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Marinha prevê inaugurar estação na Antártica em 2020, oito anos após incêndio

 

Por Guilherme Mazui

G1 — Brasília

Passados sete anos desde o incêndio que destruiu a Estação Antártica Comandante Ferraz, a Marinha prevê inaugurar a nova estação em março de 2020.

 

Executada pela empresa chinesa Ceiec, a obra se aproxima do final, segundo a Marinha, que prevê concluir as obras civis e a instalação de máquinas e mobiliário até 31 de março, iniciando um período de testes do complexo científico até março de 2020. Após os testes, a estação poderá receber militares e pesquisadores.

 

"A previsão de inauguração é março de 2020, quando os pesquisadores e o Grupo-Base [de militares] deverão ocupar em definitivo as instalações da nova Estação Antártica Comandante Ferraz", informou a Marinha ao G1.

 

Com investimento de US$ 99,6 milhões, o complexo receberá profissionais que atuam no Programa Antártico Brasileiro (Proantar), criado em 1982 para desenvolver pesquisas em áreas como oceanografia, biologia, glaciologia e meteorologia.

 

A nova estação ficará no mesmo local da estrutura antiga, instalada em 1984 na Península Keller, na Ilha Rei George. A primeira base abrigou pesquisadores até fevereiro 2012. Um incêndio onde ficavam os geradores de energia do complexo destruiu quase toda a estrutura e provocou a morte de dois militares.

 

Apesar do incêndio, as pesquisas brasileiras não pararam. Na Ilha Rei George, os trabalhos foram desenvolvidos em uma estação provisória, montada ao lado da base consumida pelo fogo. Os "módulos emergenciais" são usados enquanto os pesquisadores aguardam o final da reconstrução.

 

A nova estação

 

A nova Estação Antártica Comandante Ferraz terá 4,5 mil m², poderá acomodar até 64 pessoas e terá 17 laboratórios, além de alojamentos e espaços de convivência e de lazer.

 

Construído em um local inóspito, o complexo terá condições de suportar temperaturas negativas, nevascas e ventos de até 200 quilômetros por hora. A estrutura ainda terá sistemas de detecção, alarme e combate a incêndios.

 

Os preparativos para reconstruir a estação tiveram início ainda em 2012, com a retirada dos escombros da antiga base. Após, a Marinha lançou um edital para obra do novo complexo, concluído em 2014 sem propostas.

 

Uma nova licitação foi aberta e, em 2015, foi confirmada a empresa chinesa Ceiec para executar o empreendimento.

 

Como só é possível trabalhar na Ilha Rei George durante o verão antártico (outubro a março), a empresa executou a obra em módulos. A Ceiec preparou os módulos na China, no período de inverno, e transportou e montou as estruturas no verão.

 

Obras civis

 

Segundo a Marinha, a reconstrução segue o cronograma do verão 2018-2019, que prevê a conclusão das obras civis e a instalação do maquinário e mobiliário.

 

A Ceiec, de acordo com a Marinha, concluiu até o momento as seguintes fases da obra:

 

    Fundações e montagem da estrutura

    Montagem dos módulos tipo contêiner

    Conclusão da estrutura que envolve a estação

 

Atualmente, 268 funcionários contratados pela empresa chinesa trabalham na reconstrução da estação, junto com equipe de engenheiros e fiscais da Marinha e do Ministério do Meio Ambiente.

 

No momento, a Ceiec realiza serviços de acabamento interno do complexo, instalação de equipamentos e móveis. Para março está prevista a inauguração da infraestrutura de telecomunicações.

 

Nos trabalhos neste verão, a empresa utiliza guindastes, caminhões e máquinas para movimentação de materiais, além do Navio Mercante Magnólia, contratado pela própria Ceiec.

 

Os navios Ary Rongel e Almirante Maximiano, ambos da Marinha, dão apoio logístico à estação e aos projetos de pesquisa na região.

Obras de reconstrução de base na Antártica — Foto: Marinha do Brasil/Divulgação Obras de reconstrução de base na Antártica — Foto: Marinha do Brasil/Divulgação

 

Obras de reconstrução de base na Antártica — Foto: Marinha do Brasil/Divulgação

 

Período de testes

 

Concluídas as obras civis e as montagens de equipamentos e móveis, terá início o período de testes da nova estação, chamado de "comissionamento", com previsão de durar de março de 2019 a março de 2020.

 

A Marinha considera que a reconstrução estará finalizada após os testes – durante o inverno antártico a Força mantém um "grupo base" de militares que cuidam dos módulos emergenciais e da nova estação.

 

A Marinha destacou que o comissionamento assegura que os sistemas e equipamentos do complexo foram instalados e funcionam, conforme o projetado.

 

Equipamentos considerados vitais para a estação, como geradores, permanecerão em funcionamento no próximo inverno, entre março e setembro. Os demais equipamentos e sistemas (hidráulicos, elétricos, tratamento de esgoto e automação) ficarão desligados no inverno.

 

Segundo a Marinha, devido às condições meteorológicas deste mês na Ilha Rei George e a importância de realizar os testes e atestar o bom funcionamento da estrutura, optou-se por inaugurar a estação após o comissionamento, em março de 2020.

 

Pesquisas

 

De acordo com a Marinha, desde o incêndio de 2012, cerca de 25 projetos científicos e 250 pesquisadores receberam apoio logístico para desenvolver trabalhos na Antártica.

 

Em março do ano passado, pesquisadores do Proantar enviaram uma carta ao então ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Gilberto Kassab, na qual afirmaram que a parte científica do programa estava ameaçada por falta de recursos.

 

Em agosto, o MCTIC e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) lançaram um edital no valor de R$ 18 milhões para financiar projetos do Proantar.

 

Segundo a pasta, foram selecionados 16 projetos, que receberão o dinheiro ao longo de 48 meses.

 

Vice-presidente do Comitê Científico sobre Pesquisa Antártica (Scar, na sigla em inglês), o professor Jefferson Simões afirmou ao G1 que o repasse de recursos assegurou a continuidade do Proantar pelos próximos três anos.

 

"O edital vai dar um novo impulso para o programa antártico, garantiu a continuidade da parte científica do programa", disse.

 

Pesquisador polar há 30 anos e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Simões acredita que no próximo verão será possível desenvolver pesquisas na nova estação brasileira. Segundo ele, as pesquisas do Proantar são divididas da seguinte forma:

 

    40% no oceano a bordo do navio Almirante Maximiano

    25% na estação Comandante Ferraz

    20% em acampamentos em diferentes regiões da Antártica

    15% no módulo criosfera 1, instalado no continente antártico, a cerca de 2,5 mil quilômetros da estação.

 

Simões também destaca a importância geopolítica de inaugurar o novo complexo científico, uma vez que o Brasil está entre os países com interesse na Antártica.

 

"As estações antárticas têm, de um lado o aspecto científico, mas principalmente o aspecto político. É a casa do Brasil na Antártica, é a demonstração do interesse geopolítico do Brasil na questão Antártica, vai além da pesquisa", explicou.

 

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