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StandWithUs publica carta aberta ao presidente brasileiro

Entidade pede que o presidente se empenhe pessoalmente na luta contra o antissemitismo crescente com a guerra do Hamas contra Israel

A StandWithUs Brasil, ONG que tem como propósito ensinar pessoas de todas as idades sobre Israel e combater o extremismo e o antissemitismo, publicou nesta quarta-feira (13) uma carta aberta ao presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva nos três maiores jornais do país. A carta, elaborada por judeus e não judeus, expressa a preocupação pelas consequências da guerra do Hamas contra Israel no Brasil, destaca o crescente antissemitismo aqui e no mundo e pede uma postura firme do presidente Lula para tratar tal cenário com a devida seriedade.  

Leia abaixo a carta completa.

Carta aberta da StandWithUs Brasil ao presidente Lula

Ao Exmo. Sr. Presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.

Nós, judias e judeus brasileiros, junto a muitos não judeus que compartilham nossa dor, vimos por esta carta aberta expressar ao presidente da República e à sociedade nossa preocupação pelas consequências por aqui da guerra do Hamas contra Israel.

O massacre de 7 de outubro, há pouco mais de dois meses, foi a maior matança de judeus por serem judeus desde o Holocausto. Mais de 1.200 pessoas foram assassinadas a sangue frio num atentado terrorista macabro que incluiu estupros, corpos queimados ou mutilados, famílias inteiras mortas no próprio lar e mais de 200 crianças, idosos, mulheres e homens sequestrados. Quase todos e todas nós — uma comunidade formada por pouco mais de cem mil brasileiros que amam o país — conhecemos alguém por lá que foi morto, ferido, perdeu um familiar ou aguarda a liberação de um refém.

Israel tem o direito de se defender dessa barbárie, como o Brasil teria se o massacre tivesse sido aqui. Mas foi lá numa terra distante que sempre foi alvo de preconceito e desinformação. Desde o início desta guerra, assistimos a um aumento alarmante do antissemitismo, nas ruas e nas redes. Falas até pouco impensáveis encontram agora livre vazão. Já vimos, inclusive, passeatas com bandeiras do Hamas no Brasil, que assiste a uma horrenda normalização do terrorismo e à banalização dos chamados a ferir e matar judeus. Entenda que tudo isso ameaça a segurança das nossas famílias — e de toda a sociedade.

Não é um caso especial: está acontecendo no mundo, e nós não queremos chegar à situação de outros países onde os judeus e judias precisam tirar as mezuzás das portas, andar na rua sem kipá e esconder a estrela de Davi pendurada no pescoço. Não queremos ter que pedir aos nossos filhos, aqui no Brasil, que troquem de roupa para não ser vistos na rua com o uniforme de uma escola judaica — e tem famílias que já estão passando por isso. É urgente que autoridades e políticos comecem a agir com determinação e fazer pedagogia social. Não aceitaremos viver sob o temor permanente de ser vítimas do ódio e da violência.

Presidente Lula, na última campanha, Vossa Excelência pregou o fim dos discursos de ódio, fake news e ataques às minorias, e prometeu trabalhar pela união dos brasileiros e brasileiras. E mais do que necessário. Acreditamos nestas suas falas e esperamos que honre o compromisso. Por isso mesmo, tem palavras que doem e silêncios ensurdecedores.

Doem as falsas equivalências: um povo que se defende não pode ser equiparado àqueles que querem massacrá-lo, e um Estado democrático que protege seu povo (a única democracia do Oriente Médio) não pode ser equiparado a um grupo terrorista que usa civis inocentes como escudos — um grupo fundamentalista religioso que instaurou uma ditadura militar em Gaza há mais de 15 anos e mantém sua população de refém, violando os direitos humanos, oprimindo as mulheres e perseguindo a população LGBT. Doem as declarações que, por desconhecimento, reproduzem fake news e teorias conspiratórias sobre Israel, que alimentam o preconceito sobre os judeus e o sionismo — nome próprio do movimento nacional de autodeterminação do povo judeu. Ensurdece a ausência de vozes que repudiem o antissemitismo naqueles setores políticos e sociais onde ele se espalha perigosamente.

Recentemente, o senhor recebeu a irmã e a filha do brasileiro Michel Nisenbaum, ainda refém do Hamas. Foi um passo importante, mas a gravidade da situação exige muito mais. As falas, decisões e posturas públicas da máxima autoridade do país podem nos trazer segurança ou insegurança — e, se acertadas, podem educar, ajudando a construir uma sociedade pacífica e consciente dos males do antissemitismo.

A nossa dor, contudo, não nos leva ao distanciamento: queremos dialogar, conversar, ser ouvidos. Sabemos que Vossa Excelência é uma pessoa aberta, que sabe ouvir, e esperamos que compreenda o quanto seria importante, pela sua influência, que fale em alto e bom som que Hamas é um grupo terrorista — pelos fatos que todo o mundo viu, apesar da cegueira da ONU — e exija nos fóruns internacionais a liberação incondicional todos os reféns. Que ouça o testemunho dos compatriotas que voltaram de Israel depois do massacre e ainda não foram recebidos. Que preste homenagem aos brasileiros assassinados, Karla Stelzer, Bruna Valeanu e Ranani Glaza•, e também Celeste Fishbein, filha e neta de brasileiras.

E, sobretudo, que se empenhe pessoalmente, como representante do povo brasileiro, na luta contra o preconceito que nos atinge também aqui, em casa, adotando oficialmente — como já fizeram, entre outros, Fernández, na Argentina; Biden, nos EUA; Macron, na França; Sánchez, na Espanha, e Merkel, na Alemanha — a definição de antissemitismo da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA) e liderando, aqui no Brasil, uma mudança social na compreensão de um problema tão antigo e infelizmente tão atual.

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