HAMAS-HEZBOLLAH E A GUERRA PSICOLÓGICA CONTRA ISRAEL
André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos, Diplomado em
Inteligência Estratégica pela Escola Superior de Guerra e Psicanalista.
Observamos há décadas, uma guerra crônica dos grupos terroristas Hamas-Hezbollah contra o Estado de Israel, inclusive, com o primeiro de uma série de atentados suicidas com artefatos explosivos, estratégia criada pelo Hezbollah em 1982 e utilizada pelo Hamas em 1994, com a explosão de um ônibus em Tel Aviv resultando na morte de 22 pessoas e ferimentos em outras 40. Posteriormente, foi protagonista em outros conflitos em 2009, 2012, 2014 e 2021, contudo, nada parecido com a intensidade e brutalidade dos ataques ocorridos em 07 de outubro de 2023, vindos da Faixa de Gaza.
Trata-se de uma guerra assimétrica não apenas pelas diferenças abissais entre as forças em litígio, mas sobretudo, pelo paradigma de como combater um adversário que não reconhece a sua existência, rejeita quaisquer tratativas de paz e está disposto a sacrificar a própria vida e as de seus compatriotas para erradicá-lo? Não me refiro ao povo palestino, com certeza, submetido a grande sofrimento físico e emocional, mas exclusivamente, aos aspectos das ações terroristas.
Podemos dizer que existem duas guerras paralelas em andamento no conflito Israelo-Hamas-Hezbollah. A primeira, uma ação bélica, travada em uma zona de operações entre forças assimétricas onde a probabilidade de sucesso militar é inexistente e o Hamas-Hezbollah tem plena consciência disso e, diante desta conjuntura, o Hamas utiliza a população como escudos humanos e a empobrecida e colapsada infraestrutura de Gaza como bases, pontos de ataque e armazenamento de armas e suprimentos.
A segunda, uma guerra psicológica, de propaganda e desinformação que adquiriu dimensões internacionais em uma estratégia que Heitor De Paola definiu como “inversão da culpa”. Aparentemente, esta estratégia tem obtido resultados favoráveis uma vez que à medida que o conflito se prolonga, cresce o sentimento de xenofobia contra Israel e os judeus em vários países, em especial, nos países islâmicos que anteriormente haviam assinado tratados de paz ou estavam na eminência de fazê-lo como a Arábia Saudita.
Aproveitando-se da psicologia humana cuja tendência é torcer pela vitória do mais fraco, uma paródia da narrativa bíblica de Davi e Golias. O Davi é agora o Hamas com sua pedra no alforge, travestido de pastor, que adotando uma narrativa de vitimização, manipula a opinião pública internacional a seu favor. Ao adotar esta estratégia, acaba coagindo governos a se calarem ou condenar a reação israelense no que chamamos de atitude politicamente correta, em consonância com as normas internacionais de direitos humanos, fenômeno este que também atinge segmentos da mídia.
Todavia, como assevera o Prof. Hélio Gallardo, “há uma distância ou abismo que se abre entre o que se diz e o que se faz em direitos humanos,” ou seja, historicamente, o discurso acerca dos diretos humanos se constitui em uma poderosa arma utilizada pelos mais fortes contra adversários quando há conflitos de interesses geopolíticos entre países ou simplesmente para angariar uma boa imagem institucional junto à opinião pública.
Para os grupos terroristas, em geral, o importante não é a vitória, mas sim, estabelecer um estado de insegurança e vulnerabilidade permanente com o objetivo de manter viva a ideologia por meio da luta armada, baseada no radicalismo, no ódio e na vingança, enfraquecendo o adversário pela guerra psicológica, que geralmente, estão passos à frente. Isso ocorre, por não possuírem um compromisso ético e pelo caráter amoral de suas ações enquanto o outro lado é obrigado a respeitar códigos e leis. Sua força repousa na ideologia!
Neste sentido, tais grupos não podem ser erradicados totalmente como deseja Israel e sempre sairão vitoriosos frente à opinião pública internacional como o lado mais fraco e vitimizado do conflito, independente das ações que empreenderem. E como sugere os estudos de Hans Morghentau, baseado na obra de Abbé de Saint Pierre (1712), um conflito armado cria o que denominou “sentimento dos derrotados”, fazendo com que a paz seja apenas uma trégua até que surja uma nova militância com ímpeto de vingança.