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Dia do Marinheiro: conheça a atuação do Patrono da Marinha do Brasil

Pesquisador analisa a trajetória do Almirante Tamandaré e conta sobre os principais feitos do Herói Nacional

Por Primeiro-Tenente (T) Taise Oliveira – Rio de Janeiro, RJ

Em 13 de dezembro é celebrado o Dia do Marinheiro. Mas você sabe por que essa data foi escolhida pela Marinha do Brasil (MB) para representar os homens e as mulheres que integram a Força? É o dia de nascimento de Joaquim Marques Lisboa, o Almirante Tamandaré, que foi escolhido Patrono da MB, devido aos seus grandes feitos em prol da Pátria e da Força.

Joaquim Marques Lisboa, o Marquês de Tamandaré, nasceu em Rio Grande (RS), em 13 de dezembro de 1807. Militar da Armada Imperial Brasileira, participou da Guerra da Independência do Brasil, dos conflitos internos subsequentes no Período Regencial e, mais tarde, nas guerras do Prata e do Paraguai. Pelos serviços prestados à Pátria, durante uma carreira que durou quase 60 anos, foi feito marquês e, depois, escolhido como Patrono da Marinha.

Para falar sobre esse Herói Nacional, a Agência Marinha de Notícias (AgMN) entrevistou o Pesquisador de História Militar, Aldeir Isael Faxina Barros, que se dedica aos estudos sobre os combates fluviais da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai e participa do Programa de Iniciação Científica da Universidade Estadual de Maringá, no Paraná. O pesquisador possui diversos artigos e capítulos publicados sobre a temática e explica sobre a carreira do Almirante Tamandaré na Marinha.

AgMN – Almirante Tamandaré teve uma vida dedicada à Marinha. Como foi a atuação dele durante os momentos críticos vividos pelo Brasil?

Aldeir Barros – Almirante Tamandaré possui sua trajetória de vida ligada à Marinha, visto ter atuado na Força desde o processo de consolidação da Independência do território que hoje podemos chamar de Brasil. Tamandaré esteve diretamente envolvido em diversos outros episódios como, por exemplo, a supressão de rebeliões, dentre as quais algumas com caráter separatista, garantindo, com isso, a integridade do território nacional. Além de ter atuado em conflitos internacionais, com destaque para a Guerra da Cisplatina (1825-1828) e a Guerra contra o Paraguai (1864-1870).

Durante o processo de independência, Tamandaré se apresentou na época como voluntário, tendo servido a bordo da Fragata “Niterói”, sob o comando de John Taylor. A rápida formação de uma Marinha de Guerra, para fazer frente às forças portuguesas, foi uma importantíssima ferramenta para a consolidação do processo de Independência. Após essa primeira experiência, Tamandaré teve uma atuação contundente na Guerra da Cisplatina, onde pôde participar de vários combates.

Dentre os conflitos internos, Tamandaré se destacou por estar presente em diversas comissões que suprimiram revoltas em vários pontos do território. O poder da Marinha se mostrou decisivo, tanto de modo a bloquear por mar as regiões sublevadas quanto por meio de investidas em terra contra os insurrectos, ou mesmo em apoio às forças terrestres, pelo qual em determinados momentos atuou em concomitância com Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias. A supressão desses movimentos impediu a desagregação do território nacional.

Outro momento vivenciado por Tamandaré foi o comando da intervenção militar ocorrida no Uruguai em 1864, tendo a Esquadra prestado apoio de fogo e desembarcado destacamentos nos combates que se sucederam naquele país. Conflito este que possui ligação direta com a Guerra contra o Paraguai, na qual Tamandaré ocupou, até fins de 1866, o comando das forças navais  presentes. Dentre os pontos relevantes da sua atuação no maior conflito da América do Sul, Tamandaré buscou o controle dos rios e a criação de uma rede de abastecimento, elementos vitais para o prosseguimento das operações para a invasão do território paraguaio.

AgMN – Um dos muitos momentos marcantes na história da Marinha do Brasil foi o reaparelhamento dos meios navais, o que permitiu que a Força continuasse atuando em defesa dos interesses do País. Quais foram as principais ações de Tamandaré nesse período?

Aldeir Barros – Durante o século XIX, uma série de modificações tecnológicas surgiram e foram implementadas nas marinhas de guerra de vários países, configurando uma verdadeira revolução nos meios navais. Neste sentido, o emprego da propulsão a vapor, a inserção das rodas de pás, e a sua posterior troca pelas hélices, os diferentes tipos de munições, a criação de inovadoras tipologias de belonaves e o, posterior, emprego de uma couraça de ferro sobre embarcações construídas em madeira modificaram, sobremaneira, o modo de se fazer a guerra nos mares e nos rios.

Inserido neste contexto, o Império brasileiro encarregou Tamandaré, que havia se deslocado à Europa em licença para tratar da saúde de sua esposa no ano de 1857, de uma série de tarefas a serem desempenhadas no Velho Mundo, dentre as quais, a de supervisionar a construção e a aquisição de duas canhoneiras encomendadas na França e de outras oito unidades encomendadas em dois estaleiros britânicos. Tal reaparelhamento naval visava suprir as deficiências da Armada observadas principalmente na região do rio da Prata. Aqui ficam claras as influências dos percalços vivenciados pela expedição diplomática de Pedro Ferreira de Oliveira à Assunção – Paraguai (1854-1855).

