Resolução que exige trégua “duradoura e sustentável” e soltura de todos os reféns foi aprovada com a abstenção dos EUA, que desta vez não fez uso do seu poder de veto, marcando inflexão no apoio a Israel.
(DW) Após quatro tentativas fracassadas ao longo de mais de cinco meses de conflito, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou nesta segunda-feira (25/03), com os votos de 14 de seus 15 membros e a abstenção dos Estados Unidos, uma resolução que exige um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, e a soltura de todos os reféns mantidos pelo grupo radical islâmico na Faixa de Gaza.
A resolução, que tem caráter vinculativo – e cujo descumprimento, portanto, pode levar à imposição de sanções internacionais –, foi levada ao conselho por 10 membros e teve o apoio de Rússia, China e dos países árabes.
“O povo palestino sofreu grandemente”, declarou ao conselho o embaixador da Argélia nas Nações Unidas, Amar Bendjama, falando após a votação. “É nossa obrigação dar um fim a este banho de sangue, antes que seja tarde demais.”
Inflexão do EUA
A abstenção dos Estados Unidos marca uma nítida inflexão no apoio internacional a Israel – os americanos vinham até então usando do seu poder de veto para barrar medidas vistas por Israel como uma ameaça a sua segurança nacional, mas o governo de Joe Biden viu a pressão por um cessar-fogo crescer à medida que o saldo de mortos no lado palestino ultrapassou os 32 mil, segundo dados de autoridades subordinadas ao Hamas – embora os números não diferenciem entre civis e combatentes, elas afirmam que mulheres e crianças representam mais de dois terços das vítimas.
O conflito foi deflagrado em 7 de outubro, após um atentado terrorista cometido pelo Hamas deixar um saldo de cerca de 1.160 mortos em Israel, a maioria civis. Outras cerca de 250 pessoas foram sequestradas e levadas para a Faixa de Gaza, e acredita-se que cerca de 130 continuem no território palestino – 33 das quais são dadas como mortas.
“Um cessar-fogo pode começar imediatamente, com a soltura do primeiro refém, e devemos pressionar o Hamas a fazer exatamente isso”, afirmou a embaixadora americana nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield.
Resolução também exige fluxo desimpedido de assistência humanitária
A resolução aprovada nesta segunda fala em um “cessar-fogo duradouro e sustentável”, “enfatiza a necessidade urgente de expandir o fluxo de assistência humanitária à Faixa de Gaza e de reforçar a proteção de civis” em toda a extensão do território palestino, além de “reiterar sua demanda para que sejam suspensas todas as barreiras à provisão de assistência humanitária” em larga escala.
Na última sexta-feira, China e Rússia haviam vetado uma resolução de teor semelhante proposta pelos Estados Unidos sob o argumento de que ela abria o caminho para uma operação militar israelense em Rafah, no extremo sul de Gaza, onde estão abrigados a maioria dos refugiados do conflito.
Crítica de Israel, elogio do Hamas
Logo após a votação, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou que cancelou a viagem de uma delegação israelense aos Estados Unidos. Nela, os americanos apresentariam alternativas a uma invasão de Rafah. Israel tem sinalizado que pretende levar a operação militar a cabo independentemente das reações internacionais.
Sobre a resolução, o gabinete de Netanyahu afirmou que ela prejudica “tanto o esforço de guerra quanto o esforço pela soltura dos reféns”.
“Dá ao Hamas a esperança de que a pressão internacional lhes permitirá aceitar um cessar-fogo sem a soltura dos nossos abduzidos”.
O Hamas saudou a resolução, dizendo-se “pronto” para uma “troca imediata de prisioneiros nos dois lados”.
Porta-voz do Conselho Nacional de Segurança americano, John Kirby reagiu dizendo que os EUA estão “desapontados” com a decisão de Israel de cancelar a viagem, mas frisou que o país não mudou sua posição em relação ao conflito.
“Nos mantivemos consistentes no nosso apoio a um cessar-fogo como parte de um acordo [para soltura] de reféns”, argumentou Kirby, atribuindo a abstenção na votação ao fato de a resolução não incluir uma condenação do Hamas.
ra/le (Reuters, DPA, AFP, AP, ots)