Exercício inédito da Marinha garante manutenção de cabos submarinos

Tecnologia é responsável por 95% de toda a comunicação mundial

Por Segundo-Tenente (RM2-T) Milena

Você sabia que a internet que você está usando para ler esta matéria depende da funcionalidade dos cabos submarinos? Isso significa que a pesquisa de uma viagem, uma compra online ou a operacionalidade do mercado financeiro, por exemplo, precisam da manutenção dos equipamentos, responsáveis por transmitir em torno de 95% de toda a comunicação mundial, pelo fundo do mar.

Apenas aqui no Brasil, a chamada fibra óptica subaquática transmite informações diárias e garante a manutenção de outros serviços, como as transações bancárias para, aproximadamente, 134 milhões de brasileiros. Ao todo, no País, a cobertura alcança 154.951 quilômetros, por meio do nosso território marítimo, a Amazônia Azul.

Ao contrário do que muitos possam acreditar, a transmissão de dados não é feita de forma terrestre ou espacial. Diante desse cenário, a Marinha do Brasil (MB) atua na proteção dessa tecnologia e realizou um exercício inédito, em maio, visando proteger os cabos submarinos, inclusive com ações contraterrorismo.

De acordo com o Chefe do Departamento de Operações Especiais do Comando Naval de Operações Especiais, Capitão de Fragata (Mergulhador de Combate) Paulo Ricardo Rodrigues dos Santos, apesar da transmissão de dados subaquáticos parecer complexa, essa solução supera qualquer outro método.

“O uso do leito do mar é a forma mais econômica, eficaz e segura para se transferir cerca de 15 trilhões de dólares em transações, por dia”, alerta o Capitão de Fragata. Papel importante na infraestrutura global, os cabos submarinos têm hoje os maiores provedores de conteúdo como investidores, entre eles, Google, Meta, Amazon e Microsoft.

A capacidade máxima potencial do País é de uma transferência equivalente a 610 terabytes de informações. Mas o Capitão de Fragata Ricardo alerta ainda para o risco de prejuízos em caso de não funcionamento dos equipamentos. “A confiança não pode ser exagerada. Uma interrupção do sistema gera consequências, significativamente, negativas para a segurança e a prosperidade do País.”

“Está tudo conectado”

Em todo o mundo, 447 cabos submarinos estabelecem uma ligação de 545.018 milhas náuticas (equivalente a 1009.37 km) de fibras subaquáticas. Na prática, isso significa que está tudo conectado abaixo do nível da água dos oceanos. As maiores conexões estão em Angola, China, Itália, México, Portugal e Uruguai.

Somente no Brasil, existem hoje 15 cabos ativos.  Entre os maiores hubs, despontam quatro pontos brasileiros. Fortaleza (CE), na região Nordeste, é o segundo maior do mundo por ser, geograficamente, posicionado ao leste das Américas. O País ainda conta com os hubs costeiros em Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ) e Santos (SP).

As principais ameaças a esse sistema tão extenso são causas naturais, âncoras, atividades de pesca e sabotagem. Vale lembrar que os animais marinhos, como o tubarão, são incapazes de provocar uma ruptura no sistema com uma mordida, por exemplo.

Além dos setores de telecomunicações, estruturas críticas, como plataformas de petróleo, gasodutos, refinarias e usinas hidroelétricas são os alvos mais vulneráveis em caso de falha ou terrorismo contra a comunicação levada por meio dos cabos.

Clique aqui e visualize as localidades conectadas e os caminhos marítimos de cada cabo pelo mundo, a partir do mapa interativo da empresa Telegeography.

Treinamento e exercícios

O lançamento de cabos submarinos em Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB), dentre outras atividades relativas ao ordenamento do espaço aquaviário e à segurança da navegação, submetem-se às Normas de Autoridade Marítima (NORMAM) da Marinha do Brasil.

