Wayne dos Santos Lima
Especialista em Assuntos de Defesa,
Segurança Pública e Segurança Privada
Nesta sexta-feira (16 março 2012), por volta do meio dia, em uma oportunidade singular, o DefesaNet entrevistou o Contra-Almirante Kurt Tidd, Comandante da 4ª Frota da U.S. Navy, tendo o evento ocorrido em uma sala reservada do Hotel Ceasar Park, localizado na Av. Vieira Souto, Ipanema, realizado com o auxílio do Consulado Geral dos EUA e destinado a um seleto grupo de jornalistas, um dos quais representando a Agência de Notícias DefesaNet.
A entrevista começou com uma declaração oficial do Contra-Almirante (muito semelhante à apresentada pelo Chefe de Operações da US Navy, Almirante Gary Roughead em agosto de 2011[1]), ressaltando a intenção da US Navy de estreitar e fortalecer ainda mais os laços de amizade e parceria que possui há décadas com a Marinha do Brasil, remontando, segundo Tidd, a 2ª Guerra Mundial, quando o Brasil apoiou efetivamente os esforços aliados contra o eixo.
Buscando demonstrar com ações, o que já havia sido apresentado em palavras em ocasiões anteriores, nosso entrevistado destacou a Operação Panamax 2012, exercício envolvendo várias forças de diversas bandeiras e existente desde 2005, voltado para a segurança do Canal do Panamá e proximidades contra novas ameaças, da qual o Brasil há seis anos vem participando sempre de forma relativamente modesta, enviando observadores, alguns meios navais e aeronavais ou compondo Estados-Maiores.
Contudo, para a edição deste ano, o Contra-Almirante fez questão de externar seu sentimento de prazer e felicidade em poder trabalhar com a Marinha do Brasil de forma bem diferente das anteriores, tendo o Brasil aceito o convite do USSOUTHCOM (Comando Conjunto das Forças Armadas dos Estados Unidos da América para o Atlântico Sul) para atuar como Combined Forces Maritime Component Command (CFMCC), atribuindo ao Brasil a responsabilidadede comandar a Operação Panamax 2012, ocasião na qualpela primeira vez os EUA abrirão mão de desempenhar tal função.
Em um material impresso entregue pelos representantes do Consulado, o USNAVSCO possui basicamente dois grandes programas voltados para a região de atuação da 4ª Frota: o Continuing Promise e o Southern Partneship Station. Sendo o primeiro voltado para ações assistenciais a catástrofes humanitárias e naturais e a segunda voltada para o estreitamento das relações entre as forças navais, guardas costeiras e órgãos de segurança na região através do treinamento e ação conjuntas.
Tidd destacou sua visita à Fragata Independência (F-44) e à alguns submarinos da MB, ressaltando, após conversar com diversos integrantes, dentre praças e oficiais, do Comando da Força de Submarinos, particularmente, o quão impressionado ficou com o grau de expertise, adestramento e capacidade operacional dos membros daquela força, dentre outras coisas.
Ao comentar, em dois momentos durante sua declaração, sobre o Navio Aeródromo brasileiro São Paulo (A-12), o qual também visitou, Kurt Tidd fez questão de apresentar suas condolências ao povo do Brasil, à MB e em especial aos familiares dos militares mortos no acidente ocorrido há cerca de um mês, ressaltando que a atividade militar, lamentavelmente, tem de fato seus riscos inerentes a função.
Após sua explanação, uma seção de perguntas, tendo sido uma delas por que a 4ª Frota foi restabelecida, uma vez que após o término da 2ª Guerra Mundial, com o fim das hostilidades e a pacificação do Atlântico Sul ela teria sido desfeita e o mundo atual, pelo menos nesta região, não apresenta um cenário nem próximo ao que se vivia há cerca de 70 anos com os U-Bolts alemães. Seria o tráfico de drogas motivo suficiente para o restabelecimento de uma Frota com todos os seus gastos?
O Contra-Almirante respondeu então mais uma vez se tratar de uma reorganização administrativa na qual o Atlântico Sul voltaria a ser considerado pelos EUA como uma região estratégica, tendo o Comandante desta Frota uma cadeira na mesa do Comando das Forças Navais dos EUA em pé de igualdade com todas as outras, ajudando a traçar melhor as estratégias e decidir em tempo hábil as medidas a serem tomadas diante dos problemas que surgirem na região.
