” e o Navio-Aeródromo Multipropósito “Atlântico”, a MB é uma das poucas marinhas do mundo capazes de conduzir operações anfíbias de grande complexidade.

“O pronto emprego, a capacidade expedicionária e o caráter anfíbio diferenciam os Fuzileiros Navais de outras tropas regulares, a começar no nível individual. Não temos recrutas no CFN. Todos os seus integrantes são voluntários, selecionados mediante concurso público, passam por exigentes processos de formação e são submetidos à capacitação e avaliação constantes. Isso nos garante uma tropa com alto grau de profissionalismo, formada por combatentes motivados, autoconfiantes e resilientes”, destaca o Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, Almirante de Esquadra Carlos Chagas Vianna Braga.

No nível coletivo, a expertise anfíbia se traduz em outras duas características que destacam o caráter estratégico do Corpo de Fuzileiros Navais: as capacidades expedicionária e de pronto emprego.

Capacidade Expedicionária


Por terem, quase sempre, o mar à sua retaguarda, as tropas de Fuzileiros Navais devem estar preparadas e equipadas para atuarem com autossuficiência, a fim de cumprir missões por tempo limitado, sob condições severas e em áreas operacionais distantes de suas bases.

Anualmente, o Corpo de Fuzileiros Navais aprimora seu aprestamento e demonstra sua capacidade expedicionária nos exercícios da chamada Operação Formosa, que simula a parte terrestre de uma operação anfíbia de grande envergadura. Por envolver o uso de artilharia com munição de longo alcance, esse exercício é realizado no Campo de Instrução de Formosa, que pertence ao Exército Brasileiro e está localizado no município de Formosa (GO), a mais de mil quilômetros das bases das principais unidades operativas do CFN, sediadas no Rio de Janeiro.

Pronto emprego

A Estratégia Nacional de Defesa preconiza a “permanente condição de pronto emprego” para o Corpo de Fuzileiros Navais. De fato, a prontidão é requisito básico de uma tropa concebida para estar “na vanguarda”, fazendo o primeiro combate ao inimigo, enquanto as tropas regulares finalizam, na retaguarda, os preparativos para dar continuidade às operações.

Essas características do CFN são reconhecidas, inclusive, internacionalmente. Em relatório divulgado em 2021, a Organização das Nações Unidas (ONU) classificou os Fuzileiros Navais do Brasil como um grupo de mentalidade “expedicionária, móvel e ágil” e composto dos mais “altos padrões de prontidão operativa e de pessoal”, bem como de “forte comando e controle, elevada moral e disciplina”. Em 2022, o Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais de Emprego Rápido em Força de Paz recebeu, da ONU, a certificação nível 3, o mais alto nível de prontidão operacional do Sistema de Prontidão de Capacidades de Manutenção da Paz das Nações Unidas.

Em solo pátrio, a prontidão do CFN já foi testada na prática em muitas ocasiões, como foi o caso das ações em apoio à Defesa Civil em catástrofes naturais como que atingiram a região de Petrópolis (RJ), em 2022; e São Sebastião (SP), em fevereiro de 2023, quando, em pleno carnaval, os Fuzileiros Navais conseguiram embarcar no NAM “Atlântico” em menos de 12 horas após serem acionados. Saiba mais sobre a pronta atuação dos Fuzileiros Navais no socorro a populações atingidas por calamidades.

Prontos para qualquer missão

O preparo constante, o profissionalismo e o caráter expedicionário e de pronto emprego permitem ao CFN cumprir uma variada gama de tarefas, além daquelas relacionadas às operações anfíbias. A Estratégia Nacional de Defesa também estabelece como essencial o emprego dos Fuzileiros Navais,  “para a defesa dos arquipélagos e das ilhas oceânicas em águas jurisdicionais brasileiras, além de instalações navais e portuárias, e para a participação em operações internacionais de paz, em operações humanitárias e em apoio à política externa em qualquer região que configure cenário estratégico de interesse. Nas vias fluviais, serão fundamentais para assegurar o controle das margens durante as Operações Ribeirinhas”.

Para atender às distintas atribuições que o Estado brasileiro o impõe, o CFN está estruturado em um ramo gerencial, doutrinário e técnico-administrativo, capitaneado pelo Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais (CGCFN); e um ramo destinado às atividades operativas, desempenhadas pela Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE) e pelos Grupamentos e Batalhões distritais, distribuídos em todas as regiões do País.

A estrutura da FEE compreende seis componentes principais:

Divisão Anfíbia – concentra o grosso das unidades táticas dedicadas ao combate, abrangendo três Batalhões de Infantaria, um Batalhão de Comando e Controle, um Batalhão de Artilharia e um Batalhão de Blindados, além da Base de Fuzileiros Navais da Ilha do Governador, no Rio de Janeiro.

Tropa de Reforço – fornece suporte aos Grupamentos Operativos durante o combate, e inclui um Batalhão Logístico, um Batalhão de Engenharia e um Batalhão de Viaturas Anfíbias, equipada com os conhecidos CLAnf (Carros Lagarta Anfíbios), viaturas blindadas que conseguem navegar transportando fuzileiros entre os navios de desembarque e a praia a ser conquistada, fornecendo maior proteção aos soldados.

A Tropa de Reforço conta ainda com uma Companhia de Polícia, um Batalhão de Defesa Nuclear, Biológica, Química e Radiológica (BtlDNBQR), a Base de Fuzileiros Navais da Ilha das Flores e uma Unidade Médica Expedicionária, que presta apoio de saúde aos Grupamentos em campo, e costuma nuclear, também, o Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais em Apoio à Defesa Civil, quando presta atendimento às populações atingidas por catástrofes.

