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Construção Naval – Sete Brasil não é o ínico problema

 

Por Danilo Oliveira
Portos e Navios

A Associação Brasileira das Empresas de Construção Naval e Offshore (ABENAV) acredita que o governo encontrará em breve uma solução para a Sete Brasil. Apesar de o mercado estimar que, pelo menos, nove das 29 sondas contratadas pela empresa não sejam construídas, a entidade avalia que o setor não está parado. Um dos motivos são as encomendas de outros segmentos, que estão sendo vistos com mais atenção pelos fornecedores.

Em entrevista a Portos e Navios, o presidente executivo da ABENAV, Sergio Bacci, defendeu que a desaceleração na carteira de grandes encomendas não pode permanecer por muito tempo. Segundo Bacci, é essencial que o setor naval recupere o quanto antes essa carteira de construção.

Os associados estão ampliando o escopo de atuação neste período de incertezas na construção naval. A Abenav está estruturando iniciativas no comitê setorial de tendências e demandas, que mapeia segmentos relevantes como: Marinha do Brasil; construção de empurradores fluviais e rebocadores; avanço no conteúdo local nos navios petroleiros e de produtos para a Transpetro; e integração de módulos para plataformas de produção de petróleo.

Bacci reafirmou a posição da Abenav a favor da manutenção de política de conteúdo local. Ele disse, no entanto, que a associação e o Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e offshore (Sinaval) se dispõem a contribuir com o governo, caso haja uma discussão para mudar a política, conforme especulado. As duas entidades enviaram uma carta em conjunto ao ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, e à diretora geral da ANP, Magda Chambriard, no intuito de debater juntamente com os envolvidos nos estudos, ações e consequências que possíveis mudanças nas regras de conteúdo local irão impactar no setor.

Confira trechos da entrevista com o presidente executivo da Abenav, Sergio Bacci:

Portos e Navios: Desde 2014, o setor enfrenta incertezas por conta da operação Lava-Jato e da crise na Petrobras. Quais as alternativas para o setor na visão da Abenav?

Sergio Bacci: Na crise é preciso ser criativo. Temos que buscar viabilizar a cadeia de fornecedores, mesmo com a crise. O fornecedor não pode esperar. Um nicho de mercado que não vai parar é o reparo. De tempos em tempos, o barco tem que docar, fazer suas manutenções. Como o mercado estava aquecido, os fornecedores não estavam dando tanto valor. Outro caminho são conversas com a Marinha do Brasil, que tem vários projetos em andamento com recurso disponibilizado para conteúdo local. Também ficava de lado a questão de empurradores e barcaças na região Norte. São construídos muitos empurradores e barcaças lá e está crescendo. Existem estaleiros com 60 barcaças para serem construídas.

PN: Qual a expectativa da Abenav em torno da Petrobras?

Bacci: O próximo passo é o novo plano de negócios. Com ele, vamos saber aonde nós vamos. Essa indústria precisa de planejamento. Não adianta encomendar ao estaleiro um PSV 4.500 para março de 2016. Nem que o estaleiro estivesse vazio. Estaleiro depende de equipamentos, produção e várias coisas que são encomendadas e demoram às vezes um ano para serem entregues. Esse mercado depende de planejamento. Não dá para falar que precisa de um negócio para daqui a um ano. Precisa pensar o setor quatro, cinco, seis anos à frente. O plano de negócios da Petrobras será o grande balizador para os próximos anos. Saberemos qual o tamanho que a Petrobras vai querer para essa indústria.

PN: Como ficam os estaleiros nesse contexto?

Bacci: É importante que, em se reduzindo essa demanda, que essa redução seja momentânea. Porque nenhum estaleiro sobrevive com a construção de três a quatro plataformas. Ele precisa ter mais demanda, senão ele fecha. Se houver redução agora, que ela seja passageira e em breve se retome os investimentos para construir novas plataformas no país. Se metade do que se diz do pré-sal acontecer, vamos precisar de muita coisa.

PN: Qual a visão da Abenav em relação ao segmento de apoio marítimo?

Bacci: Tem demanda. A Sete Brasil é uma demanda importante, mas se pegar segmento de barco de apoio, bem ou mal, está funcionando. O grupo CBO, com estaleiros Aliança (RJ) e Oceana (SC), têm cinco barcos para construir. O Navship está construindo casco 37 e tem prioridade no fundo aprovada para construir até o 53 — são mais 16 embarcações. A Wilson Sons está construindo para ela e para terceiros. O Vard tem obras no Rio e em Pernambuco (…). O que pegou em cheio foram as sondas (Sete Brasil). Não é que esteja parado, as obras estão acontecendo num ritmo desacelerado.

PN: Durante a OTC 2015, em Houston, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, e a diretora da ANP, Magda Chambriard, indicaram a possibilidade de mudanças na política de conteúdo local. O que pode mudar na construção naval e offshore?

Bacci: ABENAV, SINAVAL, fornecedores e estaleiros estão empenhados em manter política de conteúdo local. É bom para fornecedores e estaleiros brasileiros e bom para o país, gera emprego e renda aqui. Com boato de que pode ter mudança de conteúdo local, pedimos que, tendo alguma modificação, que sejamos ouvidos também.

A princípio, ABENAV fez uma carta ao MME e à ANP dizendo que gostaria que não mudasse conteúdo local porque é uma política que está dando certo. Caso abra discussão para isso, nós (Abenav e Sinaval) gostaríamos de ser ouvidos porque temos posições e interesses. Quem conheceu indústria naval em 2003 com dois mil funcionários e ver essa indústria com 69 mil empregos sabe que parte do êxito é por conta da política de conteúdo local. Política que é isolada, pois ela não é casada com política industrial. O país não tem política industrial pensada e planejada.


 

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