Em diversas ocasiões Kurt Tidd ressaltou sua preocupação com o tráfego de embarcações, conduzindo drogas, armas, contrabando e mesmo pessoas, pelo Atlântico Sul. O que tem se mostrado uma atividade extremamente rentável para seus praticantes, podendo servir para financiar grupos terroristas e, ou outros grupos transnacionais que atuem de forma ilegal, ameaçando inclusive governos legalmente constituídos.
Ao ser questionado pelo DefesaNet sobre a função a ser exercida pela 4ª Frota e os meios a disposição da mesma, Kurt Tidd informou que sua função seria coordenar todas as ações envolvendo forças navais norte-americanas nos mares do Caribe e Américas Central e do Sul, inclusive, e principalmente, as ações conjuntas de treinamento e cooperação com forças aliadas da região, visando o estreitamento das relações entre as Marinhas de ambos os países. Novamente mencionando sua preocupação em controlar o trânsito de cargas ilegais como drogas, armas e pessoas por esta região.
Sobre os meios que dispõem, afirmou que, embora não possua meios fixos, podendo inclusive sua composição mudar de um dia para o outro, no momento estão operando com 04 (quatro) fragatas, alguns meios aéreos de patrulha, reconhecimento e salvamento, uma equipe de mergulhadores especializada em busca e recuperação (salvatagem) a bordo de um navio de salvamento, a qual vem auxiliando no treinamento de equipes das forças colombianas e de Tinidad em Tobago no Caribe (ainda segundo o Tidd, há cerda de dois anos esta mesma equipe atuou de forma conjunta com sua equivalente na Marinha do Brasil em um treinamento), além do Navio Hospital COMFORT.
Quando perguntado sobre sua opinião a respeito de a MB buscar operar Submarinos Nucleares, Tidd afirmou se tratar de uma aspiração completamente legítima do Brasil na defesa de nossos interesses estratégicos e, novamente rende homenagens aos grau de proficiência e adestramento de nossos submarinistas e destaca que a U.S. Navy ainda poderia contribuir ajudando a melhorar a capacidade brasileira em resgatar submarinos afundados em acidentes ou combates.
Finalizando a entrevista, quando perguntado sobre a importância de se participar de uma operação como a UNITAS, o Contra-Almirante disse que a importância de uma operação como esta, visava o estreitamento das relações entre as forças, aprimorando a capacidade de adaptação das forças envolvidas para atuarem a quaisquer desafios a segurança de nossos países. Hoje o desafio seria adequar a Segurança Militar, provida por forças armadas regulares contra ameaças assimétricas de grupos não convencionais. A grande dificuldade em situações como estas é identificar quem são os inimigos “O que há lá fora? Quem são os caras bons e quem são os caras maus? Quem deveria estar ali e quem não deveria?” E ainda ser capaz de decidir como se deveria agir, se com força militar, ou com forças de segurança, se acionando as forças dos países locais ou utilizando os próprios meios da 4ª Frota. Ou seja, fazer o certo utilizando os meios corretos da forma correta para se ter resultados duradouros ou definitivos. Resumindo, buscando alcançar o tripé Eficácia X Eficiência X Efetividade.
O DefesaNet agradece a gentil acolhida do Contra-Almirante Kurt Tidd e do Comandante Leonardo Day, Chefe Área Naval, do Escritório de Ligação Militar Brasil – EUA,
Um pouco do Histórico da 4ª Frota
A 4ª Frota dos EUA foi um grande Comando da U.S. Navy no Atlântico Sul durante a Segunda Guerra Mundial, tendo sido estabelecida em 1943 para proteger os EUA contra invasores, bloqueio de corredores e submarinos inimigos. Em 1950, a Quarta Frota foi desestabelecida quando suas responsabilidades foram assumidas pela Segunda Frota dos EUA.
Então, em 24 de abril de 2008, o Chefe de Operações Navais (CON) Almirante Gary Roughead anunciou o restabelecimento 4ª Frota dos EUA durante uma cerimônia na Base Naval de Mayport, Flórida, passando a estar sediada naquela base, co-localizada com Comando Sul das Forças Navais dos EUA (USNAVSO), sob o comandado de um Almirante de Duas Estrelas.