Comando da Tropa de Desembarque – tem a atribuição de nuclear o Componente de Comando dos GptOpFuzNav até o nível Unidade Anfíbia, ou nuclear o Componente de Combate Terrestre de uma Brigada Anfíbia, atuando no planejamento e controle das operações; e na organização e manutenção do nível de prontidão dos GptOpFuzNav.

Batalhão de Combate Aéreo – responsável por coordenar as operações aéreas nas manobras dos GptOpFuzNav, tais como apoio de fogo, transporte e reconhecimento aéreo, em auxílio às tropas em terra. Também tem a atribuição de prover a defesa antiaérea dos GptOpFuzNav em campo.

Batalhão de Operações Especiais de Fuzileiros Navais – especializado em operações de alto risco, contra alvos de alto valor, em diversos ambientes, com o emprego de ações de comandos. É integrado, basicamente, por militares com treinamento especializado, denominados Comandos Anfíbios, cujo curso de formação está entre os mais exigentes das Forças Armadas brasileiras.

Base de Fuzileiros Navais do Rio Meriti – presta apoio administrativo de pessoal, saúde, comunicações, manutenção, adestramento, alimentação e segurança ao Comando da FFE e demais Organizações Militares sediadas no Complexo Naval Caxias Meriti.

A formação do combatente anfíbio

O profissionalismo e a competência que distinguem o CFN começam a ser forjados na formação e capacitação dos combatentes anfíbios. Para a carreira de Praças, a principal porta de entrada é o Curso de Formação de Soldados Fuzileiros Navais (C-FSD-FN) conduzido, simultaneamente, no Centro de Instrução Almirante Milcíades Portela Alves (CIAMPA), no Rio de Janeiro e no Centro de Instrução e Adestramento de Brasília (CIAB), na capital federal. Outra forma de ingresso é pelo concurso para admissão de Sargentos Músicos.

Em 2024, as primeiras mulheres foram incorporadas como Aprendizes no C-FSD-FN. Dos 720 jovens que iniciaram o período de adaptação no curso, 120 são do sexo feminino, o que representa a conclusão do processo de inclusão das mulheres em todos os corpos, quadros, escolas e centros de instrução da MB, permitindo que, de agora em diante, elas passem a ocupar cargos e funções que antes eram destinados apenas a homens.

A formação dos Oficiais Fuzileiros Navais se inicia na Escola Naval, para os Aspirantes que optam pelo CFN, ou no Curso de Formação de Oficiais, para candidatos que já tenham formação universitária civil e são aprovados em concurso para o Quadro Complementar ou para o Quadro Auxiliar de Fuzileiros Navais, para aqueles que já são Praças do CFN. A coroação da formação dos Oficiais Fuzileiros Navais, como combatentes anfíbios, se dá no Estágio de Qualificação Técnica em Guerra Anfíbia, ministrado no Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo (CIASC), no Rio de Janeiro, que os capacita para o comando de frações de tropa no nível pelotão.

O CIASC também ministra cursos de especialização e aperfeiçoamento, qualificando os militares do CFN em áreas específicas de emprego nos diversos batalhões e tipos de atividades desempenhadas pelos Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais, como Artilharia, Blindados, Logística, Comandos Anfíbios, Guerra Eletrônica, Operações de Paz, entre outros.

Preparo físico e esporte

A guerra anfíbia exige muito dos Fuzileiros Navais em diversos aspectos, entre os quais se destaca condicionamento físico. Esse item é exaustivamente cobrado, tanto na formação, quanto na rotina de preparação diária dos militares do CFN, que, por meio do Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (CEFAN), se encarrega de conduzir a Política de Educação Física, não só no setor de Fuzileiros Navais, mas para toda a Marinha.

Outra vertente da Educação Física sob a responsabilidade do CFN é o Desporto. Paralelo ao treinamento militar, o esporte fortalece a camaradagem e mantém o espírito de corpo e de superação das tropas, assegurando a higidez física. Entre outras atribuições, a Comissão de Desportos da Marinha, subordinada ao CGCFN, coordena a preparação e participação das equipes representativas da Força em competições militares internacionais, além de gerenciar o Programa Olímpico da Marinha (PROLIM), cujo propósito é desenvolver o desporto nacional, fortalecer a mentalidade marítima e projetar a imagem da Força Naval.

Atualmente, o PROLIM conta com 242 militares atletas nas diversas modalidades. Em 2020, das 21 medalhas brasileiras nos Jogos Olímpicos de Tóquio, oito foram vencidas por militares atletas, sendo seis deles pertencentes ao PROLIM. Em 2016, no Rio de Janeiro, das 19 medalhas, 13 foram de competidores das Forças Armadas, sendo seis de atletas vinculados à Força Naval. Já, em 2012, em Londres, das 17 medalhas, cinco tiveram origem militar, sendo duas de atletas da Marinha.

Dia dos Fuzileiros Navais

No dia 7 de março de 1808, chegou ao Brasil a Brigada Real da Marinha, juntamente com a Família Real portuguesa, que transmigrava a sede do reino para o Brasil. Essa unidade foi o embrião do atual Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil e o 7 de Março se tornou a data de aniversário da tropa anfíbia brasileira. A partir deste ano, em que se comemora o 216º aniversário do CFN, a data passa a ser conhecida como o Dia dos Fuzileiros Navais. Para mais informações sobre a história e atualidades do CFN.

Fonte: Agência Marinha de Notícias

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