Desde que vários países europeus, como a Espanha e a Itália, anunciaram o fim das vendas de material bélico a Israel, essa se tornou uma questão sensível entre Tel Aviv e nações aliadas. O Instituto Internacional de Pesquisa Sobre a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês) publicou um relatório em que indica que os Estados Unidos e a Alemanha continuam sendo os países que mais fornecem armas às forças israelenses, enquanto a França vem se esquivando desse apoio.
(RFI) A polêmica do fornecimento de armas a Israel roubou os holofotes nos eventos que marcaram, na França, o aniversário de um ano dos ataques do grupo Hamas de 7 de outubro de 2023, que desencadearam a guerra na Faixa de Gaza. O primeiro-ministro francês, Michel Barnier, chegou a ser vaiado ao mencionar o nome do presidente Emmanuel Macron em um evento do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França, na segunda-feira (7).
No último sábado (5), as declarações do chefe de Estado francês à rádio France Inter não irritaram apenas o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, mas boa parte da comunidade judaica. O motivo: Macron sinalizou sua intenção de interromper a entrega de armas a Israel em prol de “uma solução política” na Faixa de Gaza.
Apesar da forte repercussão da declaração, criticada pela direita e saudada pela esquerda na França, o novo relatório do Sipri, divulgado em 4 de outubro, mostra que não houve “nenhuma grande exportação francesa de armas a Israel entre 2019 e 2023”. Segundo o balanço da instituição especializada em análises e compilação de dados sobre guerras, o último grande envio de armamentos pesados de Paris a Tel Aviv data de 1998.
No entanto, a França continua vendendo componentes de armas a Israel. Em fevereiro deste ano, o então ministro das Forças Armadas, Sébastien Lecornu, declarou que as exportações de material bélico ao Estado hebreu diziam respeito apenas a “peças de base”.
O Sipri sublinha que desde outubro de 2023 o governo francês adotou uma política mais rígida nessas exportações. A organização sueca também cita que em junho deste ano a plataforma de jornalismo de investigação Disclose revelou que Paris autorizou o envio à Israel de equipamentos eletrônicos usados em drones Hermes 900, “que talvez tenham sido usados para vigiar a evolução da situação em Gaza”.
EUA: primeiro parceiro bélico de Israel
Para o Sipri, não há dúvidas: os Estados Unidos são, de longe, o maior fornecedor de armamentos de Israel. Segundo os números da organização sueca, 69% do material bélico de Israel é de origem americana. Essas exportações são em parte financiadas pelos US$ 3,3 bilhões de ajuda militar que Washington repassa a cada ano ao Estado hebreu.
Israel ainda conta com um apoio de US$ 500 milhões dos Estados Unidos para a sua defesa aérea. O montante serve particularmente para a manutenção do célebre sistema antimísseis Domo de Ferro.
Além disso, as Forças Armadas israelenses são um importante cliente da indústria americana de armas. Israel se equipa, por exemplo de aviões F35, segundo investigações do jornal americano New York Times, que aponta que, nesses últimos meses, os Estados Unidos entregaram cerca de cinco mil bombas de uma tonelada ao país aliado.
Alemanha: um apoio expressivo à marinha israelense
O relatório do Sipri também aponta que nos últimos cinco anos Berlim ocupou o segundo lugar no fornecimento de material bélico a Israel, especialmente para as forças navais do país – o que representa 81% das vendas. O restante das exportações é composto essencialmente de veículos blindados, boa parte deles usados na Faixa de Gaza.
De acordo com dados do Ministério da Economia da Alemanha, os gastos com material bélico alemão custaram cerca de € 327 milhões aos cofres de Israel apenas no ano passado. O Sipri revela ainda que quatro submarinos alemães aguardavam autorização para serem entregues a Israel no final de 2023, enquanto outros quatro navios de guerra foram enviados a Tel Aviv no ano passado.
A organização sueca ressalta que, na última década, Israel teve um aumento expressivo de compra de armamentos. No período entre 2019 e 2023, o Estado hebreu era o 15° maior importador de material bélico no mundo; entre 2009 e 2013, o país ocupava a 47a posição.