O COMUSNAVSO mantém missões como Comandante do Componente da Marinha para Comando Sul dos EUA (USSOUTHCOM). A 4ª Frota é responsável por Navios da Marinha dos EUA, aviões e submarinos que operam na área de responsabilidade do USSOUTHCOM, que engloba o Caribe e América Central e do Sul e águas circundantes. Como parte do restabelecimento, não serão destinadas novas embarcações em caráter permanente a 4ª Frota, como se trata de uma frota organizacionalmente composta para cumprir uma missão de planejamento e coordenação.
A 4ª Frota da U.S. Navy será focada no fortalecimento da Amizade e Parceria e terá cinco missões: o apoio à manutenção da paz (Peacekeeping), assistência humanitária, socorro a desastres (HADR), exercícios marítimos tradicionais, e operações de apoio Antidrogas.
(Fonte: USNAVSO, Tradução autor.)
United States Navy
Biography
Contra-Almirante Kurt W. Tidd
Comandante, Comando Sul das Forças Navais dos EUA
Comandante, 4ª Frota dos EUA
O Contra-Almirante Tidd chega ao Comando Sul das Forças Navais dos EUA e à 4ª Frota dos EUA depois de um tour por Washington, D.C. Como vice diretor de Operações para o Estado-Maior Conjunto dos EUA.
Antes de sua posição no Estado-Maior Conjunto, Tidd comandou o Grupo de Ataque 8 do Navio-aeródromo USS Dwight Eisenhower (CVN-69), durante um desdobramento de combate em apoio às forças de coalizão na Operação Enduring Freedom. Serviu no Estado-Maior do Conselho de Segurança Nacional como diretor de Políticas de Capacidades Estratégicas, e como diretor para combate de terrorismo, responsável pelas políticas inter-agenciais em combate ao terrorismo por armas de destruição em massa, ameaças à segurança da aviação internacional e políticas de segurança marítima.
De janeiro de 2004 a março de 2005, Tidd comandou a guerra marítima ao terror no Golfo Pérsico como comandante da Força do Oriente Médio e comandante da Força Tarefa 55. outros desdobramentos do USS Arthur W. Radford (DD 968) e oficial executivo a bordo do USS Leftwich (DD 984). Tidd foi oficial de operações a bordo do USS Deyo (DD 989), assistente para o oficial-general comandante do Cruiser-Destroyer Group 8, oficial de caldeiras a bordo do USS América (CV 66) e oficial de comunicações e assistente de propulsão principal no USS Semmes (DDG 18).
Em terra, Tidd foi o fundador adjunto para operações do chefe de operações navais em guerra ao terrorismo no Grupo de Planejamento de Operações “Deep Blue”. Ele foi chefe de gabinete adjunto para Operações para o Comando Central das Forças Navais dos EUA/5ª Frota em Manama, Bahrein. No Pentágono, trabalhou na Divisão de Política e Estratégia do Estado-Maior da Armada (N-51) e como analista político-militar no escritório do Secretário de Avaliação de Programas da Marinha. Tidd foi o planejador estratégico no Painel Executivo (N-00K) do Chefe de Operações Navais, e serviu no Quartel General da OTAN em Bruxelas, Bélgica, como auxiliar ao representante dos EUA, comitê militar da OTAN.
Tidd é a segunda geração de oficiais de guerra de superfície, e é filho do Vice Almirante Emmett H. Tidd da US Navy (aposentado) e Senhora. Ele cresceu em várias cidades nas costas oeste e leste dos EUA antes de sua graduação em 1974 na escola Porter Gaud em Charleston, Carolina do Sul. Tidd foi comissionado pela U.S. Naval Academy em 1978, com o título em Estudos de Áreas Estrangeiras.
Em 1984, foi selecionado bolsista pela Olmsted Foundation e tem mestrado em Ciências Políticas pela Universidade de Bordeaux, França. Ele se graduou pelo Armed Forces Staff College e foi associado executivo federal no Conselho Atlântico dos EUA. Ele é um linguista de francês e um subespecialista comprovado em Planejamento Estratégico e estudos da área Europa/Rússia.