Dentro desse escopo, entre os dias 20 e 24 de maio, e de forma inédita, navios, Mergulhadores Escafandristas, além de tropas de Operações Especiais (Mergulhadores de Combate e Comandos Anfíbios) e embarcações do Comando em Chefe da Esquadra, realizaram um treinamento de defesa. Além do foco nas infraestruturas críticas submarinas, a Força-Tarefa também aprestou as ações voltadas às estações terrestres de cabos submarinos, no litoral do Rio de Janeiro, inclusive com a utilização de drone de superfície.

O treinamento foi coordenado pelo Comando Naval de Operações Especiais a bordo do Navio de Socorro Submarino “Guillobel” e contou com a participação do Gabinete de Segurança Institucional; da Agência Reguladora de Telecomunicações; do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e da Agência Nacional de Telecomunicações de Portugal. Além disso, diversas Empresas de Telecomunicações contribuíram para a realização do evento, dentre elas, a Claro.

Durante o exercício, foram simuladas situações reais ocorridas no Brasil e no mundo nos últimos 4 anos. O modelo de treinamento adotado é inspirado na trindade europeia: conhecer – vigiar – agir e, para aplicá-lo foram necessários cinco mergulhos seguindo o passo a passo a seguir:

   1) Ter a noção coletiva e efetiva da situação real;
   2) Aperfeiçoamento de procedimentos e legislações para melhorar a segurança;
   3) Fomentar o monitoramento e o registro da presença de embarcações que ficam em áreas próximas aos cabos;
   4) Adquirir inteligência marítima e melhorar a passagem de satélites georreferenciados sobre a posição desses cabos;
   5) Conhecer os sensores e os sistemas de monitoramento constante da Amazônia Azul;
   6) Operar esses sensores e os meios (navios) para a efetivação desse monitoramento constante;
   7) Testar a resiliência dos sistemas contra uma sabotagem ou um incidente de navegação do tráfego aquaviário.

Esse tipo de ação permite à Marinha do Brasil manter-se na vanguarda do conhecimento e capacitada a proteger as infraestruturas críticas do Poder Marítimo, que incluam, além dos cabos submarinos, plataformas de petróleo, gasodutos e oleodutos, dentre outros.

Histórico e desafios futuros

Apesar de ser um tema sensível e de segurança mundial, poucas pessoas têm conhecimento sobre o que de fato são os cabos submarinos. No Brasil, a primeira linha telegráfica foi ligada em 1857 e fazia a conexão entre a Praia de Saúde (RJ), à época, com a cidade de Teresópolis, na região serrana (RJ).

Em 1988, o primeiro sistema de cabo de fibra óptica transoceânico foi instalado no leito dos oceanos, conectando os EUA ao Reino Unido e à França. Para o futuro, os potenciais desafios são:

   • Alto custo de infraestrutura dos cabos;
   • Necessidade de diversidade física de cabos;
   • Operações marítimas praticamente inalteradas por décadas;
   • Procedimentos de instalação e reparo demandam longos períodos; e
   • Quebras de cabo e danos podem causar fortes impactos na economia global.


O uso dos cabos submarinos foi potencializado a partir dos anos 2000. Os equipamentos têm uma vida útil de cerca de 25 anos. Os chamados “internacionais” têm um ponto de afloramento de grande profundidade, já os costeiros como os do litoral brasileiro não são tão aflorados. As fibras “saem” da parte terrestre e são enterradas na altura da praia sendo, a partir daí, direcionadas para o leito do mar.

Quando os danos são observados, os cabos são suspensos até o navio, onde é feita uma espécie de emenda e são devolvidos ao mar. O custo total de implantação é de 10 milhões de dólares, já o valor de manutenção gira em torno de 1 bilhão de dólares.

A fiscalização de ações que possam prejudicar o funcionamento dos sistemas é feita em parceria entre o Comando de Operações Marítimas e Proteção da Amazônia Azul (COMPAAz) e os Distritos Navais, por meio das Capitanias dos Portos. Em um cenário no qual o COMPAAZ detecte um navio suspeito, a estrutura é acionada para dar início às investigações.

Fonte: Agência Marinha de Notícias

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