Operação “BRACOLPER” chega a sua 50ª edição para reforçar confiança mútua entre nações e desenvolver a interoperabilidade
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Victor Cruz
Um exercício multinacional envolvendo as Marinhas do Brasil, Colômbia e Peru é realizado há 50 anos na tríplice fronteira, com intuito de fortalecer a presença na região, desenvolver a interoperabilidade nos rios da Amazônia Ocidental e estreitar os laços de amizade e confiança mútua entre as nações vizinhas. Trata-se da Operação “BRACOLPER”, cujas fases 1 e 2 tiveram início em 10 de julho e se estenderão até 10 de agosto.
Nesta edição, chamada de Operação “BRACOLPER OURO 2024”, os meios da Marinha do Brasil (MB), subordinados ao Comando do 9º Distrito Naval (Com9ºDN), navegaram cerca de 880 milhas náuticas (cerca de 1600 quilômetros) de Manaus (AM) até a fronteira com a Colômbia, e depois até a cidade de Iquitos, no Peru, pelo Rio Amazonas.
“É uma honra para a Marinha do Brasil estar presente nos 50 anos da Operação “BRACOLPER”. É uma responsabilidade comum de nossos países e nossas Forças Armadas combater atividades ilegais na tríplice fronteira. Nós temos Oficiais de ligação em ambos os países para que possamos intercambiar informações importantes para respaldar as nossas atuações contra esses ilícitos”, destacou o Comandante de Operações Navais da MB, Almirante de Esquadra Claudio Henrique Mello de Almeida.
A Operação “BRACOLPER” é realizada em três fases, sendo a primeira em Letícia (Colômbia), a segunda em Iquitos (Peru) e a terceira em Manaus (Brasil), esta última será realizada entre os dias 26 de agosto e 9 de setembro, abrangendo regiões da Amazônia brasileira, colombiana e peruana.
Nas fases 1 e 2 da Operação, a Marinha do Brasil empregou os Navios-Patrulha Fluvial (NPaFlu) “Raposo Tavares” e “Roraima” e o Navio de Assistência Hospitalar (NAsH) “Carlos Chagas”, subordinados ao Comando da Flotilha do Amazonas, além de uma aeronave do 1° Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral do Noroeste (EsqdHU-91) e um pelotão de Fuzileiros Navais do 1º Batalhão de Operações Ribeirinhas (1ºBtlOpRib)
Importância estratégica
O Comandante do 9º Distrito Naval, Vice-Almirante João Alberto de Araujo Lampert, explicou que a operação trata de problemas e ameaças comuns presentes nas fronteiras dos três países.
“A Amazônia apresenta problemas comuns, como o tráfico de drogas, o garimpo ilegal, o desmatamento e a poluição ambiental. E esses três países operam há 50 anos na busca de soluções comuns por meio dos seus navios e suas Marinhas, pela interação e o incremento cada vez maior da interoperabilidade, o grau de confiança entre esses atores, na busca de soluções comuns e apoio mútuo”, disse o Almirante Lampert.
O Almirante Lampert acrescentou que, no âmbito da “BRACOLPER”, a Marinha promove Ações de Assistência Hospitalar com intuito de prestar assistência social nos rincões da Amazônia e, assim, também contribuir com o desenvolvimento da região.
“É um caminho para se combater qualquer tipo de ameaça, é a presença do Estado, a presença de um apoio consolidado de instituições sólidas. Esse trabalho é muito importante, ele se coaduna com o uso da patrulha, o uso da força, para que se possam levar assistência às populações ribeirinhas e aos povos indígenas, e fortalecer cada vez mais o nosso Estado, combatendo, prevenindo e minimizando a presença de atores que praticam crimes ilícitos”, pontuou.
A primeira edição da Operação “BRACOLPER” ocorreu no ano de 1974 e, desde então, vem sendo realizada anualmente (com exceção dos anos de 1978 e 1981). “São 50 anos de sucesso, 50 anos em que se evoluíram ações, operações, interações e certamente esse caminho evolutivo permanece vivo com a mesma vontade entre as três Marinhas e nós temos certeza de que nos próximos 50 anos ainda mais evoluções ocorrerão”, concluiu o Almirante Lampert.
Exercícios conjuntos
Exercícios navais combinados foram realizados em ambiente ribeirinho com intuito de aprimorar o adestramento das unidades da Marinha do Brasil (MB), da Armada da Colômbia (ARC) e da Marinha de Guerra do Peru (MGP). O Comandante da Flotilha do Amazonas, Capitão de Mar e Guerra Sandir Antonio de Freitas D’Almeida, explicou que é uma excelente oportunidade para os meios do Poder Naval exercitarem a interoperabilidade nos rios da Amazônia Ocidental.“A ARC conduziu a Fase I, cujas ações se pautaram nas Ações de Projeção de Poder sobre terra. Já a MGP executou a Fase II, cujas operações se concentraram no Controle Fluvial; e a MB conduzirá a Fase III, que terá como foco a Dissuasão Estratégica, onde serão realizados exercícios de tiro em Operações Ribeirinhas, entre outros”, observou.
