A Força-Tarefa Marítima da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (FTM-Unifil), desde 2011 sob liderança brasileira, passará a ter um novo comandante a partir desta quinta-feira (26).
O almirante Flávio Macedo Brasil será o responsável pela missão e terá sob seu comando cerca de mil militares oriundos de seis países: Brasil, Grécia, Turquia, Alemanha, Bangladesh e Indonésia.
O almirante Brasil será o quinto comandante brasileiro da FTM-Unifil. Ele ocupará a função até fevereiro de 2016. No período, trabalhará junto do nono e do décimo contingentes brasileiros no Líbano – as tropas, assim como a nau-capitânia, permanecem apenas seis meses em missão. No total, são 264 os militares da Marinha que participam da força internacional em cada contingente.
Criada inicialmente em 1978, durante a Guerra Civil Libanesa – que envolvia também palestinos e israelenses –, a missão de paz da ONU teve o reforço da Força-Tarefa Marítima em 2006, após a invasão de Israel ao sul do Líbano para combater o grupo Hezbollah.
Depois de ser liderada pela Alemanha e por um grupo europeu composto por Portugal, Espanha, França e Itália, a FTM-Unifil passou ao comando brasileiro em 2011. Desde então, cabe à Marinha do Brasil indicar o comandante da missão e também a nau-capitânia da esquadra internacional.
Patrulhamento
O raio de ação marítima sob responsabilidade dos militares brasileiros é de 205 quilômetros de costa – o que equivale a todo o litoral do estado de Sergipe. “Nossa função é controlar as águas territoriais do Líbano, assim como suas águas adjacentes, de forma a evitar que haja ingresso de armamento ilegal naquele país”, explicou o almirante Brasil.
Segundo o comandante, este é o objetivo principal da missão, com a realização de bloqueios da entrada de armas ilegais, ilícito cuja incidência diminuiu desde que o Brasil assumiu a liderança da FTM-Unifil.
“A segunda tarefa, tão importante quanto, é o treinamento das Forças Armadas libanesas, para que, no futuro, possam assumir as responsabilidades que hoje são desempenhadas pela Força-Tarefa Marítima”, acrescentou o almirante Brasil.
A ação marítima no Líbano conta com a participação de Marinhas estrangeiras que empregam sete embarcações na missão – todas estarão sob o comando do almirante Brasil. Atualmente, além do efetivo brasileiro, a FTM-Unifil é composta por 48 militares gregos, 105 turcos, 123 alemães, 322 bengaleses e 103 indonésios.
Desafios
A Unifil é a única missão de paz da ONU em ambiente marítimo composta por navios e tripulações militares de vários países. Para o almirante, comandar uma força multinacional é um dos aspectos mais desafiadores da sua nova função. “Existem diferenças culturais, religiosas e operacionais.
A maneira como as Marinhas se comportam é muito semelhante, mas há diferenças que devem ser respeitadas”, disse ele, destacando o quanto esse tipo de experiência é enriquecedora para um militar.
“Isso é motivo de orgulho, pois são poucos os que têm a oportunidade de comandar uma força-tarefa multinacional”, destacou.
O território do Líbano é considerado uma área delicada por fazer fronteira com Israel e Síria, sendo um país cercado por conflitos étnicos, religiosos e territoriais. Por essa razão, o almirante acredita ser importante a manutenção de missões como essa na região. “Entendemos a importância que esse tipo de operação tem para a paz no Oriente Médio, algo que acaba transpassando para todo o mundo.”
Treinamento
Os militares escolhidos para a missão passaram por um processo seletivo e foram submetidos a treinamentos e exercícios, determinados pelo Departamento de Operações de Paz da ONU, que começaram em setembro de 2014 em Brasília e no Rio de Janeiro.
Os exercícios foram compostos por uma série de estágios baseados nas missões prévias. “Foram calcados na experiência do pessoal que já esteve na missão, que nos passaram suas dificuldades e apresentaram os desafios que vamos enfrentar. Também uma preparação para entender o cenário, a situação geopolítica e religiosa do Líbano”, ressaltou o almirante Brasil.
Existem dois tipos de treinamentos, um para a tripulação, e outro para o Estado-Maior, que é o comando da missão. “São treinamentos distintos. O da tripulação é muito específico para as tarefas operacionais e táticas que serão desempenhadas lá. O do staff inclui também as questões culturais, como a questão da língua”, acrescentou o almirante Brasil.