Em meados de 1859, Tamandaré se apresentou em solo nacional com os dois últimos navios encomendados, “Belmonte” e “Parnaíba”, dando por findada a comissão a que lhe fora atribuída. Essas novas embarcações se prestavam a navegar na região a que foram pensadas, participando, a partir de suas incorporações, dos acontecimentos bélicos posteriores, incluindo a célebre Batalha Naval do Riachuelo (11 de junho de 1865), na qual algumas daquelas unidades supervisionadas por Tamandaré se fizeram presentes.

AgMN – Na Guerra do Paraguai, o maior conflito militar da América do Sul, travada por Paraguai e a Tríplice Aliança, formada por Brasil, Argentina e Uruguai, Tamandaré comandou Forças Navais.  Quais estratégias navais foram utilizadas pelo militar durante esse período?

Aldeir Barros – Com a Esquadra sob o comando de Tamandaré, a estratégia, que primeiro se sobressai, é o bloqueio dos rios empreendidos contra as forças paraguaias, impedindo a comunicação fluvial com o exterior e a consequente entrada de armamentos e suprimentos. Todavia, obviamente, outras estratégias se destacaram neste período, como as operações de auxílio as forças terrestres, envolvendo operações de canhoneio e de transporte de pessoal e material.

As operações de apoio de fogo às forças terrestres, efetuadas em diversas situações, ocorreram desde a rendição das forças paraguaias em Uruguaiana, no atual Rio Grande do Sul, passando pelos combates no entorno do forte de Itapirú, no combate da Ilha da Redenção, no desembarque em Passo da Pátria, na tomada do forte de Curuzu, na derrota em Curupaití, dentre outros casos.

Já com relação ao transporte de tropas e material bélico, destaca-se, sobremaneira, a operação de invasão do território paraguaio na região de Passo da Pátria, marcando, por assim dizer, o início da campanha ofensiva da Aliança contra as forças paraguaias. Entretanto, ainda sob o comando de Tamandaré, também pode ser observado o desembarque de tropas para a tomada do forte de Curuzu, situado nas proximidades da fortaleza de Curupaití.

AgMN – Quais maiores desafios enfrentados por Tamandaré a serviço da Marinha do Brasil e a Pátria?

Aldeir Barros – Creio que o maior desafio enfrentado por Tamandaré ocorreu quando estava no cargo de Comandante em Chefe das Forças Navais do Império na Guerra contra o Paraguai, visto ter de se atentar não somente às questões inerentes ao conflito propriamente dito, mas às ferrenhas disputas políticas entre os atores envolvidos na aliança.

As disputas e desconfianças entre Tamandaré e o General argentino Bartolomé Mitre alcançaram um nível insustentável após a derrota aliada em Curupaití (22 de setembro de 1866), na qual, dentre as acusações sobre a origem do insucesso, se voltaram em grande medida para a ineficácia do bombardeio naval. Dirigir unicamente à Armada de Tamandaré como a causa do malogro do ataque aliado a posição paraguaia é inexato. Mas o fato é que, após este evento, a manutenção de Tamandaré em seu cargo se demonstrou impossível, tendo sido a contragosto exonerado do seu posto.

AgMN – O reconhecimento de Tamandaré pela Nação brasileira começou em vida. Quais honrarias foram recebidas?

Aldeir Barros – O reconhecimento e as honrarias recebidas por Tamandaré tanto em vida quanto após sua morte são inúmeros e variados. Ainda em vida, Tamandaré fora galgando postos com base em sua carreira militar, sendo agraciado com diversas honrarias e comendas, como os títulos nobiliárquicos de Barão, Visconde, Conde e Marquês; também recebera o colar da Imperial Ordem da Rosa.

Ainda em vida, Tamandaré pôde observar o batismo de um navio encouraçado construído no Rio de Janeiro em sua homenagem: o encouraçado “Tamandaré”, que operou junto à Esquadra sob o seu comando nas águas do rio Paraguai, desde os levantamentos fluviais ocorridos anteriormente à invasão do território paraguaio até o findar do conflito, tendo sido um dos navios que forçou o passo de Humaitá, em fevereiro de 1868. O Almirante também pôde observar o batismo de outra belonave, um cruzador, em sua homenagem. Além da existência de outras embarcações de outrora e do presente que fazem menção a Tamandaré.

Por seus serviços prestados à Nação, o nome Tamandaré pode ser atualmente visualizado em ao menos dois municípios; além de fortes, praças, avenidas, ruas e largos que ostentam seu nome como forma de homenagem. Sem contar os diversos bustos e monumentos espalhados por diversos pontos do País. Também, em sua homenagem, fora criada a Medalha Mérito Tamandaré, além de ter seu nome inserido no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, como um dos construtores da Nação.

Em reconhecimento por seus feitos, além das honrarias supracitadas, Tamandaré fora alçado a Patrono da Marinha do Brasil, e no dia do seu aniversário, 13 de dezembro, foi instituído o Dia do Marinheiro.

Fonte: Agência Marinha de Notícias

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