Segundo o Comandante Sandir, dentre os realizados nas Fases I e II, destaca-se o exercício de Assalto Fluvial, com tiro real realizado pelos Pelotões de Fuzileiros Navais, ocasião em que a MB disponibilizou uma Lancha de Ação Rápida (LAR) para parcela de tropa da ARC e outra para a MGP.
Também foi realizado exercício de Evacuação Aeromédica (EVAM), com aeronave da MGP e NPaFlu da MB, onde pela primeira vez houve o içamento de fato do tripulante acidentado (simulacro). Houve, ainda, o exercício de Bloqueio Fluvial, realizado próximo a tríplice fronteira, onde as equipes de abordagem dos navios se revezaram, compartilhando experiências e procedimentos operativos.
“São exercícios que exigem minucioso planejamento, elevada coordenação e gerenciamento do risco de forma combinada. Isso permite absorvermos relevantes ensinamentos obtidos, nessas interações, que refletirão no fortalecimento da confiança mútua e na padronização de procedimentos, especialmente no combate aos crimes transfronteiriços na tríplice fronteira Noroeste do nosso País”, finalizou o Comandante da Flotilha do Amazonas.
O Primeiro-Tenente (FN) Jackson Cruz, Comandante do Pelotão de Operações Ribeirinhas na Operação “BRACOLPER”, destacou a importância do aprestamento das tropas. “Poder ver o trinômio Navio-Fuzileiro Naval-Helicóptero, pilar básico das Operações Ribeirinhas, em ação, com munição real, foi uma experiência incrível. Além disso, operar com Fuzileiros Navais de duas marinhas diferentes (Colômbia e Peru), observando suas táticas, técnicas e procedimentos, foi bastante enriquecedor para todos os militares do meu Pelotão de Operações Ribeirinhas”, afirmou.
Comemorações
Durante a Operação “BRACOLPER”, nas fases 1 e 2, a Marinha do Brasil se fez presente nas solenidades cívico-militares em comemoração à Independência da Colômbia, em 20 de julho, e à Independência do Peru, em 28 de julho. Em ambos os eventos, a comissão representativa do Brasil foi composta por uma guarda-bandeira e dois pelotões. Os desfiles foram seguidos de Parada Naval, onde os navios brasileiros desfilaram ao lado dos navios colombianos e peruanos perante autoridades civis e militares dos países vizinhos.
Na cidade de Iquitos, no dia 26 de julho, o NAsH “Carlos Chagas” abriu as portas para receber a população peruana, por meio de uma visitação pública realizada no Porto Enapu. O público teve a oportunidade de embarcar no navio brasileiro, visitar os conveses externos e conhecer parte da tripulação do navio.
Assistência social
No âmbito da Operação “BRACOLPER”, o NAsH “Carlos Chagas” promoveu Ação de Assistência Hospitalar (ASSHOP) em seis comunidades indígenas localizadas no Alto Solimões, no Amazonas. A equipe de saúde do navio realizou mais de 8 mil procedimentos de saúde, incluindo atendimentos médicos, consultas odontológicas, exames laboratoriais, exames de raio-x e distribuição de medicamentos, beneficiando 558 pessoas.
A Capitão-Tenente (Cirurgiã-Dentista) Thalita Mourão, da Policlínica Naval de Manaus, foi uma das profissionais de saúde destacadas para a missão. “Geralmente, a equipe de saúde de terra é a que vai os médicos e os técnicos de enfermagem, por meio de lanchas, e na comunidade eles realizam triagem, aferição de pressão, glicose, entre outros serviços. Se o médico avaliar que o paciente precisa de raio-x ou exame de sangue mais específico, esses pacientes vêm para bordo para fazer a realização desses exames. Aqui no navio, também recebemos os pacientes para os atendimentos odontológicos, onde podemos realizar extração, restauração e limpeza”, explicou.
José Anacleto Firmino, Cacique da Comunidade São Francisco, da etnia Ticuna, agradeceu aos profissionais da Marinha pela assistência prestada. “É muito importante para a comunidade e para os pacientes esse atendimento do pessoal da Marinha, trazendo consultas médicas e odontológicas para o nosso povo. Eu agradeço muito mesmo, com meu coração”, afirmou.
A Tenente Thalita já serve na MB há quase oito anos e, ao longo desse tempo, participou de inúmeras Ações de Assistência Hospitalar promovidas pelos navios da Marinha na Amazônia Ocidental, levando saúde e cuidado aos locais mais distantes e isolados da região.
“Eu posso dizer que me sinto honrada em ter servido na Marinha, em ter conhecido comunidades tão distantes, de difícil acesso, e muitas vezes até esquecidas, e poder levar o nosso trabalho, saúde e esperança para essas comunidades. A gente percebe muito a necessidade da assistência em saúde deles, e quando nós chegamos, dá para ver no sorriso deles a satisfação de que serão assistidos. Minha definição desses oito anos é felicidade e muito orgulho em servir”, declarou a Cirurgiã-Dentista.