Os investidores não podem acusar a Lupatech de ter encerrado o ano sem um plano para garantir a solvência da empresa.
Mas a fabricante de equipamentos para o setor de petróleo e gás começará 2012 devendo respostas ao mercado, que tenta entender como se dará o aumento de capital de até R$ 700 milhões anunciado pela empresa em 28 de dezembro.
O comunicado divulgado pela empresa deixou claro que uma injeção de capital de R$ 350 milhões está garantida – o que dá alguma folga a seu balanço combalido.
A Lupatech fechou setembro com uma dívida líquida de R$ 1,2 bilhão, 17 vezes superior à sua geração de caixa anual. Pelos cálculos da Moody's, a empresa precisaria de cerca de R$ 400 milhões para ganhar tempo e recuperar sua geração de caixa.
Como já era esperado, Petros e BNDESPar – segundo e terceiro maior acionistas, com participações de 15% e 11,5%, respectivamente – entrarão com a maior parte dos recursos, em um aporte conjunto de R$ 300 milhões.
Os outros R$ 50 milhões virão com o retorno do GP Investments à companhia. Foi o fundo que preparou o terreno para a abertura de capital da Lupatech em 2006.
O acordo incluirá ainda a incorporação da San Antonio Brasil, empresa que produz sondas de perfuração e fornece serviços para poços de petróleo e está entre os investimentos da GP.
O valor atribuído à San Antonio foi de R$ 150 milhões – sendo R$ 100 milhões em dívidas.
As certezas constantes no comunicado param por aí. Procurada, a Lupatech não atendeu ao pedido de entrevista e afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que esclarecerá os termos do acordo amanhã, em teleconferência.
A principal dúvida diz respeito à divisão do aporte de R$ 300 milhões entre BNDESPar e Petros.
Segundo apurou o Valor, o BNDES estaria menos disposto do que o fundo de pensão a fazer um aporte em dinheiro.
Petros e GP, é certo, entrariam com a injeção de capital em dinheiro. Se o aporte desses dois investidores, somado à participação de minoritários e à adesão de novos acionistas na chamada de capital, superar os R$ 350 milhões tidos como piso, o BNDES pode não entrar com dinheiro na operação e aumentar sua participação por meio da conversão de debêntures em ações.
O braço de investimentos do banco detém 90% de uma emissão de debêntures conversíveis da Lupatech, que totalizou R$ 230 milhões em julho de 2009.
O preço a que seria realizada essa conversão, no entanto, é alvo de controvérsia. A escritura de emissão das debêntures prevê que a conversão se dê a um preço mínimo de R$ 17,50.
O valor estabelecido para o aumento de capital é 77% menor, de R$ 4 por ação – deságio de 18,8% em relação à média dos 20 pregões anteriores ao dia 26.
Outra incerteza diz respeito à incorporação da San Antonio. Um analista que acompanha o setor disse acreditar que a operação seja favorável para a Lupatech.
Porém, segundo ele, os comunicados não informam quais ativos operacionais a empresa da GP possui no Brasil, nem esclarecem o plano de negócios da companhia, essencial para a atração de investidores para o aumento de capital.
Em meio às inúmeras questões, é certo que os minoritários terão sua participação fortemente diluída com o aumento de capital.
Pelos cálculos do analista Artur Delarmo, da Ativa Corretora, apenas a injeção de capital mínima de R$ 350 milhões garantida por BNDES, Petros e GP já implicaria uma diluição de 67%, caso não haja a adesão por parte dos demais investidores.
Esse, no entanto, seria um "mal necessário". "A diluição do minoritário compensa a mitigação do risco de falência da companhia", afirmou o analista em relatório.