As enchentes que vêm atingindo os Bálcãs nos últimos dias, principalmente na região da Bósnia e da Sérvia, são as piores registradas em 120 anos. Além da destruição e das mortes causadas por essa catástrofe natural, outro problema preocupa. A grande quantidade de água pode deslocar minas terrestres da época da Guerra da Bósnia, que assolou o país entre 1992 e 1995.
"É preciso tentar descobrir imediatamente quais comunidades poderiam ser afetadas e alertar os moradores", afirmou em entrevista à DW Thomas Küchenmeister. O especialista em explosivos coordenou na Alemanha a Campanha Internacional pelo Banimento das Minas Terrestres (ICBL, na sigla em inglês), que, em 1997, ganhou o Prêmio Nobel da Paz.
DW: Quantas minas terrestres ainda estão enterradas na Bósnia?
Thomas Küchenmeister: Não se sabe exatamente. Porém, o que se pode dizer com bastante exatidão é que uma área com cerca de 1.300 quilômetros quadrados – ou seja, uma vez e meia o tamanho de Berlim – está contaminada com explosivos não detonados e minas terrestres, afetando cerca de meio milhão de pessoas.
Em comparação com o Afeganistão ou o Camboja, por exemplo, a quantidade de minas é maior ou menor?
Há menos do que no Afeganistão ou no Camboja. Mas há uma grande concentração de minas em algumas regiões. Durante a guerra [da Bósnia], grandes campos minados foram criados ao longo das linhas de frente. Ou seja, não no país inteiro, mas, principalmente, em áreas estrategicamente importantes.
O local onde essas minas estão é conhecido na Bósnia?
Sim. Houve uma grande investigação para localizar os campos minados. Para isso, contou-se com a experiência dos soldados que participaram da colocação das minas. Assim, regiões perigosas puderam ser isoladas e deixaram de ser acessíveis à população. Depois disso, começou-se a revistar essas áreas de forma sistemática e retirar os artefatos.
Esse processo ainda não terminou na Bósnia, mesmo depois de tantos anos?
Não, as minas ainda são um problema. A retirada e a busca ainda não terminaram. Muitas regiões continuam fechadas para a população.
Há vários métodos para procurar minas – com drones, ratos, abelhas e até plantas geneticamente modificadas. Qual método é, atualmente, o mais confiável?
A procura mais eficaz ainda é a manual. Com frequência, as minas são feitas de plástico. Assim, detectores de metais não funcionam. Para encontrar uma mina, é preciso cavar centímetro por centímetro do chão. Isso requer muito tempo e dinheiro.
Outro método é a remoção mecânica. Uma espécie de cortador de madeira passa sobre o campo, fazendo as minas explodirem. Para mim, esse processo é passível de erro e não pode ser aplicado em todo tipo de terreno.
Por exemplo, o cortador não consegue passar em uma região de floresta densa. Na Bósnia, há vários locais com essa característica, e a procura manual é, atualmente, o único método confiável.
Agora a situação parece ser outra: as minas podem ser deslocadas por causa das enchentes. Em sua opinião, quão a probabilidade de isso acontecer?
Isso é muito provável. Do ponto de vista militar, as margens de rios ou córregos estão entre os locais preferidos para a colocação de minas. E isso aconteceu na Bósnia, com certeza.
Lembro-me de uma enchente bem forte que aconteceu em Moçambique. As minas que ainda não haviam sido removidas foram deslocadas para regiões consideradas livres de explosivos, onde a população, despreparada, não foi alertada. O resultado foram mortes e ferimentos.
Isso também poderia acontecer na Bósnia?
Não posso dizer exatamente quantas minas seriam deslocadas para regiões até então não contaminadas. Mas, em princípio, é muito perigoso, porque a população não está esperando isso e não está preparada. É preciso tentar descobrir imediatamente quais comunidades poderiam ser afetadas e alertar os moradores.
Principalmente pessoas que vivem em regiões de rios e córregos, suponho…
Exatamente. E, justamente, por a maioria das minas serem de plástico e, portanto, bem leves, elas poderiam ser deslocadas por muitos quilômetros.
Minas terrestres que ficaram muito tempo na água ou na lama ainda são perigosas? Seu explosivo ainda funciona?
Talvez sim, talvez não. Minas de plásticos corrompem-se muito lentamente ao entrar em contato com a água. Elas permanecem perigosas por décadas.
Quão forte precisa ser o contato para que as minas explodam?
Depende da mina. Há aquelas que reagem apenas com uma pequena pressão. Não é necessário mais do que meio quilo.