Ancorada na Ilha de Mocanguê, em Niterói, desde o último dia 7, vinda do Líbano, a Fragata União participou de uma das mais importantes ações da história da Marinha brasileira. Integrando missão de paz da ONU em uma área de conflito, a Fragata União detectou em 90 dias de patrulhamento cerca de 300 voos militares sobre território libanês, atendeu a 500 pedidos de averiguações e 200 solicitações de inspeções em navios mercantes. Os militares brasileiros interceptaram armas ilegais, entre elas lançadores de foguetes, fuzis e munição.
O comandante da Fragata União, capitão Ricardo Gomes, que desembarcou com a tripulação no último dia 7, explicou que a grave situação da guerra civil na Síria influencia diretamente o vizinho Líbano.
“Cada vez mais vemos uma preocupação de todos ali presentes com o conflito na Síria. Percebemos a presença de forças dentro do Líbano que são pró-governo sírio e outras que são contra o governo da Síria. A tensão é grande, até no shopping as pessoas são revistadas, o que mostra a preocupação constante de que possa haver algum atentado”, disse.
De acordo com o comandante, além de contribuir para a paz numa região conflituosa, a missão serve, entre outras coisas, para afirmar a capacidade da Marinha brasileira em participar de missões complexas.
“Saímos do discurso de querer ajudar e partimos para a ação. Não foi fácil, foi uma responsabilidade muito grande, corremos riscos, mas fomos preparados, com uma estrutura muito boa e com militares muito qualificados. Aprendemos muito durante a missão e percebemos que fomos muito bem vistos lá fora. Na maioria das vezes era o nosso navio que comandava todos os outros, de outras marinhas, isso serviu para afirmar a capacidade da nossa Força Naval”, disse.
O comandante explicou ainda que um dos fatores mais difíceis de uma missão como esta é controlar o emocional. Segundo ele, problemas sociais dos militares influenciam diretamente em seus rendimentos.
“Por se tratar de uma missão longa, de nove meses, muita coisa aconteceu durante esse período, como falecimentos de parentes dos militares, esposas grávidas, adoecimentos de parentes e dos próprios militares, e tudo que acontecia aqui no Brasil eles ficavam sabendo porque havia um contato com a família através da internet. Isso tudo precisou ser muito bem trabalhado com a ajuda de uma equipe de profissionais, como psicólogos e assistentes sociais que ficam na base, para que a missão não fosse prejudicada. Esse foi um dos fatores mais difíceis, porque esses problemas afetam diretamente no rendimento do militar. Quatro deles precisaram desembarcar por problemas de saúde, mas conseguimos recuperar as perdas”, disse.
O comandante informou ainda que foi criado no dia 23 um grupo de trabalho que irá apresentar relatórios com sugestões e críticas para aperfeiçoamento da missão.
O objetivo é apresentar melhorias para o próximo navio que irá para o Líbano, em novembro, a Fragata Constituição. Os militares terão um prazo de 30 dias, a partir do dia 23, para apresentarem as propostas.
A Fragata União foi a embarcação militar principal de um grupo multinacional operando no Líbano, composto de três navios da Alemanha, dois de Bangladesh, um da Grécia, um da Indonésia e um da Turquia.
A presença do navio na região contribuiu com a garantia da paz e da segurança no Sul do Líbano, em apoio às Forças Armadas daquele país e auxiliando no reforço da segurança das fronteiras, de modo a evitar o ingresso ilegal de armas e outros equipamentos militares no país, pelo mar, além de auxiliar a Marinha libanesa no treinamento de seu pessoal para que seja capaz de controlar suas águas territoriais no futuro.
A Fragata brasileira contou com um helicóptero AH-11A Super Lynx, um destacamento de mergulhadores de combate, para realização de operações especiais, e um destacamento de fuzileiros navais, para a segurança do navio. O efetivo total embarcado foi de 250 militares.
A Fragata União foi incorporada à Força Tarefa Marítima (FTM) da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) no dia 14 de novembro de 2011, no Porto de Beirute, sendo rendida pela Fragata “Liberal”, no dia 17 de maio de 2012.
Durante o trânsito de regresso ao Brasil, visitou os portos de Istambul, na Turquia; Civitavecchia, na Itália; Las Palmas, na Espanha; e em Recife. Após nove meses, retornou à Base Naval do Rio de Janeiro, na Ilha de Mocanguê.
Base Naval – A Ilha de Mocanguê abriga a principal base operacional da Marinha brasileira e sede do comando da esquadra, onde ficam os principais navios de guerra brasileiros. Ela foi efetivada como Base Naval em 1986 e sua capacidade operacional vem sendo progressivamente ampliada. Atualmente, conta com um arsenal de guerra, além de dique seco para corvetas, fragatas e outros navios militares. (O Fluminense – RJ)