Por Rodrigo Zavala
Do Cineweb, via Reuters*
À primeira vista, o novo filme do cineasta Vicente Ferraz (de “Soy Cuba, o mamute siberiano”) pode ser considerado um filme de guerra. Mas o rótulo é refutado pelo próprio diretor e roteirista, por mais que sua ficção encene a participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na 2ª Guerra Mundial.
A recusa faz sentido. Com um afinado apuro técnico, a coprodução entre Brasil, Itália e Portugal “A estrada 47” centra-se no drama e nos conflitos dos personagens, deixando os horrores da guerra apenas como uma questão de contexto. Uma abordagem humana extraída das leituras de relatos de ex-combatentes e crônicas sobre o tema feitas pelo diretor nos últimos anos.
No roteiro, Ferraz fecha sua narrativa no quarteto formado por Piauí (Francisco Gaspar), Tenente (Júlio Andrade), Laurindo (Thogun Teixeira) e Guima (Daniel de Oliveira), soldados brasileiros enviados à Itália para lutar contra as forças do Eixo. Depois de uma debandada generalizada do batalhão por uma crise de pânico no sopé do Monte Castelo, os quatro se separam do grupo.
Mesmo com medo de emboscadas, eles precisam decidir se voltam ao quartel, e enfrentam a corte marcial por deixar seus postos, ou se seguem adiante e retiram as minas terrestres da Estrada 47, o que permitiria a passagem do exército aliado. A ideia vem do jornalista de guerra Rui (o português Ivo Canelas), que se junta aos soldados, especializados em engenharia.
No caminho irão encontrar o desertor fascista Roberto (o ator e diretor italiano Sergio Rubini) e ainda fazem prisioneiro um soldado alemão, o coronel Mayer (Richard Sammel). Cada um deles irá ajudá-los de alguma forma nesta empreitada.
Ferraz contou com a colaboração do roteirista Paulo Lins (de “Quase dois irmãos”), que escreveu as cartas (narradas em off durante o filme) do personagem Guima ao pai, no Brasil. Mais do que caracterizar o personagem, o texto tenta resgatar a mistura de sentimentos dos mais de 25 mil brasileiros enviados para a campanha italiana, muitos sem qualquer preparo.
Vencedor do prêmio de melhor filme no Festival de Gramado no ano passado, a ficção de Vicente Ferraz também surpreende pelas dificuldades técnicas enfrentadas em sua produção. Filmada na Itália, debaixo um rigoroso inverno, já que a presença da neve era fundamental, o trabalho da equipe e elenco foi ainda mais desafiador.
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