Mariana Timóteo da Costa
SÃO PAULO. Nelson Düring é engenheiro e jornalista. Especialista em aviação, é editor-chefe do portal Defesa Net. Na entrevista abaixo, diz que a compra dos caças Gripen NG é fundamental para renovar a obsoleta atual frota brasileira. E recomenda à opinião-pública que pense na questão da defesa dentro de um conceito mais atual, que pode não ser de guerras ou confrontos com vizinhos, mas sim de proteção de infraestrutura, segurança de grandes eventos e estratégias de cooperação internacional.
O GLOBO: Por que o Brasil precisa de 36 novos caças?
NELSON DÜRING: As Forças Armadas funcionam como uma importante garantia. Os fatos constantemente provam que só forças públicas muitas vezes não conseguem lidar com a segurança de um país. O que aconteceria se a usina de Itaipu fosse ameaçada? Ou uma plataforma de petróleo localizada a 300 km do litoral? Não é só por ataques externos, mas por pequenos grupos como facções criminosas, ou devido a acidentes mesmo. Aliás, é preciso pensar a defesa dentro desta nova ordem mundial. Os caças são uma garantia para o Brasil na nova ordem mundial.
O GLOBO: Que ordem é esta?
DÜRING: Uma ordem em que talvez não haja guerras ou conflitos militares entre vizinhos, mas ameaças terroristas, ou de gangues marginais, por exemplo. Os caças terão radares para patrulhar, por exemplo, grandes eventos _ uma pena que vão chegar somente em 2018, após a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Além disso, funcionarão como plataforma de inteligência e sensores. São de importância econômica e estratégica e condizem com as dimensões continentais do Brasil e a posição importante que o país pretende ocupar na geopolítica. Se pensarmos que quase todos os voos para a América do Sul passam em nosso território, por exemplo, é importante disponibilizarmos este tipo de serviço de segurança.
O GLOBO: Quando a presidente Dilma Rousseff fala em cooperação com os outros Brics então, ela está certa?
DÜRING: Certíssima. A África do Sul possui caças Gripen de uma geração anterior à NG, o que pode levar a uma série de cooperações entre os dois países. O Brasil tem projetos de desenvolver radares com a Índia, vai comprar no ano que vem um expressivo sistema de defesa anti-aéreo da Rússia. Só com a China, por incrível que pareça, as conversas militares não avançam muito.
O GLOBO: Que outros países têm Gripens?
DÜRING: Os desta geração que o Brasil comprou só devem ficar prontos em 2018, mas já foram comprados pela Suíça também e , claro, a Suécia vai ter. O Brasil vai ter 36, a Suíça 22 e a Suécia 60. Os de gerações mais anteriores operam em África do Sul, Tailândia, Suécia, República Tcheca, Hungria e num centro de treinamento de pilotos na Inglaterra.
O GLOBO: Quais vizinhos do Brasil possuem caças?
DÜRING: A Venezuela renovou toda sua frota em 2007, com os Sukhoi comprados da Rússia, todos já foram entregues. Difícil é saber o estado deles, porque esses caças precisam de uma enorme quantidade de dinheiro para a manutenção. A Colômbia tem Kfirs israelenses, comprados há dois anos, que são uma atualização do Mirage francês. O Peru possui Mirages (França) e MiGs (Rússia). A frota argentina é muito ultrapassada, formada por A-4ARs (americanos) e Mirages, remanescentes ainda da Guerra das Malvinas, de 1982. A melhor frota, muito superior à atual do Brasil, é a do Chile: com 36 F-16s americanos: 10 novos em folhas e 26 de segunda mão, mas que funcionam muito bem, comprados recentemente da Holanda.